NÚMERO 4

29 8 2
                                    

SÃO PAULO, SÃO PAULO

"O prêmio pelo projeto 'Mães Solteiras' foi dado nessa sexta-feira, para a psicóloga Ana Cardoso na cidade de Florianópolis em Santa Catarina, onde foi realizado um grande evento com personalidades importantes..."

Rodando na cadeira, olhando para as paredes mofadas, o espelho refletindo uma linda e sensual mulher, inteligente e gananciosa, de ira da cabeça aos pés.

Os gritos foram ouvidos pelo prédio todo, a mão sangrava e o reflexo de duas pessoas diferentes com o mesmo rosto fez com que Diana estremecesse.

O sangue pingava em uma poça já formada no chão e Diana continuava tentando entender e se comunicar inconscientemente com aquele ser no espelho quebrado, enquanto o sangue escorria pelo reflexo. Quem era aquela conhecida desconhecida? O nome ecoava assombrosamente em sua mente "Ane".
A batidas na porta seguidas pelo chamar de seu nome, trouxeram os sentidos de Diana, que correu lavar a mão tentar estancar o sangramento com um toalha. Ao abrir a porta se deparou com a senhora Lurdes, a simpática senhora de meia idade que morava no apartamento em frente.

–Oi, Dona Lurdes, no que posso ajudar a senhora?

–Eu é quem pergunto, minha jovem, ouvi um grito e fiquei preocupada — disse a senhora com a voz trêmula e preocupada.

–Ah sim — Diana ficou sem graça e mostrou a mão enrolada na toalha — quebrei um copo agora pouco, mas está tudo bem.

–Tome cuidado, minha querida — disse a senhora risonha — pode contar comigo para o que precisar, só bater em minha porta que terei o maior prazer.

–Muito obrigado, Dona Lurdes, até mais.

Diana mudou o olhar e  ficou pensando na simpatia de todos os moradores  do prédio, nunca tinham lhe dado um "bom dia" e agora eram todos vizinhos gentis até demais. Sabia que era por conta da morte de seu pai e podia ouvir os pensamentos de piedade, sentia desprezo por casa um, mesmo que um lado pedisse um abraço, seus instintos sempre em alerta.

Era hora do renascimento, a hora de fazer ou morrer, da verdade ou da mentira, a hora tão esperada.

–Alô, número 4? — disse Diana com uma voz maléfica.

–Oi, Ane, pensei que não entraria mais em contato — a voz no  outro lado  da linha estava nervosa — quanto tempo.

–Como andam as coisas por aí?

–A velha está bem, apesar de estar fazendo alguns exames escondidos da família e eu estou fazendo tudo de acordo com o que a senhorita ordenou.

–É isso que eu gosto de ouvir, seu dinheiro já está na conta. Como está o nível  da sua confiança?

–De certa forma ótima, a velha às vezes pega no meu pé, sabe como é né.

–Vou precisar que você faça uma jogada melhor ainda, mas já sei que irá realizar com sucesso — sorriu maléfica.

–Ane, preciso te dizer algo importante... — a voz aflita se perdeu no ar.

–Pois não, diga logo.

–Só queria agradecer por ter salvo a vida da minha mãe, terei eterna gratidão.

–E eu sei que poderei contar com você, em um mês poderá voltar para casa ou seja lá para onde queira ir, é a última fase da sua missão. Chegou o grande momento  da rainha se mover no tabuleiro.

MEDO DO ÍMPAROnde histórias criam vida. Descubra agora