PHI

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Número PHI, o número perfeito, a divina proporção. Tatuado no dedo indicador direito o número 1,618 para que tudo em que tocasse fosse perfeito, torna-se ouro.

As palavras quase pularam de sua boca "eu já sei o caminho" mas deixou ser guiada pela senhora de cabelos ruivos.

Uma mulher toda de branco, de cabelos pretos e óculos de grau entra no quarto e se apresenta:

–Boa tarde, sou a enfermeira, Ane Osodrac. É um prazer estar de volta.

Zuleide apareceu no quanto sem dar tempo de pensarem no que disse a enfermeira.

–Coloco mais um prato na mesa?

O plano inicial de Diana era se infiltrar na casa sem ser reconhecida e fazer com que Ana Cardoso assinasse uma procuração passando todas as posses para seu nome. Trocar os números da sequência perfeita, enviar as duas do Jardim do Éden para o Inferno de Dante, mostrar que ela era a verdadeira rainha.

Tinha sonhos malucos onde torturava Ana e Alice, outra hora as três andavam por um lindo e florido jardim, o raios de sol de um eterno verão iluminado os sorrisos. O céu de um minuto para o outro enchia-se de negras nuvens e as duas se afastavam de Diana com olha vazio. Gritava para elas voltarem mas sua voz não saia, chorava desesperadamente com o rosto no chão, uma mão fria acariciava seu ombro e abraçava-a, sussurrava em seu ouvindo: "Vai ficar tudo bem, eu estou com você e irei te proteger de tudo".

A mulher vestia um elegante vestido vermelho, com unhas pontudas e um cabelo perfeitamente penteado. Ela ia em direção a Ana e Alice com uma adaga chinesa, a qual Diana reconhecia, as imagens mudavam para o seu apartamento e para uma balada aleatoriamente e ficavam confusas.

Diana acordava transpirando, com expressão de pavor, não consiga colocar sua cabeça em ordem, seus pés já não tocavam o chão, sentia-se segura e ao mesmo tempo perdida. Estava mergulhada no azul mais escuro do imenso oceano, seus sentidos em câmera lenta, a música de Lana Del Rey ecoando ao fundo, a voz dizia "Descanse, eu cuido de tudo" mas Diana sempre voltava a superfície e abria seus olhos.

Algo não estava perfeito, tinha algo de errado e Diana não estava conseguindo manter o controle, estava afogando-se. Os números, as imagens, as vozes, sua cabeça estava girando e tudo estava ficando embaçado. O cenário a sua frente a fazia voltar no tempo e escorrer lágrimas pelo rosto, a grande casa branca estava reformada, mas a dor ainda estava lá, em cada parte da casa via cenas que não queria relembrar.

Nas primeiras 48 horas, Ana já tinha criado laços de amizade com a enfermeira, que era tão bondosa e prestativa. Conversavam o tempo todo, já que ela estava ali 24 horas ao seu lado, Ana percebeu que tinha algo diferente nela, algo familiar, mas não quis tocar no assunto.

Sentadas na varanda as duas conversavam:

–Sabe, Ane, eu não sei o que vai ser da minha vida.

–Calma senhora, logo a senhora já estará curada e tudo voltará ao normal — disse a enfermeira com o olhar estranho.

–Eu andei tão ocupada que não vi o tempo passar, Alice está noiva de alguém que eu nem sei de onde vem, logo vai embora e eu ficarei para sempre sozinha.

–Mas a senhora não tem mais ninguém? —disse a enfermeira cuidadosa — Um namorado, por exemplo — disse com uma risada sem graça.

–Não, fui casada uma vez com alguém que só me fez mal e nunca mais quis pensar em outro alguém, única coisa boa da minha vida foi Alice.

–Sim, entendo — disse contendo as lágrimas misturadas de ódio.

–E agora você — disse com um sorriso amarelo — Sentirei falta das nossas conversas quando tudo acabar.

–Eu também senhora – as lágrimas começaram a descer e ela começou a fungar.

–Você está chorando querida? — Ana perguntou com a voz tranquila.

–Desculpe, senhora. É que eu perdi minha mãe quando criança. A senhora me lembra um pouco ela.

–Você deve ter sido uma ótima filha — Ana estendeu a mão e abraçou a enfermeira.

Os olhos da enfermeira mudaram para um tom mais escuro e o tempo mudou.

–Elas estão na varanda, Alice — informou Márcia.

–Obrigada — Alice explodia de raiva, e parecia outra pessoa.

Márcia correu para a cozinha para falar com Zuleide.

–Zuleide do céu, Alice está com o demônio no corpo.

–Meu Deus, será que aconteceu algo sério?

–Espero que sim — disse Márcia rindo de forma debochada — essas duas tem só a cara de santa.

–Vire essa boca pra lá, tais sabendo de algo?

–Ainda não, mas vou lá saber — e saiu em direção à varanda.

–Mãe? — disse Alice Preciso falar algo sério com a senhora.

–Oi, filha. O que aconteceu? — a voz de Ana saiu confortante.

–Com sua licença — se retirou a enfermeira com cabeça baixa.

–Mãe, essa enfermeira me parece familiar. E por que ela usa esse batom tão vermelho?

–Você não está nervosa pela cor do batom da Ane, diga logo.

–É o Pedro mãe — deu um suspiro profundo — ele tem recebido ligações de um número estranho. Ele ficou todo estranho quando perguntei quem era.

–E o que você acha que pode ser?

–Eu não sei — começou a chorar — eu realmente o amo e temo que ele esteja tendo um caso.

–Termine com ele então minha querida. Eu nunca fui com a cara desse rapaz, eu sofri muito na mão de seu pai e você não precisa passar por isso, você sabe que...

–Para mãe, as coisas não são tão simples assim — enxugou as lágrimas — eu estou grávida.

MEDO DO ÍMPAROnde histórias criam vida. Descubra agora