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Roger começou a achar que estava feliz.

Para ele, ainda era estranho achar possível sentir-se desse jeito sem nenhuma influência de álcool, cigarro ou sexo, e, por isso, provavelmente ainda levaria um tempo até que ele se sentisse numa posição confortável o suficiente para admitir sua felicidade. Durante sua vida inteira, isolar-se em sua bolha de tristeza e autodepreciação tinha sido muito mais fácil do que ir em busca de algo a mais. Pode parecer contraditório, mas, em muitos momentos, ele tinha a sensação de que não ser feliz dava muito menos trabalho do que ser. Seus hábitos estavam começando a mudar — junto com sua crença interna de que ele não era digno de amor —, mas, se Roma não foi construída em um dia, não seria em um dia que Roger Taylor passaria a aceitar seus sentimentos positivos.

Ainda assim, estava sorrindo enquanto preparava sua bateria num palco improvisado na casa de Freddie. O cantor tinha resolvido dar uma festa de ano novo em sua residência, dividindo as despesas entre o resto da banda. Para reduzir os gastos, optaram por eles mesmos tocarem durante uma parte da festa e decidiram alternar entre discos durante o resto. Pelo dinheiro que tinham gastado, Roger sabia que podia esperar uma festa grande. Tinha debatido com Freddie se algo de grandes proporções era realmente necessário, ainda mais sendo organizado por quatro jovens sem as melhores condições financeiras, e ele, com seu jeito exagerado de sempre — pelo qual Roger se afeiçoava cada vez mais — respondeu e insistiu que sim. Roger sabia que, quando Freddie queria algo, ele sempre conseguia, não havia porquê tentar ir contra ele nessa ideia. Freddie também havia dito que tinha notícias boas para a banda, mas que esperaria até a festa para anunciar, o que deixou Roger em partes iguais animado e nervoso.

Era cerca de cinco da tarde quando terminaram de fazer uma breve passagem de som. Sendo uma festa entre amigos, não estavam tão nervosos assim pensando no nível da apresentação ou em seus detalhes minuciosos. Quando começassem o show, realizado entre amigos, todos provavelmente estariam embriagados demais para se importarem com o nível técnico do som que ouviam, mas, mesmo assim, a banda sabia que Queen tinha um padrão de qualidade que insistiam em seguir sempre.

Brian tirou a guitarra do seu corpo e a guardou em uma caixa.

— Então, você realmente não vai nos contar a notícia que tem? — Perguntou, tirando o microfone das mãos de Freddie.

— Ainda não, mas eu já disse que vocês saberão ainda hoje. Não tentem apressar — Freddie respondeu, com malícia em seus olhos. Ele sabia muito bem que estava brincando com os nervos dos outros integrantes e parecia estar se divertindo com isso.

— Eu odeio isso — John falou, dando batidas com os dedos em seu baixo — Você sabe como eu fico nervoso.

Brian colocou um braço ao redor de Deacon, puxando-o para perto de si num gesto reconfortante.

— Ei, Deacy, isso está sendo uma tortura para todos nós.

— O Roger não parece estar tão incomodado — Freddie disse, chamando a atenção para o baterista.

Ao ouvir seu nome, Roger pareceu sair de um transe. Levantou a cabeça rapidamente, tirando os olhos das baquetas em sua mão e erguendo uma sobrancelha, confuso. Seus amigos deveriam ter notado o quão distante ele estava, pois deram uma gargalhada ao perceberem a confusão na sua face. Normalmente, ele odiava ser o motivo de risadas, mas precisaria primeiro saber com o que exatamente estavam fazendo piadas.

— Terra para Roger — Brian falou, fazendo sua melhor imitação de um astronauta e arrancando mais risos dos seus companheiros.

— O que foi?

— Estávamos falando sobre como eu e John estamos ansiosos pelo suposto anúncio do Freddie, mas você não parece nem um pouco preocupado — Brian sorria de um modo que deixou Roger um tanto quanto assustado. — Na verdade, se meus olhos não me enganam, você estava era sorrindo.

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