Thirteen - I don't like hospitals

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O horário de visitas da tarde era sempre o mais movimentado, porém, naquele dia em especial, havia mais pessoas que o normal. Várias mulheres desesperadas em frente ao balcão das secretárias falavam ao mesmo tempo e era perceptível que suas vozes estavam embargadas pelo choro. A cena era triste, mas eu sabia que, infelizmente, não havia nada que eu pudesse fazer, por isso me dirigi (com um pouco de dificuldade, devido ao tumulto do hospital) ao quarto de Gerard.

Assim que abri a porta vi Ryan de costas checando os aparelhos e fazendo suas anotações.

-Boa tarde, senhor Iero. -Ele disse se virando ao notar minha presença.

-Boa tarde, doutor.

-Tenho ótimas notícias. Falei com o médico amigo meu que trabalha na clínica e ele conseguiu uma vaga para o senhor Way. - Ryan disse, ainda terminando as anotações.

-Isso é incrível! Quando vamos poder realizar a transferência? -Falei animado.

Até que enfim uma notícia boa.

-Em breve. Mas antes você precisa falar com esse médico para acertar todos os detalhes. -Ele disse enquanto estendia um cartão que continha um telefone em minha direção.-O nome dele é Patrick. É um dos melhores neurologistas que conheço e trabalha na clínica a cerca de 4 anos. É só ligar e falar que eu o indiquei, ele saberá do que se trata.

-Eu nem sei como te agradecer.

-Não precisa, eu estou fazendo apenas meu trabalho.

Eu sorri, demonstrando minha gratidão.

-Fiquei sabendo que um outro primo veio visitar Gerard essa manhã. É muito bom saber que a família se importa.-Ele disse simplesmente.

-Outro primo?

Rezei internanente para que meu tom de voz confuso passasse despercebido.

-Sim, eu não pude nem falar com ele na verdade, o hospital está lotado hoje devido a um acidente que ocorreu aqui perto, então nem tive tempo. Acho que o nome dele era James ou algo assim. Uma enfermeira me disse que ele estava com pressa e nem chegou a entrar no quarto, apenas ficou olhando pela janela.

Gerard nunca havia me falado sobre a sua família, eu nem sequer sabia se ele tinha parentes que moravam na cidade. Mas aquilo era óbvio, a notícia do tiro estava nos jornais, foi exatamente por isso que soube que Gerard estava naquele hospital. Se Way tivesse parentes próximos eles obviamente iriam acha-lo ali.

-A família dele não sabe, não é? -Ryan perguntou.

-Como? - Respondi com outra pergunta, sem entender onde ele queria chegar.

-Eu sei que vocês não são primos, não precisa mentir pra mim. Algumas pessoas se passam por parentes para ver o namorado ou namorada, isso é até bem normal, principalmente quando eles não se dão bem com os familiares.

-A gente...

Pensei melhor antes de terminar a frase. Não, a gente não era namorado, porém seria extremamente complicado explicar nossa relação e explicar porque eu não conhecia nenhum dos parentes dele.

-É. A família dele é muito conservadora e não aceita o fato de Gerard ser gay.- Disse por fim.

Ótimo. Parecia uma boa desculpa.

-Entendo muito bem como são famílias conservadoras.- Ele disse, com um pouco de tristeza na voz, mas voltando ao normal em sequência.- A atividade cerebral de Gerard teve novamente um pico durante a madrugada. Durou poucos segundos como da outra vez. Ainda estamos analisando melhor os aparelhos para termos uma noção do estado geral, mas o que sabemos até agora me deixa bastante otimista.

Uma enfermeira entrou no quarto para chamar Ryan antes que eu pudesse responder qualquer coisa. Um dos pacientes estava tendo uma parada cardíaca. O doutor apenas me disse que precisava ir e saiu correndo do quarto o mais rápido possível. Então mais uma vez era apenas eu e Gee. E mais uma vez eu não conseguia deixar de sentir um misto de tristeza e culpa.

