Capítulo 10

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Setenta e dois dias antes

Tudo começou alguns meses após o Alan morrer, quando a paranóia da minha mãe começou a ter efeito sobre mim.

No início era só um pequeno monstro sussurrando no meu ouvido. Ele ficou escondido no começo, só me dizendo coisas que eu enfiava na cabeça e ninguém conseguia tirar, fazendo eu me torturar, depois começou a interferir na minha vida.

Comecei a não sair de casa, ficava mais sozinha do que antes e as vezes não deixava nem o Gus se aproximar.

Ele foi o primeiro a perceber que eu não era mais a mesma, que a Mia estava morta e que um monstro tomou o lugar.

- Cadê você? - ele me perguntava.

- Eu estou aqui - era a minha resposta. Na época talvez ainda fosse eu, perdida, mas ainda eu. Hoje eu já não sei.

Agora, sentada no sofá da sala do Jacob, com o som de videogame de guerra e as exclamações dos dois a cada recorde que batem, ainda não sei se sou eu.

Hoje não está nevando, mas faz frio e tenho um cobertor em cima de mim.

Milene também tem. Ela olha pela mesma janela que eu, parece perdida em pensamentos e me pergunto onde ela está?

Desde que eu voltei ela tem estado estranha, não sei o que pode ter acontecido, mas ela parece mais aérea e menos alegre.

Como se o que aconteceu comigo afetasse ela diretamente.

- Mia - me viro lentamente. - Por que não joga com a gente?

Encaro meu amigo em silêncio. Minha ida ao hospital fez com que nós dois brigassemos e eu odeio brigar com ele, mas fazer o que?

Dou de ombros.

- Por que não? - me levanto devagar. Meu corpo ainda dói mas já não sinto tanta fraqueza.

Me sento no lugar do Gus e ele me entrega a manete.

Não me lembro da última vez que joguei, mas ainda sinto como se fosse natural.

- Vou pegar leve com você - Jacob sussurra.

- Melhor não - Gus diz - Não a subestime, irmão.

O jogo começa e minha atenção foca totalmente no jogo. Mato a todos que entram na minha frente, e estou me saindo melhor do que o Jacob.

Mal escuto a campainha tocar. Em seguida ouço passos mas não olho para trás e nem fico curiosa para saber quem é, e nem preciso.

Apenas o som da risada ao ouvir os xingos do Jacob, já era o suficiente para que eu soubesse quem era.

Pareceram minutos, mas se passou quase uma hora até que o jogo terminasse e eu pudesse me virar.

- Mas... Como? - olho para o Jacob, ele está triste, não, ele está arrasado. A expressão de cachorro abandonado é tão engraçada que não consigo evitar e começo a rir.

- Eu avisei - Gus se junta a mim e começa a rir, logo depois todos riem menos o Jacob.

A risada dele é como se estivesse cantando e não resisto a vontade de olhá-lo.

Adam olha para mim com um sorriso verdadeiro no rosto, assim como eu. Seus olhos estão tão azuis quanto antes e seu cabelo bagunçado.

"Você está bem?"

Deixe-me Ir / PARADOOnde histórias criam vida. Descubra agora