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O caminho foi completamente silencioso.

Olivia, apesar da situação, dirigia o carro de Roger de forma calma. O homem estava começando a se perguntar se algum dia veria aquela mulher nervosa. Imaginava que não. Olivia exalava sabedoria e conhecimento, o que era ao mesmo tempo impressionante e assustador. Qualquer um que olhasse em seus olhos teria a sensação de que ela possui a chave para um baú com todos os segredos do universo. Talvez fosse por esse motivo que, mesmo agora, dirigindo até seu apartamento com um Roger dono de um belo hematoma no banco de carona, ela conseguia continuar firme. Isso era bom, Roger precisaria dessa firmeza.

O silêncio não foi constrangedor e não incomodava nenhum dos dois nem um pouco. Roger, na verdade, estava ligeiramente grato por ele. Sabia que ainda não estava pronto para falar, principalmente com Olivia. Precisaria de um gole de água e outro de coragem antes de conseguir raciocinar direito.

Durante a viagem, os eventos da noite passavam pela mente de Taylor como flashes de uma fotografia. Tinha ido do céu para o inferno em questão de segundos. Quando parou para pensar, chegou à conclusão de que grande parte da sua vida era assim: momentos de glória absoluta seguidos por um abismo que parecia não acabar. Uma alternação constante entre altos e baixos. Era por isso que ele bebia. E fumava. E transava. E flertava. Tudo isso era, na verdade, formas de tentar escapar de sua vida por alguns instantes, ainda que soubesse que não poderia fugir de si mesmo por muito tempo e, eventualmente, seria forçado a encarar a realidade.

De vez em quando, olhava para Olivia e a encontrava com um semblante pensativo. Nunca desejou tanto ser capaz de ler mentes.

Quando chegaram no apartamento, Roger saiu do carro, com dificuldade, antes mesmo que Olivia pudesse descer para ajudá-lo. Não queria demonstrar mais fraqueza do que já estava demonstrando. O cheiro de álcool e o olho roxo já eram o suficiente para deixá-lo envergonhado. Normalmente, isso não seria um problema. Em uma situação comum, Roger até que gostaria de ser visto nesse estado, com certeza seria algo que o renderia alguns pontos extras no quesito de masculinidade. Era um homem que bebia e se envolvia em lutas, muito bem, obrigado. Mas, o seu cenário atual era diferente. Não fazia ideia de como Olivia iria reagir àquilo e tinha medo de ter decepcionado a garota com o seu comportamento.

Olivia entrelaçou seu braço esquerdo com o direito do homem antes que ele perdesse o equilíbrio. Por alguns segundos, ficaram desse jeito, apenas encarando um o outro, em frente a um carro, no frio de uma madrugada londrina. Roger gostaria muito que essa mesma situação estivesse acontecendo em um contexto diferente. Naquele momento, no entanto, Olivia estava indecifrável. Não sabia se a mulher sentia pena, decepção, tristeza, alegria ou qualquer outra emoção que a psicologia fosse capaz de nomear. O não saber matava Roger por dentro.

— Vamos entrar, Roger — Ela disse, suspirando e finalmente desviando seu olhar dos olhos do rapaz.

Em resposta, ele apenas a seguiu. Olivia morava no terceiro andar de um prédio típico de um estudante universitário. Roger jamais tinha sido tão grato pela existência de elevadores quanto naquele instante. Se tivesse que subir as escadas, provavelmente passaria por um dos momentos mais embaraçosos de sua vida em frente à mulher mais linda de sua vida.

Ao entrar no apartamento, Olivia guiou Roger em direção ao sofá. Em seguida, retirou-se e seguiu em direção à cozinha. Voltou alguns minutos depois, com uma compressa fria numa mão e um copo de água na outra. Roger ajustou-se no sofá enquanto recebia instruções sobre como cuidar do seu olho.

— Minha colega de apartamento está viajando, eu vou arrumar algumas coisas no quarto dela e você poderá dormir lá — Disse Olivia, antes de se virar e caminhar para um corredor.

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