32. A última carta

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Nunca fui muito próximo da minha mãe.

O jeito metódico dela, a forma como tentava controlar tudo ao seu redor e aqueles olhares julgadores para cima de mim... Tudo isso fazia com que quisesse me afastar dela cada vez mais, coisa que se tornou fácil depois dela se separar do meu pai.

A verdade é que Judith era uma mulher difícil de agradar, a bússola moral dela era alta para cima dos outros, e quando contei que era gay as coisas não melhoram entre nós. Discutíamos sempre que eu ia para casa dela, meu pai até tentava remediar a situação e me fazer baixar a cabeça para evitar confrontos — coisa que ele fez bem a vida inteira —, mas nada funcionava comigo.

Nunca consegui controlar meu gênio nervoso, brigava quando tinha que brigar e quando ela me decepcionava não me calava. Sempre joguei tudo de errado que ela fez na cara dela, as péssimas escolhas e o fato de nunca acreditar em mim.

Quando um dos namorados dela esfregou a mão na minha perna e eu armei um escândalo, é claro que Judith ficou ao lado dele. Isso fez com que decidisse que não a visitaria mais e que dali por diante moraria apenas com meu pai. Pelo menos ele era sincero comigo, não escondia nada — nem mesmo os preconceitos — e sempre que eu precisava desabafar era mais fácil me abrir com ele do que com ela.

Ficamos sem nos falarmos durante meses. Apenas a perdoei quando percebi como Judith se esforçava pela família.

A verdade é que ela era capaz de tudo por quem amava, por mais dura e discreta que fosse com os próprios sentimentos.

Descobri isso quando soube que aquele mesmo namorado que ela defendeu quando contei a verdade teve uma das pernas amputadas em um acidente de carro.

Claro que ela não me pediu desculpas ou confessou o que fez. Isso porque minha mãe é uma mulher forte, que nem sempre é capaz de dizer o que sente ou confrontar alguém de imediato, mas que sabe o momento certo de agir e esconder a impulsividade.

É por isso que sempre achei que meu pai fosse o único realmente "normal" da nossa família. Afinal, a última pessoa que imaginaria que seria capaz de atropelar alguém propositalmente seria ele. Por mais nervosinho que Jonas seja, com aquele jeito de lutador e corpo de treinador de academia, ele jamais seria capaz de ferir alguém. E sempre me orgulhei dele por conta disso.

Quando Damien me contou que era gay sabia que o mundo não seria bondoso com ele, por isso o segurei ao máximo e tentei fazê-lo esconder quem de fato era

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Quando Damien me contou que era gay sabia que o mundo não seria bondoso com ele, por isso o segurei ao máximo e tentei fazê-lo esconder quem de fato era. Acho que a melhor metáfora para isso seria colocar um pássaro em uma gaiola pequena, onde ele não pudesse mexer as asas ou enxergar nada além de uma parede à sua frente.

Prendi meu filho pelo amor que sentia por ele, pelo medo de perde-lo e o receio de ser exposto quando apontassem o dedo e dissessem que o garoto queimaria no inferno por ser quem é.

Lutador VerdeOnde histórias criam vida. Descubra agora