Eu realmente tinha razão: aquele dia passou de forma lenta e absolutamente tediosa. A não ser pelo fato de Joe (o "contato" que ficava responsável pela venda dos itens roubados por mim e Gerard) ter passado no "esconderijo" durante a tarde para pegar as jóias e aparelhos que restaram de roubos anteriores, nada mais havia acontecido.
Uma TV a cabo e muitas xícaras de café, que não faziam a menor diferença no meu sono. Na verdade eu tenho uma teoria sobre a cafeína: acho que depois de ingerir muita, seu corpo se acostuma e ela não exerce mais efeito nenhum, assim como certos remédios. Por outra lado, se a cafeína não conseguia mais acabar com meu sono, a ansiedade ainda o aniquilava.
Eram exatas 2 da manhã quando olhei o relógio talvez pela décima vez seguida. Minha mente e meu corpo se encontravam esgotados, mas se recusavam a me deixar dormir. Ótimo, outra noite em claro!
E foi, talvez às 3 da manhã (ou as 2h30, mas quem pode saber?), que meu olhar se dirigiu a um ponto que ficava a direita da cama. O quarto estava parcialmente iluminado devido a luz que vinha da janela, porém, mesmo no completo escuro, eu ainda poderia saber o que era que estava olhando: o cofre. Ele se encontrava lá, naquele mesmo lugar de sempre, despertando minha curiosidade. Gerard evitava abri-lo quando eu estava por perto, então eu não fazia a mínima ideia do que aquela coisa podia conter.
Sentei-me na cama ainda encarando a peça de metal. Fazia aproximadamente 2 anos que tentava descobrir o que havia lá dentro, sempre perguntando e ganhando alguma grosseria de Gerard em troca."São coisas minhas". "Não interessa". "Já disse pra você parar de se intrometer nas minhas coisas". Ok, senhor chato Way, I'm going to stop. Porém, entretanto e todavia Gerard não estava lá naquela noite.
Não havia tentado abrir o cofre antes, pois tinha medo de que Gerard acabasse descobrindo e eu realmente não estava a fim de (mais) brigas. Porém, no estado atual, não acho que deveria me preocupar com a possibilidade de ser descoberto. E bom, agora não havia nada me impedindo. Só eu, o cofre e hum, uma senha de 6 dígitos (o que não seria nada de mais para um ladrão "especialista" como eu).
Aquela velha história de filmes de Hollywood: um bom estetoscópio, ouvido treinado, um pingo de cálculo e "Voilà" você abriu um cofre. Simples assim.
E da mesma forma simples, em alguns minutos já me encontrava em frente ao cofre com o estetoscópio, tentando ao máximo me concentrar.
Primeiro número. Clique: 10.
Segundo número. Clique: 9.
Terceiro número. Clique, 1.
Quarto número. Clique, outro 9.
Quinto número...
Um grande barulho vindo da cozinha.
-Mas que porra?! - Gritei, levemente assustado, tirando o estetoscópio do ouvido e me dirigindo até lá.
Ao chegar na porta que separava o pequeno corredor da sala (que também era uma copa), vi ele novamente. Foi rápido, um vulto entre as cortinas. Mas eu sabia. De alguma estranha forma eu sabia que era novamente Gerard. Talvez fosse minha mente me culpando por fazer algo que não devia, ou talvez fosse o fantasma de Way, bravo por eu ter mexido em algo dele, eu sei lá.
Ignorando tudo isso, me dirigi a cozinha, lugar de onde supostamente o barulho teria vindo. Algumas panelas que, antes se encontravam no escorredor de louças, agora estavam caídas no chão. Bom, ilusões criadas pela mente não derrubam coisas, logo havia sido o vento, apenas o vento.
Decidi voltar para a cama. As panelas caídas podiam ser guardadas em outro momento e o cofre...Era melhor deixar isso quieto. Fantasma ou não, a visão me fez perceber que tudo aquilo era um grande erro, Gerard estava em coma e eu estava me aproveitando disso, o que era completamente desprezível.
É Way, parece que mais uma vez você conseguiu me impedir de abrir aquela coisa.
