Capítulo 14

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Sessenta dias antes

Passei os últimos dois dias trancada no quarto. Não comi, nem bebi nada, apenas deitada pensando no que levaria meu irmão a cometer suicídio.

Ele era feliz, sempre sorria, alegre, fazia brincadeiras com tudo. Não entendo o que faria ele desistir de tudo, e olha que eu sei do que falo.

Suspiro e me sento de uma vez na cama, fazendo meu cabelo cair no rosto.

Meu irmão não deu nenhum sinal, se não eu teria percebido. Eu conhecia meu irmão tão bem quanto a mim mesma, teria visto qualquer se ele não estivesse bem.

Mas... E se eu não vi? E se meu irmão foi capaz de me enganar? Eu tinha que ter visto. Eu precisava salvar o meu irmão.

Me levanto da cama e calço minhas botas. Se meu irmão pretendia se matar, ele tem que ter deixado alguma coisa, um bilhete, uma carta ou qualquer outra coisa. E só pode estar em um lugar.

O problema é que eu não entro lá a cinco anos.

Respiro fundo antes de entrar no quarto, minha mão pairando sobre a fechadura. Meus dedos tremem, mas não por frio.

Minha mãe trancou o quarto dele assim que ele foi enterrado, mas destrancou quando entendeu que eu não entraria, mas hoje eu preciso.

Giro a maçaneta e a porta se abre. Fico estática. Está tudo igual, do jeito que ele deixou.

Meus olhos se enchem de lágrimas instantaneamente e minhas pernas ficam bambas.

Dou o primeiro passo e quase caio. O segundo é tão difícil quanto o primeiro, mas pelo menos já estou dentro do quarto.

Seguro as mangas da blusa que visto na palma das mãos para que não fiquem tão molhadas, mas não impede que minhas mãos tremam.

Na parede tem um pôster escrito: I'm right here. Eu me lembro dele, de quando a Kat mandou ele jogar fora mas o Alan bateu o pé e o colocou na parede. Ele ganhou, é claro.

- Eu estou bem aqui - sussurro. - Estou aqui, Alan.

As lágrimas ainda não caíram, mas não vão demorar muito agora então tenho que procurar alguma coisa agora.

Respiro fundo e começo a andar pelo quarto. Parece que minha mãe andou limpando, as coisas estão bem cuidadas e nada fora do lugar.

Começo pelas gavetas onde ele guardava as coisas que ele gostava. Pego uma revista em quadrinhos da época. As folhas ainda estão brancas, mas não parecem novas. Sorrio ao lembrar dele lendo essas revistas.

Ainda na gaveta, tem o livro preferido dele. Minha visão fica mais embaçada ainda quando o pego. Fui eu quem o dei para ele, no seu aniversário de dezesseis anos.

Me sento na cama e começo a folhear o livro, não para procurar alguma coisa, mas sim para me torturar, lembrar dos momentos que ele leu esse livro perto de mim.

Alguma coisa cai de dentro do livro, me abaixo para pegar.

É uma foto, estamos só nós dois nela. Meu cabelo está solto e meu sorriso é verdadeiro, meu irmão sorri com os braços passando sobre o meu pescoço e eu seguro sua mão. Eu me lembro desse dia.

Começo a chorar.

Essa foto... Eu tinha uma cópia, mas ela sumiu. Não sei onde eu a guardei, ou se alguém a jogou fora.

Deixe-me Ir / PARADOOnde histórias criam vida. Descubra agora