MEDO DO ÍMPAR

AZUL MAIS ESCURO

Palavras de amor, tornaram-se maldições. Vivendo em um mundo em que as flores são de papel e o céu já não é mais azul. Diante do abismo, a transação de tantas cores para as duas últimas que estava vendo, vivendo. Entrava pela menos secreta das mil portas, indo para onde temia. As palavras ecoando em sua mente: "Eu disse, negação".

Por muitas noites ouvindo a canção da morte, ouvia os números em ordem decrescente. Ao tentar dormir, tinha visões de si mesma em enormes campos floridos, numa primavera sem fim. Porém, na mesma cama, havia as trevas deitada ao seu lado, machucando-a de dentro para fora.

A culpa cercava Ana de todos os lados, sentia que o que estava acontecendo era total culpa dela, era justificável a ira de Josué, não fora capaz de dar-lhe um filho homem, mas ele amaria a filha que carregava no ventre e cuidaria de tudo sozinha, desde o nome ao enxoval. As agressões foram ficando mais graves, era socos na cabeça, puxões de cabelo, empurrões, chutes e a humilhava de todas as formas.

Pelo simples fato de Josué voltar para casa todos os dias e deitar ao seu lado, era porque ele ainda a amava, e assim Ana enganava a si mesma. Era questão de tempo para tudo voltar ao normal.
Ana estava afundando casa vez mais nesse oceano, ia cada vez mais para o fundo, estava no azul mais escuro e já não via mais a luz. Josué já não ligava mais pela presença de Alice durante as agressões e começou a aparecer com outras mulher dentro de casa.

Mais tormentos e escuridão via ao seu redor, pensamentos invadiam sua mente e ia perdendo a sanidade.

Por muitas vezes decidiu tirar sua própria vida, a criança em seu ventre já estava prestes a nascer, era tarde demais. Mas o amor por Alice era maior que seu desespero.

Os gritos eram ouvidos pelo hospital inteiro, algo que já era comum e causava entusiasmo em todos, mesmo que todo os dias. Era algo divino, que todos apreciavam e se emocionavam. Então, nasce a pequena Diana Cardoso.