15 de novembro, 1969
Roger Taylor soltou um audível suspiro e esfregou os olhos antes de olhar para o relógio ao lado de sua cama.
2:17 PM
Merda.
Havia marcado de se encontrar com Brian May e Tim Staffell às 13h, no pub onde iriam se apresentar pela noite. A essa altura, era impressionante que May não houvesse ainda se dirigido à casa do loiro para arrastá-lo até o ensaio por si só.
Com um esforço, lembrou-se da noite anterior. Tinha sido convidado para uma festa na casa de um amigo da faculdade que durou um pouco mais do que o planejado. Na empolgação coletiva em que se encontrava, perdeu a noção do tempo e acabou se deixando levar pelo êxtase do momento. No auge dos seus 20 anos, Roger tentava - e, em parte do tempo, conseguia - demonstrar responsabilidade com a sua banda, Smile, mas jamais negaria ter um ponto fraco por álcool e mulheres. Aliás, falando em mulheres...
Será que...?
Virou o rosto levemente para o lado esquerdo da cama e viu uma silhueta encoberta por cabelos longos e escuros. Droga, qual era o nome dela mesmo? Samantha, Scarlett? Algo com um S. Levantou-se com cuidado para não acordar a garota. Com certeza não teria tempo ou dignidade para conversar com ela naquela situação, então apenas torceu mentalmente para que, em algum dos momentos da noite que estavam apagados da sua memória, ambos tivessem estabelecido que aquilo seria um caso de uma só vez. Sabia muito bem que deveria se sentir horrível por isso, ainda mais considerando que não era a primeira vez em que algo do tipo acontecia. Talvez um dia ele virasse o príncipe romântico dos filmes, mas esse dia não seria hoje.
E, no momento, sua ressaca física era maior que a moral.
Caminhou até o banheiro em passos lentos e tomou um breve banho. Quando saiu, olhou no espelho e teve orgulho do que viu, como sempre costumava ter. Era um canalha, claro. Mas pelo menos fazia isso com classe.
Após se arrumar e sair do banheiro, viu que a menina continuava dormindo. Fez um leve agradecimento direcionado ao céu e deixou o quarto, rezando para que ela não houvesse bebido tanto quanto ele.
Entrou no seu carro e dirigiu até o local onde encontraria a banda. Sabia que Tim provavelmente estaria irritado com seu atraso e que Brian com certeza estaria decepcionado, mas nem um pouco surpreso.
Roger gostava de estar na Smile. Era a primeira vez em que, finalmente, havia percebido que seu talento para tocar bateria poderia ser realmente usado para algo relevante em seu futuro. Era bem possível que seus pais ficassem decepcionados em saber, mas a faculdade de odontologia nunca fora atraente para ele. Música era sua paixão e, com essa banda, ele conseguia ver que podia tirá-la do plano de idealização e transformá-la em realidade.
Abriu a porta do pub e encontrou May praticando o seu solo. Ele era muito bom no que fazia e Roger estava disposto a brigar com qualquer pessoa que discordasse. Quando o viu, Brian parou e lançou o olhar de desapontamento que Taylor já esperava.
— Eu sei, eu sei — disse, jogando as mãos para o alto em um gesto de rendição. - Me desculpa, não vai acontecer novamente.
— Disso eu duvido — falou Tim, saindo de trás de um balcão, trazendo consigo duas garrafas d'água.
— Pra ser sincero, eu também — Roger respondeu, pegando com facilidade uma das garrafas jogada em sua direção.
Não havia porquê negar que Roger provavelmente perderia a hora mais uma vez ou outra - todos sabiam disso. Era um festeiro nato e seus companheiros estavam ciente desse traço. Não significava que não se importava com a banda ou que não levava seu trabalho a sério. Brian e Tim viam de perto o quanto Taylor se esforçava para sempre dar o melhor de si, por isso ficava muito mais fácil perdoar seus deslizes.
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Play The Game
Hayran KurguNão havia nada que Roger Taylor quisesse mais do que aquilo que ele não consegue ter. Por isso, sentia-se intrigado e desafiado quando aquela garota misteriosa não caiu automaticamente seu charme. Com o tempo, ambos descobririam que dois podem jogar...