Deixe-me Ir / PARADO

Capítulo 6

Setenta e seis dias antes

Estou acordada a mais ou menos uma hora e ainda não levantei.

A noite passada me deixou com dor de cabeça, e o cheiro de cerveja ainda está impregnado nas minhas roupas.

Não tive pesadelos, o que foi um alívio.

Estico o braço para pegar meu celular. São quase nove da manhã, eles já devem estar acordados.

Me forço a sair da cama e visto uma roupa qualquer.

Minha cabeça ainda dói e o mal estar no meu corpo parece não dá trégua.

Abro a porta e ando devagar até a sala.

Jacob está deitado no sofá com o braço tapando os olhos, parece que alguém bebeu demais.

Me viro e vou até a cozinha.

Gus está sentado no balcão com uma caneca de café. Parece abatido, com olheiras tão escuras quanto as minhas.

— Parece que alguém fugiu da ordem — ele me olha assustado e me lança um sorriso amarelo — Como está?

Ele boceja antes de responder.

— Com sono, mas bem — ele me olha com mais atenção — E você?

Suspiro, mas não respondo.

— Bom dia! — Milene é a única que parece estar de bom humor, com uma expressão alegre e sem olheiras — Café ou achocolatado?

— Na verdade...— sinto o olhar do Gus sobre mim e penso melhor, ou eu aceito ou ele vai me fazer comer na frente da Milene — Vou querer café, obrigada.

Me sento ao lado dele e ele me cutuca com o cotovelo.

— O que? — ele sorri e balança a cabeça.

Milene me entrega uma caneca com café até a metade e coloca um prato com rosquinhas na nossa frente, depois ela mesma de senta.

— Bom dia — Jacob aparece com a cara amassada, mas não parece ter bebido a noite toda. Ele beija Milene e pega um pouco de café. — Gus você bebeu?

Meu amigo revira os olhos e bufa.

— Não Jacob, mas se alguém perguntar mais uma vez juro que na próxima eu bebo.

Solto uma risadinha e observo o Jacob. Ele veste uma calça de moletom e uma camisa, não era a roupa que eu vi quando estava no sofá.

Abro a boca para perguntar, mas ouço som de passos atrás de nós e me viro.

Quase cuspo o café. Ele está com a cara toda amassada e o cabelo bagunçado, a camisa amassada e a jaqueta de couro na mão. Quando me vê, sorri.

— Bom dia — ele se senta perto do Jacob, de frente para mim.

Sinto meu rosto queimar e abaixo a cabeça para que meu cabelo esconda meu rosto corado

— Bom dia, Adam. — Milene é a única que o responde.

Ficamos em silêncio. Não tenho coragem de levantar o rosto, e muito menos de olhar para ele, então encaro meu café quase intocado.

Sinto seu olhar sobre mim.

— Jacob — a voz dele sai rouca, como quando nos conhecemos — Quem são seus amigos? Acho que não fomos apresentados devidamente.

Olho de relance para o Jacob. Ele suspira e olha para mim depois para o irmão. Imagino que deva estar pensando em uma forma de me apresentar sem ter que se lembrar de quem eu sou.