*
Outra noite em claro e aquele papo sobre paranóias, mas dessa vez eu não me daria ao luxo de ignora-las. Após tomar meu café da manhã (e guardar as panelas caídas, claro), decidi ir até uma pequena livraria que ficava perto do hospital. Acho que não pensei muito bem sobre o que realmente falar até entrar no local e ver um moço no caixa. Porte e altura médios, um tanto quanto forte, pele morena, cabelo preto e liso, com a franja cobrindo uma parte de seu rosto e muito, muito lápis de olho. Olhei o crachá pendurado em seu moletom: Pete Wentz.-É...Eu queria saber se tem algum livro que fale sobre fantasmas.-Falei, um pouco envergonhado.
Ótimo, não bastava estar louco, eu estava mostrando a outras pessoas que estava louco.
Ele me olhou um pouco desconfiado antes de apontar para uma das estantes, eu agradeci indo em direção a ela. Peguei os livros e fui os colocando em cima da pequena mesa de centro que ficava próxima a estante. Quando me dei conta já havia uma montanha cheia de livros na mesa. Bufei ao pensar que teria de ler tudo aquilo se quisesse ao menos ter uma vaga noção do que estava acontecendo. Pete parou na ponta oposta da mesa, analisando a montanha de livros.
-Eu acho que você precisa de ajuda, cara. -Ele disse, parecendo um pouco chapado. -Você precisa de respostas, mas eu tenho certeza que não vai ler nem a primeira página do livro.
Ele tinha razão, eu com toda certeza precisava de respostas e com toda certeza não leria uma palavra sequer de qualquer um daqueles livros.
-Sabe, cara, eu sei muitas coisas sobre eles.-Sua voz saia completamente enrolada.-A alma de algumas pessoas não consegue se desligar desse mundo, tá ligado? Elas tem assuntos pendentes aqui que precisam resolver.
-Mas ele não tá morto, só em coma.-Falei, meio sem querer.
-Pessoas em coma também podem aparecer como fantasmas. Elas não estão mortas, mas em alguns casos uma parte da alma acaba se desligando do corpo, se recusando a simplesmente juntar-se a ele e descansar. -Ele disse tranquilamente, encarando o nada.-Se pode vê-lo, ou você é um médium, o que não parece nem um pouco, ou tem alguma ligação com o assunto que ele deve resolver.
-Mas que assunto é esse? Que ligação eu posso ter com isso?
-Cara, como é "queu vo sabe"? A única pessoa que pode te responder isso é o fantasma, meu.
Parei por alguns segundos, lembrando-me da primeira aparição de Gerard, na qual ele abrira a boca como se tivesse algo a dizer.
-Ele parece querer falar algo, mas sempre some antes.
-Talvez ele ainda não tenha força suficiente pra conseguir se manter nesse mundo. Ninguém nasce sabendo como ser fantasma, você precisa aprender aos poucos, tá me entendendo?
-É, eu acho que sim.
-Hum.
Então ele simplesmente se virou, voltando para o seu lugar no caixa e falando algo incompreensível. E eu me encontrava na grande dúvida: seria Pete Wentz um gênio ou apenas um drogado?
*
Decidi almoçar por ali mesmo, havia perdido o horário de visitas matinal, então iria esperar até o horário da tarde. No fim das contas sai da livraria sem nenhum livro e com ainda mais dúvidas em minha mente. Qual seria o assunto pendente de Gerard Way e por que eu, Frank Iero, fazia parte dele?
Notas
Hello emos, como vão?
Até que enfim cap novo, né?✊Bom, nesse capítilo eu tentei explicar um pouco sobre o "universo fantasma" da fic. É, eu sei que tá meio (muito) confuso, mas vamos contar que a pessoa que está explicando sobre isso tá um pouco....chapada (Pete maravilhoso que teve o personagem inspirado no Darryl).
A explicação de fantasmas na fic é uma coisa meio fantasiosa mesmo. Eu sei que no "mundo real" algumas pessoas relatam esse tipo de "experiência paranormal", mas eu queria mesmo criar algo exclusivo para a fic (e que vai ter importância ao longo da história).E aí, alguma teoria sobre esses "assuntos pendentes"?
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The Ghost of You
Fanfiction"Tudo o que sabia era que Gerard Way jamais misturava amor e negócios. E eu, Frank Iero, era um negócio. Apenas um negócio." Frank Iero e Gerard Way os dois maiores ladrões da cidade. Frank apenas queria dinheiro para levar uma vida tranquila, Gerar...