BEBIDA VERMELHA

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Os sete pecados capitais,  música alta, luzes piscando, fumaça, corpos falantes, a troca de salivas, bebida e drogas, a cobra oferencendo a maçã vermelha e ela aceitando.

–O que você vai fazer com essa mala? — Ana estava com que medo da resposta.

–Calma, vagabunda. Não vou te largar ainda. Ainda. Só vou passar o final de semana com uma jovem gostosa. Estou precisando, sabe como é — Josué jogou cinquenta reais sobre a mesa e saiu de carro.

Ana estava chorando no quanto de seu quarto, perguntando-se quando o inferno acabaria. Levantou-se seguindo a voz que a chamava até o espelho, a imagem de uma mulher com roupas gastas, cabelos despenteados e uma feição depressiva mudava para uma bela mulher, a verdadeira Ana da Silva Cardoso.

–Meninas, essa é a nossa vizinha, digam "Oi" para Fernanda.

–Oi — as duas disseram timidamente.

–Vocês são muito lindas e parecem ser muito calmas, vai ser muito legal ficar com vocês — disse Fernanda.

–Fernanda, agradeço poder ficar com elas, eu não demoro muito, mas pode dormir aqui se quiser.

–Por nada, e não se preocupe, aproveite a festa senhora.

–Comportem-se meninas — Ana foi até a porta onde o táxi a aguardava e chamou Alice.

–Oi, mamãe.

–A mamãe te ama, eu volto logo.

Ana, juntou-se a um grupo mulher e ficaram conversando e bebendo. Sentia-se outra pessoa e dançou como nunca tinha dançado, mas sempre dizendo não aos homens que chegavam até ela.

–Calma meninas, eu vou sentar um pouco, estou morta — disse Ana rindo e indo até o bar onde haviam bancos.

A luzes piscavam de forma coreografada e as pessoas pareciam seguir o ritmo, Ana esqueceu de todos os seus problemas, esqueceu quem era.

Um homem esguio, de cabelos prateados se aproximou e disse:

–Será que posso pagar uma bebida para essa bela donzela?

–Não, obrigada, já bebi muito.

–Mas a noite mal começou — a voz do homem era encantadora.

–Tudo bem, prazer Ana — disse dando um beijo no rosto do homem.

–Por favor, dois drinks daquela bebida vermelha — disse o homem de cabelos prateados.

Tudo em volta girava, parecia que todos os seus órgãos do seu corpo lutavam para sair  pela boca. Sentada na privada do banheiro tentava por sua cabeça em ordem, mas uma mulher batia na porta apressando-a, pensou que iria morrer e foi de táxi para casa o mais rápido possível, lutando para não desmaiar e vomitar.

–Ajude-me ir até meu quarto

–Dona Ana, o que aconteceu? — Fernanda estava com os olhos arregalados — A  senhora bebeu de mais.

–Não bebi muito, estava tudo bem, até me darem uma bebida vermelha — Ana já estava deitada e começa a chorar — Fernanda, você precisa me prometer, que cuidará da Alice para mim.

–Calma senhora, as meninas irão acordar, a senhora só bebeu demais, vai ficar tudo bem.

–Não, eu vou morrer, eu estou sentindo, foi a bebida vermelha. Prometam-me Fernanda, que irá cuidar da Alice para mim. Te dou todo meu dinheiro.

–Prometo senhora, agora acalme-se. É melhor a senhora tomar um banho, vai lhe fazer bem. Vamos, eu ajudo a senhora

No quarto escuro as lágrimas escorriam e a pequena  Diana tentava abafar seu choro para não acordar a irmã. Olhou pela janela e pensou fugir, mas não tinha para onde ir, pensou na morte pela primeira vez naquela noite, aos 12 Diana desejou  a morte como um presente.

Mesmo do outro lado da parede, podiam-se ouvir a voz de Ana repetir as mesmas frases "Eu vou morrer", "Prometa que irá cuidar de Alice para mim".

Diana não conseguia segurar seu choro e a dor que sentia só crescia, tinha a esperança de um dia sua mãe mudar e dar o amor que tanto cobiçava, mas mesmo diante da morte, sua mãe não pensava nela, sentiu-se tão inferior a tudo. Passou a noite inteira chorando e tentando entender o que ela poderia ter feito, mas Diana fazia tudo para poder agradar a mãe, porém nunca tinha dado certo.
Então desistiu e uma raiva da mãe crescia rapidamente dentro dela. É como se outra pessoa estivesse tomado o controle, a Diana boazinha estava descansando e a Diana má estava tomado o controle.

Nomeada de Ane, em referência à sua mãe.

–Por favor, Fernanda — dizia Ana envergonha — o que aconteceu noite passada fique só entre nós duas.

–Claro, dona Ana. Fiquei tranquila e quando precisar é só me chamar.

–Sim, claro — entregou o dinheiro para a jovem e se despediu.

Ana Cardoso cruzou as mãos e fez uma oração para que o marido nunca soubesse o que aconteceu.

MEDO DO ÍMPAROnde histórias criam vida. Descubra agora