DIA X

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Mergulhados no escuro oceano, a guerra começou, as milhões de razões para continuar acabaram.

O corpo e alma já não aguentavam mais. Ana se pegava vendo Josué nos olhos de Diana, sua filha mais nova, e descontava sua raiva. Chorava por horas depois de bater na filha e tratá-la mal, mas logo depois via outros motivo em tudo para novas punições.
Presos em um círculo vicioso que parecia nunca ter fim. Josué agredia Ana, que por sua vez batia em Diana, que já começava a se revoltar e bater em Alice.

A eterna guerra de 14 anos foram árduas, mas chegava ao fim.

–Arrume todas minha coisas, vou embora amanhã — disse Josué saindo para o frequente bar, onde mais passava o tempo.

–Como assim? Você não pode fazer isso. E nossas filhas? Não pense que vai fugir de suas responsabilidades — disse Ana no impulso.

–As filhas são suas, se vire, pode ficar com essa casa caindo aos pedaços e essas porcarias, agora tenho o apartamento do meu velho. Se me denunciar para a justiça por pensão, voltarei e te matarei.

–Pois saiba que farei, não deixarei Alice passar por dificuldades — já dizia chorando.

Josué se aproximou de Ana e a pegou pelo pescoço.

–Você não terá R$1 de mim, sua vadia.

–Então leve Diana consigo — dizia Ana sufocada — nunca mais ouvirá no meu nome.

–Talvez eu precise de alguém para limpar minha sujeira, arrume as coisas dela, logo pela manhã irei.

Diana chegou em casa depois de mais um terrível dia na escola, ao chegar no seu quarto sua mãe arrumava suas coisas, sabia que estava em uma encrenca.

–O que esta acontecendo aqui? — perguntou Diana com receio.

–Querida, sente aqui, precisamos conversar — Diana estava com uma expressão mais perturbada que o normal — Você vai ter que passar uns dias com seu pai, ele vai para São Paulo, seu avô morreu.

Um turbilhão de coisas passaram pela cabeça de Diana, parecia ter todo tempo do mundo para pensar nas possibilidades que estavam aparecendo, mas sua mãe continuava a arrumar suas coisas rapidamente.
Ir embora significava deixar tudo de ruim que lhe cercava, a família fora do normal, a mãe que lhe agredia e a humilhava, sairia da sombra da irmã mais velha, seria livre de comparações com a senhorita perfeição. Viver com seu pai não deveria ser tão ruim, apesar de nunca conversarem, ele deveria passar o resto do dia fora bebendo, então estava tudo bem.

Apesar de tudo, Diana sentia-se ligada a mãe e no fundo queria apenas sentir um mínimo afeto. Talvez na despedia poderia dar o tão sonhado abraçado em sua mãe.

–Tudo bem — disse Diana indiferente.

Durante a noite Diana não conseguiu pregar os olhos, se via em diversas situações morando longe. Decidiu deixar aquela menina rebelde e tímida para trás, ria consigo mesma pensando em muitos planos.

As malas estavam sendo colocadas no carro, as esperanças e medos de Diana também. O medo de ser esquecida, de ficar para sempre sozinha, apesar de tudo, naquele momento seus olhos se encheram de lágrimas, mas não as deixou rolarem.

–Tchau Diana — dizia Alice chorando –— não demore muito para nos visitar

–Claro.

–Você é uma princesa, que se tornará uma rainha quando crescer, a menos que não faça tudo o que seu pai mande — disse Ana no ouvido de Diana e passou a mão no cabelo da filha.

As lágrimas rolaram pelo rosto de Diana, que abraçou sua mãe fortemente, desejando ficar ali com ela e nunca se separarem.

MEDO DO ÍMPAROnde histórias criam vida. Descubra agora