Capítulo 4 DEGUSTAÇÃO DISPONÍVEL NA AMAZON

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DEGUSTAÇÃO DISPONÍVEL NA AMAZON

 — Vamos repassar mais uma vez! — Liana gritou para Richard. Ela estava sentada em cima do balcão com as pernas cruzadas e balançando os pés.

— Nem morto. — Gritou Richard pegando uma garrafa de água. — Tenho amor à minha vida e tenho cirurgia marcada para semana que vem. Não gosto de deixar meus pacientes na mão. E segunda tenho um consultório cheio de crianças chorando e mães desesperadas.

Liana revirou os olhos.

Dividir o consultório com Richard era sempre a certeza de ter histórias para contar. Como aquela vez em que três crianças vomitaram, ao mesmo tempo ou das mães que brigaram, pois dividiam o mesmo pai das crianças. Já era de praxe Richard, com aquele jaleco de super-herói entrar no seu consultório e pedir uma pequena ajuda. Liana adorava segurar crianças para as injeções.

— Tudo está em perfeito estado, Li. — Richard tomou um pouco da água e entregou a garrafa a ela, que negou com a cabeça. Se Liana fosse beber aquela noite, seria uma coisa bem forte. — Até o Kado e o John já deram o ok deles para tudo. Se eles aprovaram, quem será o louco que vai dizer que algo está errado?

Liana bufou. Detestava quando Richard fazia aquelas brincadeiras e ainda ria na cara de Liana.

Ela estava nervosa. Só perdia para o dia em que Marina nasceu. Nenhum outro dia da sua vida seria igual àquele. A impotência de não estar no controle do que aconteceria e nem ninguém poder lhe dar a certeza de que ela e Marina sairiam com vida da cirurgia. O medo maior de perder Marina e continuar viva, ver que todo o esforço que passou foi em vão. E o de não sobreviver sem conhecer a própria filha. Se ela colocasse em uma balança, não conseguiria dizer qual dos três cenários era o pior.

Ela e Richard estavam prontos para abrirem as portas do bar. Richard, com a alma de um cirurgião estava tranquilo. Ou como dizia Sérgio, mais tranquilo do que água de poço, ninguém conseguia tirar ele daquele estado quando entrava nele. Nem precisa comentar o quanto Liana detestava aquele modo de Richard.

— Só porque tu está tranquilo, não quer significar que eu precise estar também. Essa é a nossa primeira noite, se uma coisa der errado, tudo vem à baixo. Tu entende isso, Matz?

Richard sorriu enquanto tomava mais um pouco da sua água.

— Li, amorzinho da minha vida. — O médico passou os braços ao redor de Liana. Ela era alta, e ambos se encaixavam bem. — Não adianta ficar assim, não temos como prever o que vai acontecer. Se fizermos tudo certo, vai sair tudo certo. Ficar com isso na cabeça abre chances para fazermos alguma coisa errada.

— Tu fala isso como se fosse fácil. — Ela suspirou enquanto respirava o perfume de Richard.

Ele sempre foi vaidoso e Liana ainda se recordava do primeiro dia dos namorados deles. Ele, no último semestre da faculdade de medicina, morando de favor na casa do pai e sem nenhum tostão no bolso. Deu para ela uma rosa, que ele havia roubado dos jardins do pai, que Liana guardou dentro de um dos seus livros até ela secar e enquadrar. Hoje estava na sua sala. Deu para ele um perfume, Richard parecia uma criança na manhã de natal, e ficou sabendo que aquele tinha sido o primeiro presente de Richard em toda a sua vida.

Até hoje, em todas as datas presenteáveis, Liana fazia questão de comprar uma coisa boa para Richard, e ele ainda tinha a mesma reação. Quando era natal, ele e Marina ficavam na mesma expectativa dos presentes.

— É fácil, tu que é uma cabeça dura que gosta de ter o controle de tudo e todos à tua volta. Relaxa e vamos aproveitar a noite, ela é nossa também.

Linha Reta DEGUSTAÇÃO DISPONÍVEL NA AMAZONOnde histórias criam vida. Descubra agora