Minha atenção está totalmente focada no copo a minha frente. Tento me controlar, não ter outro ataque como o de alguns minutos atrás, mas é quase impossível. Estou devastada, arrasada, quebrada; queria fechar meus olhos agora não abri-los nunca mais.
Eu pensei que a dor não poderia piorar, eu estava errada. Sinto a dor que meu irmão sentiu, sei o que ele passou sem que eu pudesse fazer alguma coisa, e ainda é a dor que ele está causando em mim agora.
Cada sentimento, alegria, dor, raiva... Nada é como antes. Antes eu me sentia perdida, mas agora, é como se eu já estivesse morta.
— Mia? — olho para o Adam. Ele passa as mãos pelos braços para se aquecer já que eu estou com seu casaco — O que foi que aconteceu? O que fizeram com você?
Esboço um sorriso vazio.
— O que fizeram comigo? — minha voz sai rouca — Apenas terminaram o serviço.
— Que serviço? — olho no fundo dos seus olhos azuis, mas não respondo — Mia, isso não é normal. Você não está bem, dá pra ver isso — continuo em silêncio — Pode me contar o que aconteceu. Confia em mim.
Confia em mim?
Fecho os olhos.
Penso por um segundo. Estou tão sobrecarregada, tão desesperada que preciso desabafar com alguém. Mesmo que isso não vá fazer nenhuma diferença.
— Meu irmão — começo — Você sabe que ele... Ele.. — o nó volta a se formar na minha garganta, me sufocando — Não foi um acidente. Meu irmão não caiu de lá.
— Então, o que aconteceu? — ele segura minhas mãos frias e aperta levemente, retribuo o aperto.
— Ele cometeu suicídio — arfo — Meu irmão se matou e eu não fiz nada. Não pude ajudar.
Não pude salvar meu irmão... Eu não pude... Eu...Volto a chorar, mas sem soluçar dessa vez. É um choro silencioso e esses são os piores.
— Ele deu sinais — sinais que eu também estou dando — Mas eu não vi. Não percebi que meu irmão precisava de ajuda. Não corri para segura-lo quando percebi que ele não iria sair. Eu não fiz nada... Não fiz nada.
Quando menos espero, ele solta minhas mãos, sai do seu lugar e se senta ao meu lado. Logo em seguida ele puxa minha cabeça para o seu peito e me envolve em outro abraço.
Não tento me soltar.
— Não foi culpa sua — ele sussurra. Me lembro do meu pai me falando a mesma coisa, mas na época eu não sabia que podia ter salvo meu irmão. — Você não podia ter feito nada.
— Como você sabe? — solto — Ele era meu irmão, eu tinha o dever de conhecê-lo, de saber quando ele não estava bem!
— Se ele planejou o suicídio, você não tinha como saber — fico calada — Quem quer fazer isso, sabe esconder. Eles fingem que está tudo bem para as pessoas mais próximas, aqueles que amam, para que não sofram. Sei disso...
Eu também sei. Estou fazendo isso com o Gus, com a Milene, o Jacob e com o Adam. Estou fazendo isso com todos, para que não sofram e nem me façam sofrer mais.
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Deixe-me Ir / PARADO
Novela Juvenil[GATILHO] [SUICÍDIO] Algumas feridas, nem mesmo o tempo é capaz de curar. Mia é rejeitada pela mãe desde a morte de seu irmão mais velho, e após perder seu pai, ela não vê motivos para continuar. Sozinha e desesperada, ela não encontra motivos par...