14. Confusão

617 83 60
                                    

— Não é o fim do mundo, pai! – Lembro da voz de Damien depois de sairmos da sala da diretoria – Foi só um beijo

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

— Não é o fim do mundo, pai! – Lembro da voz de Damien depois de sairmos da sala da diretoria – Foi só um beijo. A gente não fez nada obsceno!

— Uma coisa nojenta dessas e você diz que não é obsceno...

— Não comece com isso.

— Por quê? – Refutei. – Não pode dizer que toda opinião que dou é homofóbica. Só falo aquilo que penso, não tem nada de errado nisso.

— Às vezes parece até que me odeia!

— Estou longe de te odiar, mas não posso te apoiar. Amélia pegou você e aquele garoto no banheiro da escola. Poderia ter sido expulso por isso.

— A vaca da diretora aparece no banheiro masculino e eu sou o estranho? Ela não tinha o direito de contar nada para ninguém! Nem para você e nem para o pai do Renan. Sabe o que a família dele pode fazer com o coitado?

— Não me interessa! O que me importa é o meu filho. – Percebi o semblante triste dele e tentei remediar a situação. – Escute, Damien. É só você não fica com ninguém. Não namore e não beije outras pessoas. Fácil assim. Quando fizer 18 anos pode arranjar a sua casa e fazer o que bem entender! Até lá, fique quieto!

Damien se afastou, como se estivesse ferido por conta daquelas palavras. Na hora não me importei, apenas dei meia volta e retornei para a sala de aula. O resultado disso foi que o tal de Renan nunca mais apareceu no colégio e meu filho jamais chegou a completar 18 anos.

Aquela conversa tinha sido há muito tempo e por algum motivo havia me esquecido. Foi a primeira vez que sonhei com o passado e quando acordei estava com a perna dolorida e uma dor de cabeça forte.

Yuri matou aula para cuidar de mim. Ele parecia culpado, como se soubesse que foi a nossa conversa que me incentivou a bancar o justiceiro.

Tentei dizer que tudo ficaria bem e que eu não faria algo parecido de novo, porém mais cedo ou mais tarde um novo grupo de Skinheads apareceria e não sabia se conseguiria me controlar. Não importava como me sentia bem atuando no centro de acolhimento ou como era reconfortante poder esquecer dos meus problemas um pouco para cuidar do Yuri. Sempre que fechava os olhos lembrava do quanto fui covarde com relação ao meu filho e a vontade de lutar aparecia.

— Sente-se melhor? – Perguntou Yuri, preocupado.

— É a quinta vez que digo que estou bem.

Senti cheiro de comida. Pelo visto ele estava se arriscando na cozinha, coisa rara levando em conta os péssimos dons culinários que tínhamos.

— Deveria ter ido para a escola ao invés de virar meu cozinheiro e enfermeiro particular.

— Não sou uma criança, tomo minhas próprias decisões. Resolvi que o melhor é ficar com você. Mesmo que Judith tenha dito que a faca não fez grandes estragos, todo cuidado é pouco.

Lutador VerdeOnde histórias criam vida. Descubra agora