— Pelo seu semblante, acho que se lembra de mim – continuou o detetive, parado próximo ao umbral da porta. – O que não deve saber é que estive envolvido na investigação da morte de Adam e acompanhei o interrogatório do Yuri até o garoto ser liberado.
Aquilo só podia ser um pesadelo. Senti como se fosse ter um ataque de pânico.
A forma como Carlos me olhava, era como se estivesse sob total controle da situação. Por isso eu precisava tomar cuidado com o que falaria dali por diante, porque não era mais só meu destino que estava em jogo.
— Sei bem quem você é – retruquei, antes que ele continuasse a tagarelar. – O que não entendo é o que faz parado na porta da minha casa.
— Não seja por isso – ele respondeu, impassível. – Posso entrar e resolvemos isso antes que os vizinhos nos ouçam.
Fiquei tentado a fechar a porta na cara dele, mas não o fiz. O receio de alguém escutar algo relacionado ao Lutador Verde venceu e quando a porta se fechou com um baque percebi que aquele seria um dos confrontos mais difíceis que teria que enfrentar.
Yuri voltou logo em seguida, com uma expressão culpada de quem havia dado um jeito de esconder ou se livrar do uniforme e da máscara. Confiava na inteligência dele para que nada daquilo fosse encontrado caso o detetive resolvesse dar uma geral pela casa.
Mesmo assim, se alguém tivesse que ser algemado e preso ali deveria ser eu, não o Yuri.
— Que cara de medo é essa? – Perguntou Carlos, com a testa franzida. – Assim não precisarei me esforçar para colocar os dois na cadeia. Qualquer um logo vê o quanto são culpados.
— Yuri, vá para o seu quarto – mandei, sem desviar os olhos da ameaça que era o detetive.
— De jeito nenhum – rebateu o jovem. – Fico aqui caso precise de mim.
Carlos aproximou um passo, o que me fez recuar dois.
— Parecem ariscos – continuou o detetive. – Que tal se eu contar por que estou aqui?
Não respondi, apenas me mantive de braços cruzados enquanto Yuri se dirigiu para mais perto de mim.
— Há algum tempo investigo por conta própria a morte do meu amigo. Fiz questão de não desgrudar os olhos de vocês e acompanhei cada passo que deram atentamente – ele não escondeu a raiva quando continuou. – Agora, imaginem minha surpresa quando recebi um telefonema de Antoni Karamo; revelando algo que me fez sentir o pior investigador de todos os tempos?
Meus olhos se arregalaram. Pelo visto Antoni agiu rápido. Assim que me viu na televisão ele deve ter surtado e feito o que ameaçou que faria — me expôs para a polícia.
— Sabe, você o treinou bem – continuou Carlos, olhando para Yuri. – O garoto está mais forte, com marra, olhar de lutador e até com o cabelo na cor normal dessa vez; quem diria. Se não fosse a voz e o jeito de andar, até acreditaria que fosse um homem.
Aquilo me fez querer ir para cima dele, mas senti a mão de Yuri sobre meu ombro e fiquei onde estava. O garoto tinha razão, precisava esperar mais um pouco antes de me deixar levar pela ira.
— Fico me perguntando qual a relação de vocês dois. Se são amigos ou se existe algo a mais aqui. Por que não deve ser normal um homem que perdeu tudo recentemente abrigar o namorado do filho morto.
— Famílias nem sempre são construídas em situações normais – rebati.
— É isso o que pensam que são? Uma família? – Ele não conteve a risada. – Desculpem, é inapropriado da minha parte.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Lutador Verde
General Fiction[CONCLUÍDA] Após a morte do filho, Jonas decide ir até as últimas consequências para mudar a forma como a sociedade enxerga a homossexualidade - mesmo que para isso tenha que lutar contra cada homofóbico que apareça pelo caminho. 1° Lugar no concur...