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Olivia cresceu sabendo que não devia nada para nenhum homem.

Tinha ouvido alguém falar uma vez que o modelo de relacionamento que seguimos em nossa vida é altamente influenciado pelo modo de relacionamento dos nossos pais. Ela não sabia se isso era verdade e não se dera o trabalho de pesquisar mais a fundo, mas achava que isso poderia muito bem se aplicar à sua vida. Desde que era pequena, via que a relação entre seus pais era construída com base no respeito, ainda que só refletisse profundamente sobre esse conceito mais tarde. Seus pais não eram perfeitos — e, ao longo dos seus vinte e dois anos de história, Olivia afirmava com toda certeza que perfeição não existia —, mas sempre davam o melhor de si um para o outro e também para ela. Talvez fosse por isso que suas expectativas para relacionamentos amorosos fossem um tanto quanto altas e suas conexões fossem bem construídas, ela não se deixaria abalar por algum homem que a tratasse como uma pessoa qualquer.

Quando viu Roger Taylor pela primeira vez, sabia que ele era facilmente o tipo de pessoa que a abandonaria. Seu egocentrismo era quase palpável e sua atitude de mulherengo era absolutamente deplorável, mas, no fundo, ela sabia que tinha sido exatamente por isso que resolveu mantê-lo por perto. Era divertido demais ver Roger ter suas expectativas corrompidas quando uma mulher resistia ao seu charme, provavelmente era uma das primeiras vezes em sua vida que isso acontecia. A intenção dela nunca tinha sido transformar Roger numa pessoa melhor ou fazê-lo enxergar como seus comportamentos poderiam, eventualmente, afastar as pessoas, queria apenas ter motivos para dar risadas quando pensasse nas frustrações de um ego frágil.

Felizmente para Olivia, Roger poderia ser muito facilmente impressionável — assim como muitos dos homens que ela conhecia eram. Não foi difícil fazer com que ele se encantasse por ela: bastava uma lambida provocante nos lábios e um piscar de olhos lento para que ele estivesse em sua mão. O fato dela ser linda também ajudava, ela sabia de sua beleza e não iria negar isso apenas para não parecer arrogante ou convencida. Se Roger podia olhar no espelho e gostar de sua imagem, ela também tinha esse direito.

Com o tempo, no entanto, Olivia foi percebendo que havia muito mais em Roger do que ela originalmente enxergara. Ele era, sem dúvidas, uma pessoa com falhas. Assim como ela era e como ela sabia que todas os outros serem também. Mas Roger traçara um longo caminho de crescimento pessoal. Seu primeiro passo tinha sido aceitar seus erros, o que ela lembrava muito bem de quando tinha acontecido - o dia em que ele a procurou em seu trabalho para admitir que estava errado a respeito de Freddie. Talvez esse tenha sido o primeiro momento em que Olivia decidiu que Roger poderia fazer parte da vida dela de alguma forma.

Desde então, seu envolvimento emocional com Roger só cresceu. Desenvolveram uma amizade sincera, apesar de ela sempre saber muito bem que Roger gostaria de mais do que apenas uma amizade, que virou um caso romântico bom. Muito bom. Bom até demais. Bom ao ponto em que ela gostaria de experimentar mais vezes.

E ela poderia experimentar, se ele não tivesse tido a brilhante ideia de abandoná-la após terem dormido juntos. Naquela manhã, ela acordou enquanto Roger vestia sua calça da maneira mais cautelosa que ele conseguia. Fingiu estar dormindo quando ele abriu a porta do seu quarto e saiu. Ela sabia que ele não estava cozinhando um café da manhã romântico ou um preparando algum gesto surpresa. Estava apenas fugindo, ela tinha certeza disso. O maior problema em Roger Taylor tê-la deixado sozinha após transarem não era o ato em si, mas as implicações por trás dele. Olivia sabia que Roger era uma pessoa extremamente insegura, mas achava que o tinha convencido a enfrentar seus medos ao longo do tempo em que passaram juntos. Contudo, quando ele decidiu que não tinha coragem o suficiente para acordar ao lado de uma mulher com quem ele tinha se envolvido — em um nível físico, mas ambos sabiam que também emocional —, Olivia sentiu que tinha fracassado em sua missão de transformá-lo numa pessoa mais confiante.

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