The Ghost of You

Seventeen - Confused

Só acordo no dia seguinte com o barulho do despertador.

Eu sentia como se uma manada de elefantes tivesse acabado de desfilar em cima de mim. Meu corpo inteiro doía e minha cabeça ainda mais. Os pensamentos continuavam se repetindo, um em cima do outro, como alunos dando suas opiniões em uma sala de aula completamente desordenada e caótica. Eu, como o professor da sala, poderia gritar, ordenando que se calassem, mas nem mesmo tinha forças para isso.

"Você precisa se acalmar e respirar, Frank. Respirar". Tentei lembrar do conselho da psicóloga da época do colégio.

"Mas, ora, eu estou respirando, caso contrário estaria morto, não é?". Isso seria exatamente o que meu eu, estúpido e problemático de 16 anos, iria responder. Mas eu não tinha mais 16 anos, então por que ainda me sentia como aquele garoto imaturo e indefeso que era incapaz de lidar com seus problemas?

Viro minha cabeça para o lado, fazendo com que meu olhar se foque na foto caída do meu pai ao chão. O evento traumático que mudou para sempre minha vida foi, coincidentemente, o mesmo que mudou para sempre a vida de Gerard. As coincidências eram mesmo vadias do pior tipo.

"Que ligação ótima para se ter com alguém, não é mesmo?" Ironia - a única coisa capaz de deixar o amargor ainda mais amargo e ao mesmo tempo mais interessante. De qualquer forma, tudo que Gerard havia dito fazia sentido, quer dizer, quase tudo.

"Você não entende, não é? Aquilo não foi um acidente, não tentaram me roubar, Frank. Eles me querem morto."

Aquela frase específica de Gerard havia voltado a minha mente. Por que tentariam o matar agora? Depois de anos tendo se passado, anos nos quais aterrorizaram Way ameaçando seu irmão mais novo, anos nos quais ele havia dado um enorme lucro e nunca tentado se rebelar. Por que tão de repente? E enquanto eu estava nessa linha de pensamento verdadeiramente promissora (ou, provavelmente, não), ouço meu celular tocar na mesinha ao lado da cama me fazendo bufar um pouco bravo. Eu não estava com cabeça e muito menos com ânimo para falar com alguém, mas mesmo assim decidi pegá-lo e olhar o nome na tela brilhante: Dr.Ross. Deveria ser algo importante.

-Bom dia, senhor Iero. -Ele disse do outro lado da linha assim que atendi à ligação. Sua voz era quase robótica, não havia emoção nenhuma que pudesse ser identificada.

"Talvez esse seja um dos quesitos para se tornar um bom médico: saber ser imparcial e frio às vezes". Pensei em silêncio.

-Bom dia, doutor Ross. Aconteceu algo? - Pergunto tentando esconder minha preocupação, mas, ao contrário do médico, eu podia ter certeza de que o nervosismo era evidente na minha voz.

-Você poderia ir até a clínica às 13h de hoje? O Dr.Stump me ligou e eu também estarei lá. - Ele dá uma pequena pausa, provavelmente se lembrando de que suas palavras estariam me deixando ainda mais nervoso. -Ah e não se preocupe, Gerard está estável, é apenas uma conversa sobre seus exames recentes, mas sinto muito, não sei mais detalhes.

A informação de que Way estava estável me fez finalmente soltar o ar que estava prendendo desde o início da conversa.

-Certo. - Falo ainda tentando me recuperar e voltar para a realidade. - Eu estarei lá, obrigado por ligar.

*

Foi cerca de uma hora desde a ligação até o momento em que eu tive, finalmente, forças para levantar da cama. Às vezes os dias são tão complicados que você se sente um verdadeiro vencedor apenas levantando da cama e, sinceramente, não há nada de errado nisso. Acho que todos temos alguns dias assim e isso, por incrível que pareça, me dava uma sensação de normalidade tão desejada em meio a comas, descobertas chocantes do passado e, é claro, fantasmas. Acho que tudo que eu precisava era de um bom banho. Eu sabia que era impossível que todos os meus problemas fossem embora com a água, assim como a sujeira, mas a água morna fazia meus músculos relaxarem depois de tanta tensão. Acho que se o "clube das pessoas que tomam banho para se sentir melhor" existisse de verdade eu não seria o único membro.