Setenta dias antes
Observo a neve caindo. Cada floco é um momento, cada momento é uma história, cada história é uma vida, uma pessoa, um grito no vazio.
Ouço meu próprio grito, meu apelo que não foi ouvido; vejo minha própria história, minha vida, os momentos tristes e felizes que eu vivi.
Por um instante tudo desaparece. Sou só eu, a neve e o meu grito.
Como minha vida seria se tudo fosse diferente? Será que eu e meu irmão ainda estaríamos juntos? Ou ele iria me abandonar? Meu pai ainda estaria vivo? Estaria bem?
Eu estaria bem? Nunca vou saber.
É incrível como tudo isso se passa na minha mente dentro de alguns minutos, só até o Gus voltar a falar:
— Mas que tipo de lugar é esse? — ele eleva a voz, fazendo com que eu me assuste — Música! Queremos música!
— Cale a boca! — dou uma cotovelada nele e ele se encolhe, gemendo — Onde você pensa que está? Na rua?
— Não, mas silêncio é uma coisa que não existe aqui no momento — sou obrigada a concordar. A cafeteira/biblioteca que o Adam me trouxe aquele dia está lotada e todos gritam — Afinal, quando ele vai entrar?
Dou de ombros.
Milene bufa e ajeita o cabelo mais uma vez. Ultimamente ela tem andado bem estressada e nós é quem temos pagado.
— Paciência — Jacob diz, tanto para o irmão quanto para a Milene — Isso não é um bar ou um show comum, isso é uma apresentação em uma cafeteira.
Gus ri debochado.
— Diz isso pra elas — ele aponta para as garotas – adolescentes e jovens – gritando no pé do palco improvisado — Ele é bem famoso entre o sexo feminino, e elas pensam que isso é um show.
— Jura? Que novidade, acho que ninguém aqui ouviu elas gritando — solto, ranzinza. Eu não queria vir, não queria sair da cama, não queria voltar aqui, mas eles me obrigaram. — Gus, realmente, você é muito inteligente.
Ele me lança um olhar assassino, o qual retribuo com um olhar afiado.
— Obrigado pela parte que me toca — ele diz, e logo volta a gritar.
Bufo.
Assim que passamos pela porta a loira veio me perguntar se eu estava bem, se eu iria querer algum lugar mais perto da porta ou algo mais saudável.
Tiveram que me segurar para não pular em cima dela.
Nem percebo quando começo a cantar baixinho.
— But how you gonna leave it Now. Just throw ir way. All my tears are falling. I will pray.
Percebo que a minha mesa se calou e que todos estão olhando para mim.
Sinto meu rosto esquentar e tenho certeza de que estou corada. Não sabia que estava cantando alto o suficiente para que eles pudessem ouvir, se soubesse teria me calado.
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Deixe-me Ir / PARADO
Teen Fiction[GATILHO] [SUICÍDIO] Algumas feridas, nem mesmo o tempo é capaz de curar. Mia é rejeitada pela mãe desde a morte de seu irmão mais velho, e após perder seu pai, ela não vê motivos para continuar. Sozinha e desesperada, ela não encontra motivos par...