• Elizabeth narrando •A noite de Natal estava agradável o suficiente para durar pra sempre, eu iria adorar permanecer nesse clima harmonioso pelo tempo que fosse necessário. Meu pai estava preparando o jantar para a ceia, enquanto a Harry bebia um copo de whisky ao meu lado no pequeno sofá de couro, e minha avó tentava acender as chamas da lareira. Eu apenas capturava cada detalhe dessa noite como se ela fosse única, porque ela era.
Eu vestia um moletom beje de tricô e uma calça jeans, nada muito extravagante ou desconfortável. É um ambiente familiar. Pela primeira vez desde que a mamãe morreu, eu me sinto em casa de novo, como se eu fizesse parte disso.
- Venham para a mesa. - gritou meu pai. - O jantar está servido para todos vocês.
Puxei Harry pela mão e fomos até lá. A mesa estava linda, decorada com guardanapos amarelos e vermelhos, talheres de prata ou algo sintético que se parecia prata. Eu não faço ideia. Mas era uma visão agradável para os olhos.
Todos nós nos sentamos, menos meu pai.
- É muito bom tê-los aqui hoje. - falou. - Eu gostaria de agradecer por isso. Um brinde.- ele suspendeu uma taça de vinho para brindar conosco, e sentou-se em seguida.
Dei uma garfada generosa no pernil diante dos meu olhos, saboreando cada pedacinho junto com uma salada, para balancear.
Eu estava morrendo de fome.
- Quer um pouco de vinho, Eliza? - Harry perguntou, erguendo a garrafa de vinho na altura do meu copo vazio.
- É claro, meu bem. - respondi.
- Não, ela não quer. - minha avó retrucou, com um olhar torto. Eu não entendi. Mas, discretamente ela passou a mão na barriga para me alertar.
Eu estou grávida. Não posso beber.
- Por quê? - Harry questionou confuso.
- Os enjoos podem voltar se eu beber. - digo, tentando perceber se estou piorando ainda mais a minha situação. Aumentando a mentira por mais tempo. - É melhor evitar.
- Ah, me desculpe. - ele respondeu paciente.
Meu pai estava com uma expressão tranquila, mas será que minha avó havia contado sobre a gravidez para ele? Isso tudo parecia ser um muro prestes a desmoronar na minha cabeça, era só uma questão de tempo. Eu estava com medo que isso machucasse as pessoas ao meu redor, como Harry. Principalmente ele.
- Eu ainda me lembro de quando você era uma menininha tão pequena. - recordou vovó. - Tive que ensiná-la a amarrar os cadarços.
- É, eu me lembro disso. - falou meu pai, melancólico. - Mas o tempo passou rápido para nós.
- Eu poderia te mostrar o álbum de fotografias da Eliza, Harry. Mas, infelizmente, os álbuns ficaram na minha antiga casa. - disse vovó.
- É uma pena. - Harry lamentou. - Eu adoraria ver cada uma dessas fotos.
- Talvez tenha uma foto na minha carteira, eu sempre guardo no mesmo lugar para não esquecer. - falei, empolgada. - Eu posso ir buscar.
- Não, não, não. - respondeu Harry. - Eu posso fazer isso. Sem problemas. - apenas concordei, e ele se retirou da mesa com pressa.
- A minha pior fase, com certeza, foi a adolescência. - gargalhei. - Tinha espinhas por toda parte, e eu usava aquele aparelho horrível.
- Não era tão feio assim, querida. - respondeu meu pai. - Talvez só um pouquinho.