Meu amigo me acompanha até em casa.
Não falei muito desde que saímos da ponte, e ele não forçou. Me conhece a tempo suficiente para saber quando eu quero e quando eu não quero conversar.
Estamos andando com uma lentidão exagerada. Não sei se é porque aquela casa me lembra eles ou se eu só quero evitar uma briga com a Kat; acho que os dois.
— Para onde nós vamos? — levanto a cabeça e olho para ele. Por um momento me esqueço da viagem — Para que lugar inusitado nossa Mia está querendo me levar?
— Ah — fixo o olhar no chão, tentando pensar em um lugar que eu sempre quis ir, mas não consigo pensar em nada.
Meu irmão sempre viajava com os amigos, na maioria das vezes iam para shows em Portland ou em Seattle. São os únicos lugares perto o suficiente que minha mãe deixava ele ir.
— Não sei — ele parou e eu também — Sua mãe não vai deixar você ir pra tão longe e sozinha é que eu não vou, então que tal um lugar perto? Onde sua mãe poderia ficar tranquila?
Ele pensa por um minuto e assente.
— Então onde você sugere?
— Portland? — ele assente com um sorriso.
— Meu irmão pode hospedar a gente, não vai ser problema. — ele parece bem animado, diferente de mim que me sinto muito incomodada — Ele sempre diz que tem uns pubs lá que tem shows ao vivo.
— Sabe que tenho dezesseis anos, não é? — ele dá de ombros — Não vão me deixar entrar em um desses.
— A gente dá um jeito — ele passa um braço pesado pelo meu pescoço e me faz voltar a andar — Garanto que vamos nos divertir nessa viagem.
Fico calada.
♦️
Ouço o som da TV ainda na porta de casa.
— Tem certeza que não quer que eu entre? — balanço a cabeça e o abraço — Se cuida tá? E me liga para falarmos da viagem.
— De tarde eu ligo, tenho que conversar com ela primeiro. — ele assente e hesita em ir embora — Eu vou ficar bem.
Dá para perceber que ele não quer ir, que está com medo de me deixar sozinha com ela.
Respiro fundo e abro a porta.
Como eu imaginei, ela está perfeitamente arrumada com sua calça jeans azul claro e uma camisa de gola e mangas compridas, com os primeiros botões abertos.
Mas ela não vai sair.
— Onde estava? — mais uma vez, não vejo preocupação em sua voz — O Gus veio aqui te ver.
— Eu sei — fui até a cozinha e peguei um copo de água — A gente se encontrou na rua.
Me viro para olhá-la. Seu cabelo está preso em um rabo de cavalo alto e ela está remexendo na bolsa sem parar.
— Vai sair? — me arrependo na mesma hora de ter perguntado.
— Não é da sua conta. — não tem agressividade em sua voz, é pela força do hábito que ela responde.
— Tem razão — ela para e me olha diretamente pela primeira vez no dia. — Preciso de um favor seu.
Ela quase ri da minha cara, mas segura.
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Deixe-me Ir / PARADO
Подростковая литература[GATILHO] [SUICÍDIO] Algumas feridas, nem mesmo o tempo é capaz de curar. Mia é rejeitada pela mãe desde a morte de seu irmão mais velho, e após perder seu pai, ela não vê motivos para continuar. Sozinha e desesperada, ela não encontra motivos par...