Os pneus estavam quentes como no inferno, o Diabo dirigia o carro em absurda velocidade, cuspindo palavrões aos demais motoristas, ultrapassando os sinais vermelhos. As mãos apertavam o volante como se fosse estrangular alguém, os olhos vermelhos de ira.
–Querido, eu sinto muito querido, eu sei que você... — Ana viu o marido se afastar e ouviu sua voz se perdendo no eco.
Ele entrou no banho, deixando a água fria bater em seu corpo que fervia, sentia as esperanças irem para o ralo. Sentiu as pernas tremerem e teve medo de desmaiar, desabou em choro e pressentiu seu fim, estava entrando no círculo de Judas.
Pegou o carro e saiu deixando Ana chorando observando-o pela janela. Não sabia para onde ia, nem o que iria fazer, só precisava sair dali. Sentiu-se fora de órbita, precisava fugir o mais rápido possível.
Ana sabia da vontade do marido, mas não esperava essa reação, nunca o viu daquela maneira e estremeceu.
Eram 22:00 e Mario ainda não havia chegado em casa e não atendia nenhuma das milhares de ligações. Ana conferia se Alice continuava dormindo, estava nervosa e começava a chorar a todo instante. Pensava em coisas horrível que poderiam ter acontecido, e o que poderia acontecer. Afastava esses pensamentos e tentava dormir, mas percebeu que era impossível.
Finalmente Mario chega, fazendo estardalhaço alertando Ana, que vai para a sala ver o que estava acontecendo.
–Ana, sabe o que você é? Uma incompetente. Incapaz de gerar um filho homem, incapaz de me satisfazer. Essa casa está um lixo, você está ainda mais horrorosa.
–Mario Josué Cardoso! Você está bêbado, mas você não pode falar assim comigo — as lágrimas já começavam a escorrer o rosto de Ana.
–Não me chame pelo meu primeiro nome, sua vagabunda desgraçada. Eu faço e falo o que eu quiser, essa casa é minha — Josué estava segurando os braços de Ana e sacudindo-a — Eu vou te matar, sua desgraçada. Você acabou com minha vida.
Josué jogou Ana contra a parede e deu tapas em seu rosto. Juntou-a pelos cabelos e gritava:
–Eu te odeio Ana, eu odeio essa filha que está gerando, eu as amaldiçoo.
–Por favor, pare — implorava Ana repetidas vezes em meio ao choro.
Ele jogou-a no chão e chutou sua barriga, que a fez gritar de dor.
–Se gritar, vai ser pior sua vagabunda — falava tampando a boca de Ana, prestes a bater com a cabeça dela contra a parede, mas um grito o impediu.
–Paaai, paaai — gritava Alice do seu quarto.
Josué foi em direção ao quarto quando uma mão o puxou para trás. Era Ana, que com medo dele fazer algo contra Alice reuniu suas últimas forças para suplicar que não fizesse nada contra ela.
E foi a última cena que Ana viu, Josué desferiu um soco contra seu rosto que a fez desmaiar no mesmo instante.
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MEDO DO ÍMPAR
Mystery / ThrillerEm um passado não muito distante, tanto quanto as mágoas que a cercavam, Diana já planeja a volta para suas origens e resolver o que atormentava-a. Fazendo aquilo que achava certo, planejando uma volta mirabolante como a rainha do tabuleiro de xadre...