Capítulo 9 DEGUSTAÇÃO DISPONÍVEL NA AMAZON

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DEGUSTAÇÃO DISPONÍVEL NA AMAZON

            Não era uma cena inusitada ver Sérgio sentado em frente aos caixas, administrando o seu império mercantil e tomando chimarrão enquanto conversa com todos os funcionários e clientes. E nem incomum ver ele com a cacatua no seu ombro, gritando como uma desesperada. Marina o chamava de dindo Sérgio Pirata.

Sérgio gostava de acordar cedo, antes mesmo dos primeiros raios de sol aparecerem no horizonte. Fernanda detestava essa particularidade do marido, ainda mais por ele não ser uma pessoa dotada de sutilezas. Sérgio acordava e não conseguia deixar Fernanda vulnerável ao seu lado, ele tinha que dar um jeito de fazê-la acordar, nem que fosse para expulsá-lo do quarto para ela dormir e acordar num horário normal para uma pessoa.

Depois de ser expulso pela esposa, Sérgio passava pela segunda parte da sua rotina: verificar os filhos. Entrava no quarto deles, sem cerimônia nenhuma. Fruto de um certo Ricardo trancando em um dos banheiros e tentando tirar a própria vida, desde então, Sérgio tirou as chaves e trancas de todas as portas internas da casa e as colocou no lixo. Não tolerava nenhuma porta trancada.

O primeiro a ser verificado era Inácio, o mais velho. Seu filho de coração, mas que não havia teste biológico do mundo que falaria o contrário. De fato Inácio era seu filho, reconhecido judicialmente e com todos os direitos legais como se fosse um filho de sangue. Ele sempre dormia com a metade do corpo descoberto ou com um travesseiro em cima da cabeça. Sérgio o cobria, desligava o computador que ele sempre deixava ligado, junto com a TV e tinha a nítida impressão que já estava ficando velho o suficiente para ver o filho daquele tamanho em cima da cama. Parecia que tinha sido ano passado que Inácio começou a correr de fralda pelo pátio e com os joelhos ralados.

Saia do quarto de Inácio e entrava em um mundo completamente diferente, com inúmeras bonecas e brinquedos cor-de-rosa em todos os cantos. Sofia, ou Fifi, era a princesinha da casa, a mais nova e tão mimada quanto Fernanda deixava ela ser. Sérgio levava um tempo até encontrar a filha no meio de tantos cobertores rosas, ursos e outras coisas que Sérgio nem sabia denominar. A encontrava sempre de uma forma diferente, ou atravessada, de ponta cabeça e até mesmo na posição certa. Beijava os cabelos da filha até ela se mexer, mas nunca para a acordar, Fernanda o mataria se fizesse aquilo.

E quando Ricardo estava em casa, ele fazia a mesma coisa. Independentemente se ele estivesse casado com Beatriz e com um filho. Ou Jonathan com Paula e os gêmeos. Toda a vez que alguém estivesse sobre o teto de Sérgio, ele iria entrar nos quartos e verificar todos que ali estiverem. Era uma regra que todos estavam inclusos.

Saia de casa com os primeiros raios de sol, caminhava pela rua, já cumprimentando todos que passavam pela sua frente. Abria o mercado, começava a esquentar os fornos para a produção dos pães e doces da padaria, abria o depósito para as entregas e logo que os primeiros funcionários começavam a chegar, Sérgio já estava com tudo encaminhado.

Os anos comandando o mercado levou Sérgio a conhecer cada um dos detalhes do mercado, desde os mais simples aos mais complexos. Se qualquer funcionário faltar, Sérgio era capacitado para fazer o seu trabalho. Aprendeu com o seu pai quando era criança e muito o ajudou a limpar os corredores do pequeno mercado que começou tudo, aos poucos foi aprendendo a fazer a massa dos pães aos cortes de carne no açougue. Era uma coisa muito bem vista pelos funcionários e clientes encontrarem Sérgio descarregando as mercadorias, repondo nas prateleiras ou até mesmo atendendo na padaria.

Fernanda era a parte mais cerebral do mercado. Ela também conhecia cada canto daquele mercado, em todos os setores e tudo que se passava nos bastidores para o bom funcionamento dele. Mas preferia o escritório, a parte de estoque, compra e encomendas para nada faltar. Eram uma dupla e tanto.

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