Dias de verão com arco-íris no céu. Observando cada cor e tudo ao seu redor, admirando a vida perfeita. Antes de dormir, admirar os verdes olhos de seu amor, ao acordar e abrir os olhos tudo escuridão e medo, pavor e desespero.
Os gritos fizeram com que Zuleide, corresse da cozinha para o quarto de sua chefe com grande tensão.
–Senhora! Está tudo bem?
–Zuleide, estou enxergando tudo embaralhado, não sei. Onde está Alice?
–Ela já está na faculdade, senhora. Quer que eu chame a ambulância? — a doméstica de cabelos ruivos estava apavorada — Acho que Pedro está aí, não tomou café ainda.
–Por favor, chame-o ou ligue para Alice — Ana já estava aos prantos — Rápido.
Zuleide saiu em disparada para verificar se Pedro estava no quarto.
–Pedro? — Zuleide batia na porta frenética — Pedro? Está aí?
–Bom dia pra você também — Pedro abria a porta enquanto bocejava — não estou muito disposto para tomar café então...
–A Dona Ana... corre... está passando mal... cega, não sei... — ela o pegou pelo braço e o arrastou pelo corredor — vamos Pedro.
–Dona Ana? — perguntou Pedro assustado.
–Me leve para o médico... ligue para Alice... rápido Pedro — dizia Ana se levantando com a ajuda de Zuleide.
–O que tem de errado com a senhora?
–Eu estou ficando cega, cega Pedro!
—Cega? Como assim? — mesmo sem entender correu se trocar para levá-la ao médico.
Pedro dirigia o mais rápido que podia, tentava manter a calma já que Ana estava desesperada no carro.
–Sangue maldito! Eu não posso ficar cega, maldição — gritava Ana.
–A senhora pode me explicar o que está acontecendo?
–Minha avó, minha mãe tiveram catarata, ando fazendo alguns exames — Ana soluçava e tentava conter as lágrimas — mas estava tudo certo, não entendo como...
–Eu...eu..não sei o que dizer.
–Pois não diga nada, apenas dirigia. Alice já está indo para a clínica?
–Ela tem uma prova importante hoje eu achei melhor...
–Eu quero que se dane o que você acha, eu sou a mãe dela, você apenas o noivo.
Seis meses atrás o jovem calouro de engenharia mecânica conquistava o coração da mais cobiçada aluna de medicina da Universidade Federal de Santa Catarina. E apesar da mãe de Alice ser contra o namoro, eles ficaram noivos cedo.
Pedro encorajava Alice a ser uma mulher de verdade. Até então, ela era uma boneca nas mãos de Ana, fazia tudo o que a mãe tinha vontade. Alice sentia-se finalmente vivendo e tudo era graças a Pedro. Sua mãe a sufocava e mesmo sempre ter sido protegida, agora estava sentindo as dores.
Alice podia falar com Pedro sobre sua vida, principalmente sobre seu passado, seu pai e irmã. Desde pequena, sua mãe sempre ficava furiosa quando ela tocava no assunto, colocava-a de castigo e depois ia ao quarto chorando e pedia desculpas. Então Alice desistiu e guardou aquilo para si aquela imensa dor, Pedro a ajudou a libertar aquele demônio que vivia por anos perturbando-a. Nem sua mãe iria separa-la de Pedro.–Se a senhora não aceitar nosso namoro, irei morar com ele.
Ana apenas se virou e foi para seu quarto. A primeira de muitas batalhas havia sido vendida. Com o tempo, Pedro foi sido bem aceito e faltava só mais uma pessoa para completar a família, o qual Alice carregava no útero, mas guardava o momento certo para revelar.
Uma senhora baixinha corria em direção pela porta dos fundos e ao entrar na casa encontra a cozinha vazia e apenas o barulho da TV.
–Zuleide? O Zuleide?
–Meu Deus – diz Zuleide num pulo — Márcia, quer me matar mulher? Nem lembrava que tu vinha hoje fazer a faxina.
–Cadê Dona Ana? Saiu já?
O barulho de carro a fazem correr para a cozinha.
–Só foi eu dizer o nome do demônio — disse Márcia rindo.
–Que pecado dizeres isso, tu não sabe o que aconteceu com ela. Menina, a mulher tá ficando cega.
–Cega?
–Fala baixo, Márcia, meu Deus. Pedro levou ela as pressas para o médico logo cedo. Sorte sua aliás, senhorita atrasada.
–Perdi o ônibus e nem deveria ter vindo, não aguento mais essa mulher, só pega no meu pé. Mas olha, semana passada, sem querer, deixei cair uns papéis da madame aí e eram exames das vistas.
–Eu não quero nenhuma das duas cochichando pela casa sobre o assunto — dizia Pedro que passava repentinamente pela cozinha — Alice irá trazê-la mais tarde e ajam naturalmente.
O olhar autoritário de Pedro se desvia para a tela do celular para atender Alice.
–Oi, meu amor. Como estão as coisas aí? — diz Pedro saindo da sala.
–O médico está fazendo alguns exames — a voz de Alice estava trêmula —Pedro, estou com medo.
–Calma, meu amor, vai acabar tudo bem.
–Preciso que você ache uma enfermeira o mais rápido que puder, pra poder cuidar dela alguns dias.
–Claro, vou providenciar agora mesmo.
–Obrigada. Pedro?
–Sim.
–Te amo.
–Também te amo.
Zuleide e Márcia escutavam a conversa e pularam de susto quando Pedro chamou-as.
–Meninas, sabem se a Dona Ana tem alguma enfermeira conhecida ou algum cartão?
–Acho eu, que tem alguma coisa no quarto da Dona Ana — disse Márcia.
–Vocês podem achar pra mim por favor, vou tomar um banho. Fechem as janelas, o céu está escuro e já vai chover.
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MEDO DO ÍMPAR
Mystery / ThrillerEm um passado não muito distante, tanto quanto as mágoas que a cercavam, Diana já planeja a volta para suas origens e resolver o que atormentava-a. Fazendo aquilo que achava certo, planejando uma volta mirabolante como a rainha do tabuleiro de xadre...