-Você ouviu? O doutor disse que está bastante otimista com o seu estado e conseguiu uma vaga na clínica. Você logo irá acordar, eu prometo.

Eu já nem sabia se estava falando aquilo para Gerard ou para mim mesmo. Eu precisava assegurar que finalmente coisas boas estavam acontecendo, eu precisava ter certeza que ele iria acordar um dia e precisava ter certeza de que ele me perdoaria.

-Sabe, eu queria pedir desculpas por ter tentado abrir o cofre. Eu sei que é algo pessoal e que eu não deveria ter feito isso, principalmente agora.- Soltei um longo suspiro.-Acho que "tô" ficando louco. Eu te vejo andando pela casa e então você desaparece, eu só queria que ficasse por mais tempo, só queria que me explicasse o que está acontecendo e que falasse que tudo isso não é apenas uma invenção da minha mente perturbada.

Olhei pela janela na intenção de encontrar algo que pudesse me acalmar. A realidade é que eu nunca havia gostado de hospitais. Claro, eu poderia tranquilamente ignorar aquilo para continuar ao lado de Gerard, porém aos poucos, aquele sentimento ia tomando conta de mim. Já fazia um tempo que eu estava indo diariamente no hospital para visitar Gerard e, até então, tudo parecia normal. Qual é? Eu tinha acabado de receber boas notícias, eu deveria estar bem, certo? Errado!


Flashback on

-Ela está em coma alcoólico. - O médico me informou.

Havia recebido um telefonema logo no início da manhã. O número era de minha mãe, entretanto quem estava falando era um homem que, pela voz, aparentava ter seus 40 anos. Ele havia dito que encontrara meu número nos contatos de emergência daquele celular. Linda estava desmaiada no banheiro do bar e fora encontrada por ele durante a manhã, ele também me informou o hospital onde ela se encontrava e agora eu estava lá, a espera de mais notícias.

Aquilo era totalmente estranho, minha vida havia se tornado totalmente estranha durante esse tempo, para falar a verdade. Eu era apenas um garoto de 17 anos e já precisava dar conta de mim e de minha mãe. Na maior parte do tempo eu me sentia como um pai que precisa consertar as merdas que a filha faz e ainda precisa aguentar seu ódio.

-Está tudo bem? Você parece meio fraco. - O médico disse ao me analisar.

Não, eu não estou bem. Não é muito fácil se alimentar direito tendo que comprar comida para duas pessoas e pagar todas as contas estando em um emprego de meio período. Não é fácil ver sua mãe chegando em casa toda noite bêbada. Não é fácil sabe que ela entrou em coma. Não é fácil não ter um pai. Não é fácil saber que isso tudo é culpa sua.

-Sim, eu estou bem. É apenas sono, não costumo acordar tão cedo em dia de sábado. Sabe como é. -Eu menti, tirando um certo humor de algum lugar profundo do meu ser.

-Ela vai ficar bem okay? Você não precisa se preocupar. -Ele assegurou, provavelmente percebendo a mentira. -Agora preciso voltar lá pra dentro.

Flashback  off

Ele também mentira.

Linda havia acordado, mas não havia ficado bem. Mesmo com a terrível experiência do coma, ela continuava saindo e exagerando na bebida. Ryan havia dito que Gerard ficaria bem. Eu apenas não tenho certeza se acredito nisso.



Notas

Psé, eu finalmente postei capítulo irra!

Me desculpem pela demora, as coisas andam meio confusas na minha cabeça, pra falar a verdade. Mas aqui estou agora!

Esse capítulo tem algo muito importante pra história daqui em diante. Vocês sabem do que se trata? Sabem por que é importante? Nada aqui é por acaso, nada aqui é coincidência. Só sei de uma coisa: agora isso começa a ficar interessante.

The Ghost of You Onde histórias criam vida. Descubra agora