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Tomar distância, ir para o mais longe
Cobrir esse sangue, tingi-lo de preto
Sangue maldito?
Não. Eu sou divino.Todos os dias Diana colocava o pó que causava a cegueira em Ana na sua comida, mas viu-se um monstro diante do espelho. Não sabia mais quem era, tinha longas conversas consigo mesma e não chegava a acordo nenhum. Um lado queria ficar ali com a família dela, esquecer o que aconteceu e aproveitar a oportunidade de estar com elas, mas o outro lado gritava por vingança.
–Eu não sou como eles — sussurrava Diana, querendo gritar.
–Preciso vingar nos duas, só faltam as duas, de um já nos livramos — Ane falava cuidadosamente.
–Eu não fiz nada, foi você quem matou o papai — Diana chorava.
–Eu matei por nós duas, ele merecia —a voz saiu furiosa — aquele desgraçado abusou de nós.
–Não sei se é certo.
–Tudo ficará bem, deixe que eu cuido de tudo. Logo irá acabar.
–Não posso deixá-la machucar mais ninguém, eu vou terminar isso. Irei embora ao amanhecer sem ninguém me ver é assim que deve ser.
Olhando as paredes do pequeno quarto, Diana chorava ao saber que nunca poderia teria o amor de quem tanto queria. Nunca deixou-se envolver com ninguém, por não acreditar que realmente alguém a amaria. Lembrou dos professores que teve que dormir para não reprovar na faculdade, quando foi amante do delegado, por ele não acreditar completamente na história da morte de seu pai e seu amigo.
Voltou a realidade com uma voz chamando por Ane, a qual vinha aumentando e ela tentava tirá-la de sua cabeça e manter o controle, até que alguém bate na porta e tudo fica em silêncio.
–Ane, estou vendo muito melhor — apesar da boa notícia a voz estava triste — estou tão feliz.
–Só um minuto — Diana estava perplexa, não sabia como aquilo havia acontecido — Que noticia maravilhosa.
Quando os olhos das duas encontraram-se, Ana sentiu uma pontada no peito esquerdo e ficou com o rosto pálido.
–Desculpe, seus olhos me fizeram lembrar de alguém — disse Ana lentamente.
–Calma, a senhora não pode forçar a visão. Vamos...
–Antes dessa cegueira repentina, eu peguei o resultado de uns exames e não tive coragem de ler depois de saber que estava com início de catarata, fiquei com medo de estar mais doente ainda e — Ana fez uma pausa pra respirar fundo — hoje os li.
–Como assim? O que a senhora descobriu?
–Vamos até a varanda, por favor.
Diana não sabia o que mais a apavorava, ser reconhecida justo agora, com a visão de Ana recuperada ou o que dizia os exames. Seja lá o que fosse ela iria embora e recomeçaria sua vida, já tinha sofrido de todas as formas, mas no fundo ainda havia uma última esperança.
–Ane, eu descobri que estou com câncer de mama. Preciso de um favor, talvez seja o último. Não sei o que vai acontecer comigo, posso morrer agora, posso morrer amanhã — Ana tentava manter a calma — o câncer já está muito avançado.
"Calma mamãe, eu estou aqui. Vai ficar tudo bem" dizia Diana silenciosamente, queria abraçá-la e dizer que a amava.
–Preciso que me ajude a fazer uma procuração passando todos meus bens para Alice, você pode me ajudar, Ane?
O sangue ferveu, os nervos pulsaram, os músculos contraíram. O eclipse perfeito ocorreu em seus olhos, o rosto mudava suas características.
Viu todas as cenas ao seu redor, eram 07:40 horas.
Alice e Pedro haviam saído de casa a 40 minutos.
Márcia e Zuleide chegariam em 20 minutos.
Diana acaba de dormir.
Ane de frente para Ana.
–Claro, dona Ana.
Haviam duas opções: Número 4 ou Diana tinham traído o plano.
–Número 4, você me deu o remédio certo para por na comida da velha? — a voz saiu rude.
–Sim
–A visão de Ana está voltando, espero que não seja culpa sua — mantinha a voz firme — a idiota da Alice vai se casar e está grávida e eu só fiquei sabendo hoje, você me deve explicações!
–Grávida? Mas eu não sabia, senhora. Eu juro — a voz estava trêmula.
–Para seu bem, espero que esteja falando a verdade — deu um suspiro e disse suavemente — Não quero você hoje aqui, tenho que arrumar essa bagunça.
–Entendido.
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MEDO DO ÍMPAR
Mystery / ThrillerEm um passado não muito distante, tanto quanto as mágoas que a cercavam, Diana já planeja a volta para suas origens e resolver o que atormentava-a. Fazendo aquilo que achava certo, planejando uma volta mirabolante como a rainha do tabuleiro de xadre...