Perdi tudo - cap 50

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Thaís

Cada dia dessa semana que se passou foi arrastado e tortuoso, nunca vi uma semana passar tão devagar na minha vida. Eu ainda estava no hospital de repouso absoluto por causa dessa maldita placenta. Acordei cedo para começar os processos do exame, não havia muita coisa à ser feita, então tivemos que esperar. O dia estava mais arrastado que uma lesma manca e as horas pareciam não passar, estava sendo maçante.

- Quanto tempo falta? - perguntei impaciente

- A Doutora disse que até o fim do dia o laboratório entregaria o exame, então calma. - disse minha mãe revirando os olhos

- Qual o seu palpite? Você acha que vem um mini Murilo ou um mini Sávio? - perguntou Lana

- Não sei, as chances de ser do Sávio são maiores, mas eu pensei muito durante essa semana e a pílula não é totalmente segura, o problema é esse negócio de semanas.

Murilo bateu na porta e abriu.

- Posso entrar? - perguntou ainda da porta

- Deve. - disse Lana

- Estou com o resultado aqui. - Disse ele mostrando um envelope

- Você já olhou? - perguntei

- Não, esperei para olhar com você.

- Então abre logo porquê eu não aguento mais esperar. - falei

Ele começou a abrir o lacre do envelope.

- Espera. - falei

- Que foi?

- Se ele não for seu, você vai me deixar?

Lana cochichou algo no ouvido da minha mãe e elas saíram do quarto nos deixando a sós.

- Vamos ver o resultado primeiro, depois pensamos nisso. Posso abrir? - perguntou

- Vai em frente.

Ele abriu o envelope e começou a ler, não consegui interpretar sua expressão.

- E então? - perguntei

- Como eu suspeitava. - falou e pude ver a lágrima em seus olhos

- É dele? - perguntei sentindo minha cabeça revirar

- Acho que isso é um sinal. - disse ele

- Sinal de quê?

- De que não devemos ficar juntos.

- Você vai mesmo fazer isso? Me abandonar na hora que eu mais preciso? Você vai embora?

- Você me abandonou primeiro.

- Você é um idiota, ainda bem que esse filho não é seu.

- Ainda bem mesmo, pelo menos agora eu sei o tipo de pessoa que você é.

Ele limpou uma lágrima, deu meia volta e foi em direção à porta.

- Aonde você vai? - perguntei

- Fazer algo que eu já devia ter feito há muito tempo, ir embora.

Ele saiu e fechou a porta me deixando em prantos, o que me fez perceber que eu perdi tudo, perdi ele, minha dignidade, minha vontade de viver, e logo perderia o papel na novela também.

- Filha, posso entrar? - minha mãe perguntou ainda na porta

- Entra.

- Não é dele, né?

- Não. - falei limpando as lágrimas

- Eu sei que ele vai voltar.

- Não vai, mãe, é como eu disse, ele me odeia.

- Ele não te odeia, só precisa de um tempo para digerir tudo que está acontecendo.

- Eu o perdi pra sempre, não há mais nada a fazer.

- Thaís, coração de mãe não erra, confia em mim.

- Eu confio na senhora, mas confiar que ele vai voltar já é outra história, prefiro não me iludir.

- Tudo vai melhorar, isso é só uma fase, vem cá. - ela me abraçou e o conforto de seus braços me fizeram pegar no sono.

Acordei e sem me mexer analisei as pessoas ao meu redor, Lana e Murilo conversam empolgados sobre algo no pequeno sofá que havia no quarto, minha mãe lia um livro enquanto Rebeca fazia algo no celular. Espera, o que estão fazendo aqui? Murilo voltou? Quando eu dormi só minha mãe estava aqui comigo.

- O que está acontecendo? - perguntei meia desnorteada ao tentar sentar na cama

- Finalmente, você acordou, dormiu pesado dessa vez. - disse minha mãe

- Como pesado? Dormi depois da nossa conversa.

- Sim, conversamos ontem à tarde e você só acordou agora de manhã.

Me virei para Murilo que prestava atenção na nossa conversa.

- Resolveu voltar? - perguntei à ele

- Voltar de onde? - perguntou se fazendo de desentendido

- Você disse que ia embora e saiu batendo a porta. - relembrei o que ele fez

- Acho que você sonhou. - disse na maior tranquilidade

- Claro que não, nós brigamos, e depois você me disse que não queria mais ficar comigo, agora volta e finge que nada aconteceu?

- Devem ser os remédios, filha, se acalme, Murilo ficou aqui o tempo todo e vocês não brigaram.

- Brigamos sim, quando ele me mostrou o resultado do teste.

- Que teste? - perguntou confuso

- Espera, me digam tudo o que aconteceu nas últimas horas. - pedi

- Ontem você me contou que estava grávida e me disse que não queria ter o bebê, eu saí para pensar enquanto sua mãe veio conversar com você, depois da conversa você dormiu e só acordou agora. - Murilo explicou

- E os exames de DNA? A semana que demorou quase uma ano pra passar?

- Você provavelmente sonhou minha filha, nada disso aconteceu.

- Se nada disso aconteceu, e não se passou uma semana, quando eu vou poder sair daqui? Afinal eu já estou bem, não é porque estou grávida que estou inválida.

- Falei com a Doutora Robbins, amanhã mesmo você já pode voltar para casa.

- Ainda bem, não aguento mais ficar aqui.

- Isso porque você passou boa parte do tempo dormindo. - disse Lana ao entrar no quarto

- Eita que ouvido apurado esse seu hein. - falei

- Verdade, tanto que a Íris veio ver como você estava, mas você não pôde falar com ela porque estava muito ocupada dormindo, mas ela mandou avisar que quer falar com você. - disse Murilo

- Ela já está sabendo? - perguntei me referindo a gravidez, ele entendeu.

- Sim. - respondeu

- Quem mais sabe? - perguntei

- Só nós, e ela, nada de mídia.

- Menos mal.

Eles começaram a conversar sobre algum assunto, mas eu não prestei atenção porque minha memória começou a refrescar, se tudo que aconteceu foi um sonho, Murilo ainda não sabe que o filho é do Sávio, por isso ainda está aqui.

Avisei que estava com fome e me trouxeram uma comida, mas não consegui comer, o cheiro fez meu estômago embrulhar. 

O outro dia chegou e eu finalmente estava voltando para casa, todo mundo queria ficar lá comigo, mas eu praticamente implorei para que me deixassem sozinha, depois de muita insistência e de fazerem Lucy prometer que ficaria de olho em mim, eles concordaram e foram embora.



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