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Após algumas horas, Kihyun e Hyungwon ainda estavam sentados no mesmo lugar, encarando o nada e em silêncio, apenas pensando no que fariam dalí em diante, e sem respostas. O de fios rosados reparou que o outro estava suando cada vez mais e sua dor parecia ainda maior, desviou o olhar e suspirou.

— Eu vou morrer, não vou? — Hyungwon perguntou com dificuldade.

— Provavelmente sim.

— Por que eu estou assim? É só um machucado idiota.

— Nós não tivemos como cuidar direito do seu machucado e ele infeccionou, não vai sarar nunca e pode piorar cada vez mais, sua febre também está absurda... Eu só não sei o que vai te matar primeiro. — Hyungwon riu, uma risada cansada, que foi interrompida por uma tosse e um grunhido de dor.

— Eu passei por inúmeras coisas nessa vida, pra morrer por causa de uma merda de um estilete.

— O que te machucou assim não foi um estilete.

— Está me chamando de mentiroso?

— E você está me chamando idiota? — o de fios cinzas arqueou uma sobrancelha e o outro o olhou — Eu sou médico, já vi feridas de todo tipo e também já vi como as pessoas ficam quando enlouquecem. Como você mesmo disse, quando as pessoas surtam, elas querem se defender. Quem fez isso com você não queria se defender, queria atacar. Você tem um corte no pescoço, ele tentou cortar sua garganta e não conseguiu, então cortou a barriga e você provavelmente o matou antes de concluir, já que a ferida não vai de ponta a ponta do seu abdômen.

— Você é muito inteligente.

— É, eu sou.

— Se é tão inteligente, então por que não me deixa vivo?

— Eu não tenho mais álcool, não tenho remédios, não tenho o que fazer. Quando o Minhyuk acordar, ele vai precisar de remédios pra dor dele e também de coisas pra cuidar do machucado, mas eu não tenho. — os dois ficaram em silêncio por alguns minutos e após pensar um pouco, Hyungwon franziu o cenho e começou a olhar ao redor.

— Espera...

— O que?

— Eu acho que esse mercadinho tem farmácia.

— É claro que não tem. Nós já rodamos esse estoque inteiro e não encontramos um comprimido sequer.

— Pode não ter estoque porque não precisa, ou então pode ter outro, um só pra isso. É, eu acho que é isso, eles podem guardar os remédios lá, não aqui misturados com a comida.

— Se tem uma farmácia na loja, com certeza já levaram tudo.

— Não se tiver estoque e ele for trancado, só nós temos a chave. Vale a pena verificar Kihyun, isso pode salvar minha vida e a do Minhyuk. — assim que o menor escutou o nome do loiro, ele suspirou.

— Sua arma está carregada? — o de fios cinzas assentiu, a retirou de sua cintura e entregou para Kihyun, que se levantou.

— Quando viemos da primeira vez, fizemos um buraco na janela da loja, você pode voltar por lá.

— Aquela onde você rasgou sua perna?

— Essa mesmo. — o menor revirou os olhos, pegou as chaves e começou a caminhar até a janela. Escalou uma das prateleiras ao lado da mesma e assim que chegou na altura dela, pegou a arma e começou a terminar de quebrar o vidro que havia alí, para ter mais espaço e correr menos risco de se cortar.

Assim que se livrou da maioria dos pedaços de vidro que restavam alí, Kihyun guardou a arma em sua cintura e colocou a primeira perna em cima da janela, depois a segunda e então virou de bruços, se segurou com as mãos com cuidado para não se cortar e desceu um de seus pés, procurando a prateleira que havia do outro lado e a encontrando logo depois, pisou alí e depois segurou a prateleira com uma mão, para só então colocar o outro pé e se soltar da janela. Começou a descer pela prateleira e acabou pisando em falso, fazendo com que ele se desequilibrasse e escorregasse até o chão. Kihyun sentiu dor na lombar pelo tombo e em sua mão, olhou para a mesma e viu que havia se cortado, o que o fez revirar os olhos.

Não acreditava que havia tomado cuidado pra não se cortar onde havia vidro, mas se machucou descendo uma prateleira idiota.

Ele escutou barulho de passos e sentiu seu coração acelerar, rasgou um pedaço de sua blusa, com dificuldade, e enrolou em sua mão antes de se levantar devagar, escutou os passos ficando mais próximos e pegou a arma, começou a caminhar na direção do barulho.

Era melhor pegar alguém de surpresa, do que ser surpreendido, então ele decidiu não fugir.

Kihyun engoliu seco ao escutar os passos atrás de sí, se virou devagar, apontando a arma, e viu um homem alto, forte, de fios pretos e barba da mesma cor, um pouco mais perto de sí do que imaginava, e muito mais do que gostaria. O homem tinha suas veias saltadas, o corpo pálido estava avermelhado, assim como seus olhos, esses que estavam arregalados, a boca seca e mãos trêmulas, ele olhou para a arma e antes que Kihyun pudesse a destravar, o homem segurou seu braço.

— Você ia atirar em mim? Por que você sempre me machuca?

— O que? Calma, eu não ia... — Kihyun tentou o acalmar, mas sua fala foi interrompida por um grito quando aquele homem forte começou a torcer seu braço, até o menor não ter mais força para segurar a arma e a soltar.

Assim que ele soltou a arma, o homem segurou seu pescoço e bateu suas costas em uma das prateleiras, fechando a mão cada vez mais, enquanto o de fios rosados tentava retirar a mão dele dalí e falhava, sentindo seu ar desaparecer aos poucos.

Kihyun juntou toda a força que ainda o restava e a usou para levantar sua perna com rapidez e força, dando uma joelhada nos testículos do maior, esse que o soltou no mesmo instante. O menor começou a correr, mas logo foi alcançado pelo homem, que o puxou pela camisa, o levantou e o jogou no chão, na direção de uma das prateleiras, onde Kihyun bateu as costas e, em seguida, a cabeça.

Mesmo com a dor, o menor não pensou duas vezes antes de se arrastar para longe daquele homem, esse que correu até ele e derrubou uma das prateleiras no chão, na intenção de acertar Kihyun, que por sorte, já havia saído dalí.

Ele se escondeu atrás de outra prateleira e tapou sua boca para abafar seus grunhidos de dor e a respiração, evitando que o outro o escutasse. Kihyun sentia as lágrimas que caiam de seus olhos acumularem sobre seus dedos e deslizarem sobre os mesmos enquanto escutava o homem falar coisas como "Eu não vou deixar você nos machucar de novo".

— Eu não gosto... — escutou uma voz mais fina e baixa falar com dificuldade e olhou para o lado, vendo uma mulher jogada no chão, cercada de sangue e o corpo completamente machucado, como se tivesse sido rasgado — Eu não gosto de aranhas. — falou, olhando para Kihyun enquanto tentava se mexer, mas estava fraca demais para aquilo, até o momento em que ela parou de tentar e ficou completamente imóvel, o que levou o menor a entender que ela havia morrido.

O de fios rosados chorava cada vez mais e ficava mais difícil fazer silêncio, até ele escutar o homem gritar as mesmas coisas que estava repetindo, mas em um tom mais desesperado. Escutou um barulho de tiro, depois um silêncio momentâneo, que foi interrompido por passos pesados que iam em sua direção, o desesperando ainda mais.

Side EffectOnde histórias criam vida. Descubra agora