Setenta e dois dias antes
Tudo começou alguns meses após o Alan morrer, quando a paranóia da minha mãe começou a ter efeito sobre mim.
No início era só um pequeno monstro sussurrando no meu ouvido. Ele ficou escondido no começo, só me dizendo coisas que eu enfiava na cabeça e ninguém conseguia tirar, fazendo eu me torturar, depois começou a interferir na minha vida.
Comecei a não sair de casa, ficava mais sozinha do que antes e as vezes não deixava nem o Gus se aproximar.
Ele foi o primeiro a perceber que eu não era mais a mesma, que a Mia estava morta e que um monstro tomou o lugar.
- Cadê você? - ele me perguntava.
- Eu estou aqui - era a minha resposta. Na época talvez ainda fosse eu, perdida, mas ainda eu. Hoje eu já não sei.
Agora, sentada no sofá da sala do Jacob, com o som de videogame de guerra e as exclamações dos dois a cada recorde que batem, ainda não sei se sou eu.
Hoje não está nevando, mas faz frio e tenho um cobertor em cima de mim.
Milene também tem. Ela olha pela mesma janela que eu, parece perdida em pensamentos e me pergunto onde ela está?
Desde que eu voltei ela tem estado estranha, não sei o que pode ter acontecido, mas ela parece mais aérea e menos alegre.
Como se o que aconteceu comigo afetasse ela diretamente.
- Mia - me viro lentamente. - Por que não joga com a gente?
Encaro meu amigo em silêncio. Minha ida ao hospital fez com que nós dois brigassemos e eu odeio brigar com ele, mas fazer o que?
Dou de ombros.
- Por que não? - me levanto devagar. Meu corpo ainda dói mas já não sinto tanta fraqueza.
Me sento no lugar do Gus e ele me entrega a manete.
Não me lembro da última vez que joguei, mas ainda sinto como se fosse natural.
- Vou pegar leve com você - Jacob sussurra.
- Melhor não - Gus diz - Não a subestime, irmão.
O jogo começa e minha atenção foca totalmente no jogo. Mato a todos que entram na minha frente, e estou me saindo melhor do que o Jacob.
Mal escuto a campainha tocar. Em seguida ouço passos mas não olho para trás e nem fico curiosa para saber quem é, e nem preciso.
Apenas o som da risada ao ouvir os xingos do Jacob, já era o suficiente para que eu soubesse quem era.
Pareceram minutos, mas se passou quase uma hora até que o jogo terminasse e eu pudesse me virar.
- Mas... Como? - olho para o Jacob, ele está triste, não, ele está arrasado. A expressão de cachorro abandonado é tão engraçada que não consigo evitar e começo a rir.
- Eu avisei - Gus se junta a mim e começa a rir, logo depois todos riem menos o Jacob.
A risada dele é como se estivesse cantando e não resisto a vontade de olhá-lo.
Adam olha para mim com um sorriso verdadeiro no rosto, assim como eu. Seus olhos estão tão azuis quanto antes e seu cabelo bagunçado.
"Você está bem?"
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Deixe-me Ir / PARADO
Fiksi Remaja[GATILHO] [SUICÍDIO] Algumas feridas, nem mesmo o tempo é capaz de curar. Mia é rejeitada pela mãe desde a morte de seu irmão mais velho, e após perder seu pai, ela não vê motivos para continuar. Sozinha e desesperada, ela não encontra motivos par...