Eleven - Mr.Ghost

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2 anos atrás

-Gerard Way? Tipo caminho? - Eu disse rindo, já meio bêbado após algumas (leia-se muitas) garrafas de cerveja

-Um metro e sessenta e oito? Tipo anão? - Gerard respondeu, se divertindo com a situação.

-Vai se fuder, Gerard.

Era a primeira vez que nos encontrávamos após o roubo do relógio. Eu estava no bar tocando quando Gerard chegou e, após minha apresentação, decidi sentar-me para beber com ele.

- Tá vendo aquele cara ali? - Ele sussurrou no meu ouvido fazendo um gesto com a cabeça na direção do homem que bebia em uma das mesas do fundo.

Eu assenti.

-Totalmente bêbado, o que significa reflexos lentos e uma baixa na capacidade de análise das situações.- Ele explicou. -Agora olhe como um profissional faz.

Ele se levantou da nossa mesa e foi até o cara. Fiquei o observando atentamente. Enquanto falava de alguma coisa (a qual não conseguia ouvir), sua mão descia em direção ao bolso do casaco do homem. Depois de um tempo ele voltou.

-Mais uma rodada de cerveja?- Ele mostrou o dinheiro dando um sorriso de canto. -Por conta daquele troxa ali.

Dias atuais.

-Gerard? -Falei totalmente em choque.

Ele sorriu e, em seguida, abriu a boca como se quisesse falar algo, mas a fechou em sequência. Antes que pudesse pensar em qualquer coisa ele desapareceu, como a neblina que simplesmente se dissolve diante dos olhos.

Então era isso, eu estava ficando louco. Gerard não podia estar realmente ali, não é mesmo? Ele estava no hospital e era por minha culpa. Então talvez eu merecesse mesmo a loucura, talvez aquilo fosse um castigo e eu realmente não me importava de ser castigado, mas naquele momento eu precisava me manter são.

*

Planejar um roubo não é e nunca será fácil, principalmente quando sua cabeça está cheia de outras coisas como uma possível loucura. Na verdade, acho que nunca fui muito bom nessa parte "teórica" dos assaltos, já Way era um mestre em planejamentos. Ele pensava em coisas que ninguém jamais pensaria, Gerard era sem dúvidas um gênio, mas um gênio diferenciado. Quero dizer, a maioria das pessoas acha que gênios são apenas aqueles que possuem ótimas notas na escola, conhecimentos de matemática ou ciências, mas isso é um pensamento equivocado. Existem gênios em vários ramos e de várias formas diferentes, pessoas absolutamente incríveis no que fazem, pessoas que pensam em coisas que outras jamais pensariam, pessoas totalmente criativas e idealistas, são estas as características de um verdadeiro gênio e Gerard era tudo isso e muito mais.

Dei mais uma revisada no planejamento. Eu tinha levado muita sorte, como aquela era a casa que Gerard planejava assaltar no dia do incidente, ele já havia feito suas anotações, agora era necessário apenas algumas pesquisas para descobrir qual seria a melhor data para o assalto. Após uma olhada na Internet, descobri que o milionário Dallon Weekes estaria presente em um evento de gala que aconteceria em 3 dias. Casa vazia durante toda a noite, bingo.

Com todos os detalhes já planejados decidi arrumar toda a papelada para, em sequência , dormir (ou pelo menos tentar). Teria de acordar cedo, fazer as contas de quanto dinheiro ainda possuía e vender os objetos que ainda restavam de roubos anteriores. Com esse dinheiro pretendia pagar as despesas hospitalares e a transferência de Gerard.

Aquela foi mais uma de minhas noites em claro. Muito ainda se passava pela minha cabeça. Será mesmo que eu estava ficando louco? Aquilo... A visão de Gerard parecia tão real, era como se ele estivesse realmente ali, era como se eu pudesse sentir sua presença. Eu não sei muito sobre a mente humana, para falar a verdade. Não sei o que nosso cérebro é capaz de fazer, não sei o que a loucura realmente faz, mas minha mente não poderia criar algo tão real quanto aquilo.

Ou poderia?

*

Se tem algo que aprendi sobre as noites em claro (após tantas noites em claro), é que elas são a melhor forma de se criar paranóias. E naquela manhã muitas paranóias sondavam minha mente, porém eu iria ignora-las.

Após contar todo o dinheiro que restou, entrei em contato com os nossos compradores, afinal itens roubados não podem voltar ao mercado de uma forma "normal", pois estão na mira da Polícia. Há pessoas especializadas para reintroduzirem estes itens em um mercado paralelo, e bem mais lucrativo que o original. Logo todo esse dinheiro estaria em minha conta, afinal é como dizem: tudo na vida se trata de conhecer as pessoas certas.

Horário de visita matinal. Tomei um banho e me arrumei para ir ao hospital, verificando se todos os papéis referentes a internação de Gerard já se encontravam em minha pasta. O caminho até o hospital foi tranquilo, acompanhado, claro, pelo som do rádio que tocava living after midnight do Judas Priest. Chegando ao hospital, falei com uma das secretárias e fui até o já conhecido quarto 23, no segundo andar. Aquilo doeu mais uma vez, ver Gerard daquela forma me machucava de uma forma inexplicável.

-Oi, Gee.

Parecia meio ridículo conversar com alguém naquele estado, mas eu esperava que ele pudesse me ouvir.

-Eu juro que estou fazendo tudo que posso para que fique bem, mas é meio difícil sem você aqui.- Disse com tristeza na voz.- Mas eu prometo que vou conseguir todo o dinheiro necessário para os tratamentos. Eu prometo que não vou desistir de você.

Fiquei mais algum tempo apenas apreciando a beleza e presença de Gerard até que a porta se abriu.

-Olá, senhor Iero.- Dr.Ross me saldou.

-Oi, Doutor. Alguma novidade sobre o estado de Gerard?

-Ainda não. -Ele disse enquanto olhava alguns papéis, que supus serem exames. -Mas durante a madrugada a atividade cerebral dele teve um pico por alguns poucos segundos. Ainda não sabemos o que significa, porém a longo prazo não causou nenhuma alteração.

-E isso é algo bom?- Perguntei sem entender muito bem o que o médico quis dizer.

-Em primeira análise, sim. Mas como disse anteriormente foram apenas poucos segundos, o que não é o suficiente para uma análise mais detalhada.

Fiz um gesto afirmativo com a cabeça enquanto tentava compreender (sem muito sucesso) o que Ryan acabara de me falar.

-Sobre a transferência para a clínica... Eu já consegui o dinheiro necessário. - Falei, querendo que Gerard fosse transferido o mais rápido possível.

-Bom, eu vou entrar em contato com um médico amigo meu que trabalha lá. Assim que conseguir a vaga eu aviso.

-Muito obrigado.

Ryan saiu do quarto em seguida pois tinha que atender outro paciente. Fiquei com Gerard até o fim do horário de visitas e, em sequência, me dirigi até a diretoria do hospital para pagar uma parte dos custos referentes a sua internação.

Aquele seria um dia longo e totalmente tedioso.

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