Sixteen - Father's sins...

119 15 4
                                    

-Seu...pai?

Ouço a voz de Gerard vacilar enquanto ele se vira de costas para mim.

-É por isso que ele se parece tanto com você...é por isso...

Ele parecia estar agora em um mundo próprio, ignorando completamente a minha presença no quarto e murmurando mais algumas coisas que eu era incapaz de compreender. E eu...eu apenas estava me sentindo confuso como nunca antes, ainda duvidando se aquilo tudo era um sonho ou a realidade. Antes que eu pudesse sequer pensar em abrir minha boca, Way se vira para mim, agarrando meus ombros em um toque que fez todo o meu corpo se arrepiar: eu era capaz de sentir aquela sensação gelada e fantasmagórica através da manga da camiseta me fazendo congelar naquele exato momento. O olhar de Gerard estava focado no meu, como se buscando por uma pequena chama de coragem, uma faísca de força para abrir a boca e dizer tudo que era necessário.

Eu não acho que ele foi capaz de encontrar o que estava buscando, mas há certas coisas que devem ser feitas, há certas coisas que devem ser ditas, mesmo quando não se há força ou coragem o bastante pata tal e essa era uma dessas coisas.

Foi assim que Gerard Way começou a me contar a história por trás do cofre, a história por trás de sua vida e de seu passado e como, por coincidência do destino que adora pregar peças de mal gosto, tudo isso marcou minha vida para sempre mesmo sem nenhum de nós saber. 

*

Em algum momento da conversa, o qual não consigo me lembrar exatamente, o cansaço se apoderou do meu corpo tornando tudo em volta em uma prisão negra e silenciosa. Agora que eu havia acordado, eu estava deitado na minha cama, sem vestígios da presença de Gerard além do cofre aberto, as cartas esparramadas e a foto de meu pai jogada no chão.  Foi apenas isso que me fez crer que aquele momento anterior tinha realmente acontecido e não era apenas loucura da minha cabeça.
A minha mente estava trabalhando a mil por hora, somente agora sendo capaz de juntar todos os fatos, avaliando e reavaliando tudo que eu havia ouvido de forma que eu pudesse compreender, de forma que fizesse algum sentido lógico.

O primeiro sentimento é incredulidade, o segundo sentimento é choque, o terceiro sentimento é raiva. Tudo isso acompanhado como se fosse um soco diretamente na boca do estômago.

*

A vida de Gerard havia sido uma vida boa, pelo menos até seus pais morrerem em um trágico acidente aéreo deixando seus dois filhos órfãos. A guarda de ambos passou para o parente mais próximo, seu tio por parte de pai, que fez questão de colocar ambos em um orfanato o mais rápido possível. Aos 18 anos Gerard fugiu, levando consigo seu irmão mais novo, Michael.

Minha mente estava agora remontando a história, em uma linha do tempo organizada. A descoberta de que Gerard possuía um irmão e nunca nem sequer falara sobre não foi, nem de longe, a descoberta mais chocante do dia.

Dois adolescentes vivendo sozinhos por conta própria. Em algum momento o Way mais velho se deu conta de que suas habilidades em ilusionismo (ensinadas pelo pai) poderiam ser úteis. Ele arrumou um emprego que não era suficiente para alimentar duas bocas e então conseguiu isso de outra forma e ele era bom, ele sempre fora bom em passar despercebido, mas nas cidades sempre há aqueles que veem tudo, não importa o quão escondido esteja, e eles viram o talento daquele garoto de 19 anos na época e o chamaram para fazer parte de algo maior. Gerard Way era muito inteligente desde aquela época, mas ainda era  ingênuo e não sabia onde estava se metendo, pois se soubesse jamais o faria.

"Quando já se está dentro não há como sair ileso. É como pular de um precipício esperando que haja opção de mudar de ideia durante a queda...Não tem, nunca teria."

A frase de Gerard continuava reverberando na minha cabeça, produzindo ecos fantasmas e arrepios. Aquela era a parte da história que eu não conseguia engolir. A parte que mudava tudo. A parte que abria um buraco na minha vida e ao mesmo tempo fechava outro.

