MEDO DO ÍMPAR

SALVE A SI MESMA

Andando em círculos e recitando seu mais novo poema, indo para lugar algum, se perguntando o porquê e respondendo: "salve a si mesma". Ouvindo em outro plano, lhe chamarem dizendo "Seu sorriso é maravilhoso, seu coração valioso", querendo dizer adeus e ir, mas algo a impedia e a fazia descansar.

As imagens de um passado triste e um futuro feliz não se encaixavam pelo seu presente. Tentando resolver essa incógnita, barulhos na cozinha a desperta de seus pensamentos e a deixaram em alerta. A porta bate com força, coisas sendo jogadas ao chão, alguém deveria estar assaltando sua casa, até ouvir a voz que mais tem lhe feito mal.

–Diana! Venha cá nos servir — gritava um senhor de meia idade com roupas desagastadas, rindo com um amigo de mesma aparência — Diana!

A cena a sua frente já não era algo estranho. Um senhor de cabeça branca, bêbado e sujo de 1,80 com a barriga avantajada pelo excesso de bebida e as coxinhas de frango gordurosas.

–O que foi seu velho desgraçado, saia daqui com seu amigo nojento — dizia Diana jogando um vaso de flores.

–Diana! — Gritou ainda mais alto Josué, fazendo Diana despertar de seus pensamentos.

–Sim, Josué — Respondeu calmamente.

–Sirva-nos, por favor, querida.

Josué ficou esparramado na sala ligando a TV para assistir futebol e já começava a dar gritos com os jogadores, o que incomodava os demais vizinhos do prédio, algo que trouxe muitas reclamações, , enquanto isso seu amigo ia até a cozinha atrás de Diana que iria preparar as famosas coxas de frango, as quais a causavam náuseas pela fritura frequente.

–Olá doçura — disse o velho com olhar pervertido — podíamos nos divertir qualquer hora – passando a mão em seus cabelos.
Rapidamente Diana se afastou e agarrou a faca que lhe estava em seu alcance. Aquilo já havia acontecido dezenas de vezes e ainda lhe assustava, mas uma força interior a pegava pela mão e tomava conta da situação, uma força com voz e nome, e sem explicação.

–É a última vez que eu lhe digo isso, não toque em mim nunca mais, ou fritarei aquilo que mais ama para seus amigos comerem.

–Tá bem gatinha, se acalme, quando estiver a vontade o velho Lu estará aqui.

Com cara de desaprovação, chega Josué na cozinha e apalpa os ombros do amigo.

–Lucas seu retardado, não vê que essa vadia nunca te dará uma chance! Ela se acha uma rainha do reino que não existe.

Diana teve o corpo paralisado e seus sentidos e tempo não existiam, apensa olhava para a mãe que dizia:

–Você é uma princesa, que se tornará uma rainha quando crescer a menos que...

E ela voltou ao tempo presente, chorando e se recusando a aceitar sua realidade.

Entregando as coxinhas de frango e cervejas aos senhores na sala, viu sobre a mesa de centro linhas brancas e não quis acreditar até onde seu pai chegou, mas secretamente torcia por uma overdose de todos.

–Obrigado querida, agora volte para seu quarto, sua presença me incomoda — despejou as palavras indiferente.