Ótimo, agora eu teria que pagar pelo espelho do hotel.
Exercícios de respiração. O canivete se encontrava em cima da pia nesse momento e eu evitava olha-lo muito pois sabia que, quanto mais o encarasse, mais meu corpo pediria pelo toque da lâmina fria contra minha pele.
Eu sabia que precisava sair dali. Quanto mais tempo ficasse dentro daquele quarto minúsculo de hotel, mais iria surtar. Ainda era de manhã então provavelmente o hospital estava no meio de seu primeiro horário de visita do dia. E como culpado do acidente de Gerard o mínimo que podia fazer era ir visita-lo.
Assim que entrei no carro, dei play no CD que se encontrava no pequeno rádio, era um CD antigo do queen com uma compilação dos maiores hits da banda. Dei graças a Deus assim que as primeiras notas de killer queen (música na qual havia parado na noite anterior) invadiram meus ouvidos. Estava aí a única coisa capaz de me ajudar nas típicas crises: música.
Em pouco tempo já me encontrava na frente de uma das recepcionistas do Hospital Central. Realmente esperava que a jornalista (qual era mesmo o nome dela?) tivesse razão quando disse que era naquele hospital que Gerard estava.
-Gerard Way, por favor. -Disse assim que a recepcionista loira percebeu minha presença.
-Só um minuto. -Ela disse procurando o nome no computador. -O que você é dele?
Era uma pergunta complexa. Queria responder que éramos namorados, mas provavelmente isso seria estranho e nem éramos realmente isso. Mas o que eu deveria falar? "Somos parceiros do crime, assaltamos casas juntos" não me parecia uma resposta adequada para alguém que não gostaria de ser preso. Demorou um tempo até que eu percebesse que a loira continuava me encarando esperando uma resposta.
-Primos. É, somos primos.
Realmente não foi nada convincente. Ela pareceu desconfiar, mas mesmo assim me passou o número do quarto.
Quarto 23, ala Sul no segundo andar era onde me encontrava agora. Para ser mais exato em sua porta. Aquilo era...Difícil.
Ao abrir a porta eu o vi ali. Vários aparelhos conectados em seu corpo tão perfeito, aquilo era doloroso de se ver. Seus belos olhos estavam fechados e ele parecia mais pálido do que normalmente. Na sua cabeça havia faixas brancas que continham alguns pontos um pouco vermelhos devido ao sangue. Way continuava lindo e eu provei a mim mesmo que era impossível que parecesse feio em algum momento, porém mesmo assim eu odiava o ver daquela maneira, tão frágil, tão indefeso.
Toquei com cuidado sua mão. Ela estava tão fria que aquele toque me deu arrepios. Eu queria poder sentir o calor que emanava de seu corpo, sentir como se estivesse tudo bem e que nada havia mudado.
Me sentei em uma poltrona que ficava ao lado da cama ainda segurando sua mão. Ele iria acordar a qualquer momento, não ia? Lágrimas silenciosas escorriam pelo meu rosto. Ele estava naquele estado por minha causa?
-Frank Lero? -O médico que tinha aparecido do nada no quarto disse.
-É...Quase. -Normalmente eu iria começar a gritar ou a discutir explicando que meu nome era Frank Iero que aquela porcaria era um I e não um L, mas eu me encontrava tão mal que apenas preferi ignorar.
-Hum...- Ele parecia confuso com a resposta, mas também ignorou.
O Dr.Ross explicou alguns detalhes da situação de Gerard. Coisas como o fato da bala não ter ficado alojada e ter atingido apenas um dos hemisférios cerebrais. Ele me explicou que durante a cirurgia eles tiveram que retirar uma parte do crânio de Way, pois assim caso o cérebro inchasse ele não iria se comprimir. Também disse mais algumas coisas que não compreendi muito bem. No geral, segundo o médico, Gerard tinha levado sorte (se é que alguém que leva um tiro na cabeça tenha sorte). Ele tinha até que boas chances de ficar com poucas sequelas se acordasse.
E aí estava o problema, esse se. Quantas coisas na vida não desmoronam por um simples se? Uma droga de palavra de duas letras que poderia fazer um estrago em qualquer vida. E isso me lembrou de todos os meus "se". E se eu não tivesse pedido uma guitarra de presente de 16 anos? E se meu pai tivesse escolhido outro dia para pega-la? E se eu continuasse vivendo com Linda? E se eu nao tivesse deixado Gerard? Mas o pior de tudo, e se Gerard nunca acordasse?
Deixe-me explicar melhor. Pode levar semanas ou até meses para os médicos avaliarem a extensão completa dos danos que uma bala pode causar. Outro fator é que o corpo humano é algo extremamente singular e cada pessoa responde de um jeito ao dano, nesse caso havia duas possibilidades: o corpo de Gerard poderia o manter respirando adequadamente e manter sua pressão arterial alta o que, uma hora ou outra, iria resultar em seu despertar. Ou seu corpo poderia simplesmente não resistir, sua pressão arterial diminuir drasticamente, diminuindo também a taxa de oxigenação o que acabaria resultando no meu pior se.
Após as explicações, o médico se virou indo em direção a porta, mas antes de sair me disse algo.
-Alguns costumam acreditar que pessoas em estado de coma conseguem nos ouvir. Quer dizer, seu subconsciente consegue.
E então ele se foi, me deixando mais uma vez sozinho com meus pensamentos sufocantes.
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The Ghost of You
Fanfiction"Tudo o que sabia era que Gerard Way jamais misturava amor e negócios. E eu, Frank Iero, era um negócio. Apenas um negócio." Frank Iero e Gerard Way os dois maiores ladrões da cidade. Frank apenas queria dinheiro para levar uma vida tranquila, Gerar...