03

926 72 152
                                    


Roger não conseguiu dormir.

Não por duas horas, pelo menos. Deitou-se em sua cama por volta das 4h da manhã e encarou o teto do quarto por mais tempo do que normalmente seria considerado saudável. Todos os eventos da noite atravessavam sua mente como um filme que alternava entre gêneros a todo momento: um musical, um romance, uma comédia, um drama. Não sabia como se sentir em relação aos episódios que aconteceram na noite. Sabia, sim, que tinha sido extremamente arrogante e grosseiro — tanto com Olivia, quanto com Farrokh — , mas, para os parâmetros de Roger Taylor, isso já era algo normal.

Então, por que dessa vez sentia algo diferente? Algo que ele ainda não conseguia descrever, mas que era forte o suficiente para fazê-lo querer gritar e se esconder de todos. Culpa, talvez? Não, Roger Taylor não tinha tempo para ter pena de si mesmo. Sempre que agia de um modo que ele sabia ser desprezível, apenas ignorava a sensação e seguia em frente, jamais pensando em tomar responsabilidade por isso. Havia sobrevivido muito bem até aqui vivendo desse jeito e não via necessidade de mudar seus modos agora. Mas, ainda assim, não sabia como seria capaz de encarar o amigo depois dos comentários feitos a respeito dele para Olivia. Não sabia como seria capaz de encarar a mulher depois de ter demonstrado o quão asqueroso ele poderia ser.

Com certeza, tinha arruinado todas as chances que talvez teria com ela. Em uma situação normal, isso não o incomodaria. Vivia segundo a ideia de que sempre tem muitos outros peixes no mar, e Roger, sem dúvidas, era um excelente pescador. Mas a ideia de perder Olivia despertou nele uma sensação de fracasso. Nas poucas interações que tivera com a loira, sentiu-se vivo de uma maneira que ele era incapaz de explicar. Seu senso de humor afiado e sua personalidade marcante estimularam o homem de um jeito que nunca antes havia acontecido. Não estava preparado ainda para desistir dela. Mesmo entre rejeições e cortadas, precisava admitir que também estava se divertindo com sua situação. Estava tão acostumado a obter com extrema facilidade qualquer mulher que desejasse que, por um momento, tinha até esquecido o quão instigante a sensação de flertar é.

Esse jogo era fácil demais para ele. Precisava de Olivia para dificultá-lo.

Claro que, agora, não faria mais diferença. Olivia certamente o odiava ao ponto de rejeitá-lo de vez, sem segundas intenções e sem deixar brechas para uma outra tentativa. Com os eventos tumultuosos da noite, nem tivera tempo de conseguir seu número ou de obter qualquer informação que o fizesse capaz de entrar em contato com ela novamente. Poderia sempre pedir algo ao Farrokh, mas provavelmente teria vergonha de explicar a situação em que se encontrava ocultando a parte em que duvidara totalmente de seu talento e capacidade.

Por fim, aceitou que aquele jogo tinha acabado.

E, infelizmente, Olivia vencera.

Quando finalmente fechou seus olhos e se permitiu adormecer, sonhou com Olivia. Olivia e Queen. Olivia e Queen e uma turnê. Olivia e Queen e uma turnê e uma pitada improvável de felicidade.

Acordou às 9h e, antes mesmo de escovar os dentes ou se arrumar, pegou o telefone para ligar para Brian. Estava sentando na beira da cama com seus pés batendo furiosamente contra o chão num ritmo continuo. Não conseguia controlar sua ansiedade e rezava para que o moreno não tivesse passado a noite na casa de Chrissie. Depois de três longos toques, Brian atendeu.

— Alô?

— Temos um vocalista! — Roger disse, mal permitindo que Brian terminasse de falar.

— Como assim, Rog? Não faz nem doze horas que o Tim saiu da banda e você já encontrou alguém novo sem me consultar?

— Eu não precisei procurar, Bri. Ele estava bem diante dos nossos olhos o tempo inteiro — Do outro lado da linha, conseguiu ouvir Brian suspirando. Ele era uma das pessoas mais responsáveis que Roger conhecia e tinha certeza que estava o julgando por fazer uma decisão tão apressada.

Play The GameOnde histórias criam vida. Descubra agora