Capítulo 7

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Digo a mim mesma que não é uma boa ideia, que vou acabar me machucando no final de tudo isso, mas a curiosidade é maior.

A cafeteria não é muito longe da casa do Jacob, mas mesmo assim fico cansada. Ultimamente ando sempre cansada.

Hesito na porta. Mal me lembro da última vez que entrei em um lugar desses, e não tenho certeza de que quero lembrar.

Um casal todo agasalhado passa por mim, e o ar quente acompanhado do cheiro de café e comida bate direto no meu rosto. Sinto meu estômago roncar.

Desde quando eu não como algo sólido? A última coisa que eu coloquei na boca foi o café forçado de hoje de manhã.

Sinto meu celular vibrar no bolso e me assusto.

Gus: Já mudou de ideia?

Sorrio de lado.

Mia: Ainda não.

Guardo o celular outra vez e coloco as mãos nos bolsos do casaco e afundo a cabeça no cachecol. Está muito frio e apesar de eu estar com calça e roupa para o clima ainda estou batendo queixo, e o calor da cafeteria é bem tentador.

Suspiro e balanço a cabeça. Foi um erro ter vindo.

Mal me afasto da porta quando eu o ouço. Senhor, eu sei que não tenho sido muito boa, mas custa me dar uma ajudinha?

- Mia? - me viro lentamente, com um sorriso amarelo no rosto - Pensei que não viria.

Respiro fundo e volto para a porta da cafeteria, onde ele me olha com um sorriso alegre.

Seus olhos estão parcialmente cobertos pelo cabelo.

- Eu também - seu sorriso se torna sem graça e eu rio. Olho para o violão nas costas dele e levanto uma sobrancelha - Você toca?

Ele olha para o violão e depois para mim, parece desconcertado.

- Toco, só não sou muito bom - ele coça a cabeça e vários flocos de neve caem - Vamos?

Olho mais uma vez para as portas de vidro. As pessoas lá dentro parecem felizes, com suas famílias, filhos, namorados, maridos, todas têm algum motivo para comemorar alguma coisa. Eu não.

- Mereço a chance de me redimir, não é? - olho para o Adam. Seus olhos estão suplicantes, igual hoje mais cedo. - Por favor, Mia.

Suspiro.

- Tudo bem. - ele sorri outra vez e abre a porta para mim. O cheiro e o calor me invadem outra vez.

Assim que passo pela porta sinto que todos os olhares estão em mim, que eles de alguma forma sabem e me julgam por isso. Dou alguns passos para trás e acabo batendo nele.

- Opa - Adam segura meus ombros - Você está bem?

Faço que sim e peço desculpas.

Ele me guia até uma mesa vazia longe das pessoas. O mais estranho é que o lugar parece ter vista privilegiada para um pequeno palco. Olho de esguelha para ele.

- Eu pensei que não viria, mas ainda tinha esperanças - ele sorri e eu acabo sorrindo também - Vou pedir o especial de hoje e vou para o palco, conversamos depois. Okay?

Ele sai antes que eu diga que não vou comer nada. Aqui faz calor e tiro o cachecol e o casaco, ficando apenas com a blusa de mangas de baixo.

Minutos depois uma garçonete aparece, trazendo um café numa xícara e uma torta.

Deixe-me Ir / PARADOOnde histórias criam vida. Descubra agora