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— Humpy Bong?

— Humpy Bong!

Roger tinha certeza que aquilo era uma brincadeira.

Estavam no estacionamento do pub, algumas horas após o show, carregando os equipamentos para a van da banda quando Tim Staffell chamou o resto do grupo para uma conversa. Começou dizendo que era grato pela oportunidade de estar na Smile e que Roger e Brian deveriam sentir-se orgulhosos do bom trabalho que executaram até aquele ponto. Nesse momento, o baterista e o guitarrista já sabiam muito bem o rumo que aquela conversa tomaria, mas nada os havia preparado para essas duas palavras:

— Humpy Bong, Tim? — Dessa vez foi Brian que deu sequência ao eco — Não faça isso.

— Eles vão fazer sucesso! Nós sabemos que isso que fazemos não irá a lugar nenhum. Nosso maior público foi de 1200 pessoas e não temos nenhuma perspectiva de que isso vai mudar.

Roger sentiu seu sangue começar a ferver. Odiava pensar dessa forma, mas existia uma parte escondida no fundo dele que sabia que Tim estava certo. Em um ano e alguns meses de banda, não tinham conseguido nenhum avanço significativo. Durante esse tempo, criaram uma pequena coleção de seguidores que estavam dispostos a ajudar a Smile a crescer, divulgando seu nome a produtores locais e a alguns pubs, mas, apesar dos esforços, ainda estavam completamente limitados a tocar em bares e em festas de faculdade. Esperavam que, ao espalharem seu som com esses pequenos concertos, conseguiriam, eventualmente, lançar uma carreira musical de verdade.

Aparentemente, estavam errados.

— Desculpa, mas eu preciso tentar — Tim falou, com uma feição de pena estampando sua face, e saiu, deixando para trás Roger e Brian com olhares ainda perplexos.

— Dá pra acreditar nisso? — Roger parecia pronto para se envolver numa luta física.

— Calma, Rog.

— Porra, Brian! Como ele pôde fazer isso? Nós somos tudo que ele tem.

— Na verdade, pelo visto ele também tem a Humpy Bong.

O comentário irônico de Brian só aumentou a raiva de Taylor. Poderia dar um soco no amigo e não teria um pingo de arrependimento depois. No entanto, em vez disso, apenas respirou fundo e pensou. Sua irritação não era tanto pelo fato de Tim estar os trocando por uma banda com um nome tão humilhante e vergonhoso que nem merecia ser dito em voz alta, mas sim por ter sido invadido da cabeça aos pés pela sensação de fracasso. Sabia muito bem que não queria ter um emprego normal como dentista: um consultório de duas salas num canto isolado da cidade, atendendo pacientes com as mesmas queixas todos os dias só para, ao chegar em casa, afogar-se em whisky e cigarros pensando no que sua vida poderia ter sido.

Não, Roger Taylor nasceu para ser uma estrela do rock.

E agora, graças a uma decisão estúpida da qual ele tinha certeza que Tim se arrependeria, estava vendo seu sonho ser enterrado.

Estava vendo a Smile ser enterrada.

— O que faremos agora? — Perguntou depois de alguns segundos de silêncio, quando o medo e a tristeza passaram a ser maior que a frustração.

— Agora? Nada. São 3h da manhã e não acho que iremos encontrar um vocalista bom o suficiente caindo do céu.

Com isso, Farrokh apareceu na porta dos fundos com uma garrafa em mãos e um sorriso nos lábios.

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