"Um dia eles me entregaram uma pasta que continha alguns fatos sobre um homem. Eles disseram que o cara tinha dívidas de jogo e que pegou dinheiro emprestado da gangue e não tinha condições de pagar e por isso iria fazer um acordo com a polícia. Iria entregar eles."

Era como se eu pudesse ouvir a voz de Gerard ali ainda presente falando cada palavra.

"Eles disseram que eu deveria estudar sobre aquele homem, seus hábitos, seus horários e que se eu realmente quisesse provar minha lealdade, em uma semana ele estaria morto e tudo iria parecer apenas um simples acidente. Eu não sabia o nome dele eu só tinha uma foto...essa foto".

O peso de cada uma daquelas palavras estava me atingindo em cheio novamente. Tudo em volta parecia uma mera ilusão.

"Eu fiquei desesperado, eu não queria matar alguém seja lá o que essa pessoa tivesse feito, eu não era e não sou um assassino, Frank. Eu acho que...por um impulso idiota eu procurei a polícia, eu queria impedir aquilo de qualquer forma, mas ao invés disso eles descobriram".

Eu conseguia lembrar de cada uma de suas expressões, da dor e do desespero que pela primeira vez eu vi passar pela sua face.

"Aquele homem...seu pai morreu...e eu por pouco não tive o mesmo destino. Eles decidiram que eu era mais útil estando vivo, que meus talentos podiam render algum dinheiro pra eles. E por isso eles vigiam meu irmão...pra fazer questão de que eu me mantenha "na linha". Eu sempre mando uma parte do dinheiro dos assaltos pra eles e concordei em ficar eu silêncio sobre tudo e em troca...eles deixam o Mikey viver em paz."

Essas foram as últimas palavras que eu me lembrava de ter ouvido. Tudo aos poucos começava a fazer sentido. Quando Way saía de casa sozinho levando sua parte do lucro, porque ele sempre guardava tudo que sentia para si, sua expressão fria e distante, seus segredos e porque ele me mantinha sempre tão longe. Era muita coisa para um dia só. As revelações sobre meu pai...Sua morte não havia sido um acidente e além do mais não era minha culpa...Eu não tinha causado a morte de meu pai, porém isso não tornava as coisas mais simples ou fáceis de aceitar.

Eu precisava dormir. Eu precisava acordar no outro dia e ver que tudo era só um sonho, mas eu sabia que isso não aconteceria.
Então eu precisava ser forte, eu precisava lutar. Tudo isso não havia me feito desistir de Gerard, mas pelo contrário, me dado mais forças pra continuar.


-Notas

SURPRESA, eu não morri e assim como diz o ditado, "quem é vivo sempr aparece" e eu finalmente apareci.

Eu fiquei realmente chocada com a quantidade de pessoas que vieram me pedir/perguntar sobre os capítulos novos da fic e se esse capítulo saiu hoje isso é apenas graças a vocês e a essas mensagens. Toda vez que alguém comenta ou vota na fic eu vejo que ela ainda é relevante e interessante para as pessoas e então aquela vontade arrebatadora de escrever aparece novamente.
Esses últimos dias tem sido bem difíceis para mim então eu decidi que iria me dedicar a escever o capítulo novo para me distrair e além disso fazer algumas pessoas felizes, pelo menos seria algo útil. Eu sei que demoro muito pra atualizar, mas eu não sou o tipo de pessoa que consegue escrever por mera conveniência. Se eu vou escrever eu tenho que dar o meu melhor, eu tenho que fazer o tempo que vocês tiram para ler valer a pena e eu espero que eu esteja conseguindo manter essa missão.

Obrigada a todos que chegaram até aqui, obrigada pela paciência, pelo apoio e pela compreensão. Obrigada por serem os leitores mais incríveis que alguém como eu poderia ter. A TGOY não seria nadinha sem cada um de vocês e obrigada pelos mais de 2,5k de leituras.

Vejo vocês no capítulo 17,

Beijos de cereja,

Candy🍬


The Ghost of You Onde histórias criam vida. Descubra agora