Luíza: Como o senhor tá? - Suspirei, vendo ele no mesmo estado de sempre.
Deitado com a expressão cansada.
João: Não estou conseguindo respirar muito bem, mas está tudo bem.
Ele quis dizer que está morrendo, mas não quer me preocupar.
Isso me preocupa mais.
Luíza: Vamos pro hospital, pai...- Falei pegando os documentos que já ficavam separados.
João: Não, Luíza.. temos que comprar comida e não podemos gastar comigo.- Neguei já sentindo um nó se formando na minha garganta.
Eu não sou uma pessoa chorosa, sério.
Mas é meu pai, a poucos passos da morte na minha frente.
Ah, se eu tivesse dinheiro, tudo ia mudar.
Cada coisa que eu ia conquistar.
Cada sorriso que eu iria tirar do meu pai e dos meus amigos.
Eu trabalho em uma sorveteria aqui do morro mesmo, faço faxina quando tem disponível, mas isso não é o suficiente pra fazer o tratamento do meu pai.
Minha mãe nos abandonou quando meu pai perdeu toda grana.
Éramos ricos, mas tudo se foi de uma vez.
Luíza: Eu vou dar um jeito pai, você sabe que eu sempre dou.
João: Pense mais em você, eu já estou no final da vida, pequena Lú...- Neguei, beijando a testa dele.
Luíza: Eu ainda vou te dar o mundo.- Sussurrei sorrindo e saí do quarto.
Minha única opção de dinheiro fácil, era o Peixe.
Sim, ele me ofereceu uma parada aí, como ele disse.
Tenho medo de ser como prostituta.
Pensei bem em pegar o celular e discar o número dele.
Pena que eu estava sem crédito.
Isso seria um livramento?
Neguei com a cabeça, indo tomar banho.
Hoje era sábado e o dia tava mais quente do que o normal, não tava nem aguentando.
Coloquei um vestido florido simples e calcei uma sandália. A campainha tocou e eu parei de me arrumar, pra ir atender.
Luíza: Marta! Que bom te ver.- Sorri amigavelmente.
Marta: Oi minha filha, como seu pai está? - Me abraçou, beijando minha cabeça.
Luíza: Ele está bem, na medida do possível.- Sorri fraco.- Entre, acho que ele tava esperando por você mesmo.
Marta: Ótimo.- Sorriu.
Marta era uma velha conhecida minha e da minha família.
Quando minha mãe foi embora, ela que ajudou meu pai comigo e com si mesmo.
Ela entrou e eu fechei a porta, depois de ter a visão de um traficante passando correndo.
Voltei pro meu quarto e passei um simples gloss labial, peguei meu pobre celular e fui até o quarto do meu pai.
Luíza: Licença.- Bati na porta, abrindo em seguida.- Tô indo ali rapidinho na Rebeca, em minutos eu volto.
João: Não se preocupe, a Marta cuida de mim.- Brincou.
Marta: Cuido mesmo, filha.- Sorri, beijando a cabeça de ambos.
Luíza: Se o senhor quiser comer, lembre que a comida tá na geladeira, é só esquentar.
Ele assentiu levemente e Marta destacou que cuidava dele, que não precisava se preocupar tanto.