1. Look at the stars

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Acordo e tudo o que enxergo são as estrelas desenhadas no meu teto. Meu quarto é relativamente pequeno, mas é confortável e tem o meu gosto. Eu tenho um grande fascínio por estrelas, sinto que representam pessoas que são importantes na minha vida, mas já se foram, como a minha avó.

Meu pai sempre diz: "Carolina, um dia você vai se tornar parte do universo, e ele não será suficiente para a imensidão que você carrega dentro de si".

Preciso admitir, considero meu pai uma das pessoas mais sábias no mundo. Não porque ele é o meu pai, mas sim porque ele sempre tem as palavras certas nos momentos certos. Um dia, sentirei falta disso, mas sei que ele será a maior estrela da minha constelação.

Enfim, preciso levantar, mas o dia está chuvoso e parece que a cama está me sugando. Minha mãe precisa da minha ajuda e eu preciso arranjar um emprego para aumentar a renda da casa, as coisas não estão fáceis. Eu tenho 19 anos, não posso ficar parada.

— Carolina, vem fechar o portão – Minha mãe gritou da garagem enquanto meu pai entrava no carro carregando um caderninho de papéis.

— Bom dia, mãe. Para onde vocês estão indo? – perguntei enquanto esfregava meus olhos.

— Eu te avisei ontem à noite, seu pai tem uma consulta médica agendada. Ele tem sentido algumas dores e precisamos checar o que é isso – Minha mãe disse caminhando em minha direção e deixando uma marca de batom que ela sempre usa em minha testa.

— Tinha me esquecido. Vou distribuir currículos por aí, espero conseguir alguma coisa. Nem que seja pra pegar cocô de cachorro na rua – eu disse sorrindo.

— Ai minha filha, você sabe que tem potencial suficiente pra fazer qualquer coisa que quiser, e não precisa coletar cocô de cachorro – Ela disse enquanto sua voz ficava mais baixa e distante — Até mais tarde!

Aquele dia chuvoso me fez refletir sobre minha vida. Ultimamente, ela tem andado bem cinza e monocromática como aquele céu de final de inverno.

Desde que terminei o ensino médio ando sem rumo. Queria muito virar escritora, tenho uma paixão enorme pela literatura. Escrever é uma das coisas que me mantém viva, transcrevo as palavras que ficam presas na minha alma. É o que me traz a calma quando está tudo conturbado.

Mas é muito difícil entrar nesse ramo, exige muita influência, talento, determinação e não consigo acreditar no meu sucesso como escritora, então, estou pensando em algo para fazer na faculdade, mas até lá preciso entregar essa caixa de currículos. Afinal, não quero ficar dando despesas para os meus pais sem fazer nada o dia inteiro. 

Admito que conseguir emprego em Londres tá muito difícil, ainda mais para uma pessoa que não tem tanta experiência profissional. Já enviei centenas de currículos para várias lojas e empresas e não tive muito êxito.

Comi uma maçã, troquei de roupa e sai pedalando minha bicicleta rosa chiclete, vestida em minha capa de chuva violeta. Durante o caminho, fui observando os galhos das árvores que possuiam gotículas de água armazenadas em sua superfície. Com certeza o inverno é a minha estação favorita.

Parei em uma lanchonete local que era bastante movimentada, costumava vir aqui com a minha melhor amiga Anna. Mas isso antes de ela se mudar para Liverpool. Ainda nos falamos por mensagem ou facetime.

Deixei minha bicicleta estacionada na calçada, retirei minha capa que estava seca e entrei na loja sem chamar muita atenção.  Ela estava relativamente vazia, tinham pequenos grupos de estudantes conversando e sorrindo. Caminho em direção ao balcão de atendimento onde um senhor está trabalhando.

— Bom dia – digo com tom gentil — Meu nome é Carolina Bee, vi que vocês estão precisando de uma garçonete – as palavras saltaram atropeladas da minha boca. Eu estava visivelmente nervosa para minha vigésima tentativa de emprego.

Agora Você Me Conhece ||H.S||Onde histórias criam vida. Descubra agora