O que você fez? - cap 51

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Thaís

Dois dias depois.

- Entendeu tudo, né? Se alguém me ligar, diz que estou ocupada, se chegar visita você diz que eu saí. - falei à Lucy

- Sim, senhora.

- Só isso, pode se retirar.

Ela saiu e eu finalmente fiquei sozinha, estava em casa há dois dias mas minha liberdade parece ter sumido, todo mundo ficava em cima de mim o tempo todo e eu já estava ficando sufocada, precisava de um tempo e, principalmente, de espaço, então pedi a Lucy que não deixasse ninguém entrar hoje, só se fosse algo extremamente urgente como alguém ter morrido ou um furacão se aproximando, caso contrário, quero privacidade total.

Entrei no banheiro disposta a tomar um banho mega demorado para tirar todas as preocupações das costas. Entrei na banheira com a água morna e não quis pensar em nada, fechei meus olhos e tentei relaxar ao máximo, mas acabei pegando no sono.
Acordei e a água já estava fria e meus dedos completamente irritados, saí da água me sentindo completamente renovada, mas lembrei que aquele provavelmente foi um dos meus últimos momentos de paz, já que meu mundo estava desmoronando.

Coloquei a roupa mais confortável que encontrei e me joguei na cama, lembrei que tinha um broto de feijão dentro de mim.

- Foi mal, brotinho. - Parece que ao falar isso caiu a ficha do que estava acontecendo

Eu não posso interromper a gestação, mas também não posso ter um filho do Sávio, nem perder o Murilo, nem perder meu papel, se eu levar a gravidez adiante eu perco tudo, mas também não posso perder a vida que eu gerei, querendo ou não, o bebê não tem culpa dos meus erros.

- Independente de qualquer coisa, seremos eu e você. - falei passando a mão na barriga.

Enterrei minha cabeça no travesseiro e chorei tudo o que estava preso, tudo que não consegui chorar nesses dois dias. Ouvi um barulho e levantei a cabeça para ver o que era.

- Aqui. - eu conhecia aquela voz, não, deve ser coisa da minha cabeça.

Virei na direção da voz para ter certeza de que era coisa da minha cabeça, e não era.

- O que está fazendo aqui? - perguntei já sentindo meu corpo arrepiar de medo

- Vim terminar o que eu comecei. - disse Sávio ao entrar pela sacada

- Vai embora, me deixa em paz.

- Calma, não vou te fazer mal.

- Eu não acredito em você, você não estava preso?

- Estava, mas ninguém consegue me prender por muito tempo, eu sempre estou um passo à frente.

- O que você quer de mim? - perguntei me afastando

- Nada, vou embora e te deixar em paz, mas não quero ir embora sabendo que tem um filho meu por aí.

- O que você quer dizer?

- Que você não vai ter esse filho.

- E quem você pensa que é para decidir o que eu vou fazer ou não? O corpo é meu.

- Não me interessa se o corpo é seu, você não vai ter esse filho e acabou, toma esse remédio e eu vou embora.

- Eu não vou tomar nada.

- Thaís, não me obrigue a te forçar.

- E não é isso que você está fazendo?

- Não nesse sentido, agora toma logo.

- Sávio vai embora, eu não quero nada de você, só me deixa em paz com meu filho, você não vai precisar registrar nem fazer nada, você não me procura que eu não procuro você.

- NÃO! - gritou ele e o grito me fez chorar

- Você não vai ter esse filho, está escutando? Não vai! - ele veio em minha direção e eu desviei

- Você não tem para onde fugir. - ele correu e me segurou

- Me solta. - me debati

- Abre a boca, não vai doer nada, vai ser rapidinho. - ele me mostrou os remédios

- Por que tantos? Só precisa de um. - falei

- É para garantir que você não terá mais filhos futuramente, vão te deixar estéril. - ele abriu minha boca a força

- Tá me machucando. - Falei e me arrependi porque fez os remédios descerem

- Muito bem, engoliu tudo?

Não respondi, apenas chorava.

- Adeus, Thaís. - Ele me empurrou me fazendo cair no chão e logo depois saiu pela janela por onde havia entrado.

Eu estava completamente em choque, olhei para o chão e tinha sangue espalhado, droga, a placenta! Eu não podia fazer esforço e tentei lutar com Sávio. Não consegui mais pensar, meu corpo pesou e eu não vi mais nada.

Murilo

Estava com uma sensação estranha no peito e não conseguia pensar em outra coisa que não fosse Thaís, nós não conversamos mais depois que ela me disse que não queria o filho, então resolvi ir até a casa dela, não podia mais adiar isso.

- Por favor, Lucy, me deixe entrar. - falei ao interfone

- Sem chance, dona Thaís não está.

- Então por que o carro dela está na garagem?

- Hã... é, então, é que... ela... ela saiu com a dona Rebeca irmã dela.

- Lucy, não minta para mim, a família dela está hospedada lá em casa, e quando eu saí a Rebeca ainda estava lá.

- Se eu perder meu emprego o senhor vai se virar para conseguir um pra mim. - avisou e abriu o portão.

- Pode deixar, eu mesmo te contrato.

Entrei na casa e Lucy me avisou que ela estava no quarto, mas me impediu de subir.

- Espera, deixa eu avisar a dona Thaís que você está aqui.

- Não! Se você disser que sou eu, ela não vai deixar eu subir.

- É o meu trabalho, ela pediu para não ser incomodada.

- Lucy, confia em mim, se algo der errado eu mesmo me encarrego de arrumar um novo emprego pra você, ok? Agora eu vou subir.

- Tudo bem, vai lá.

Subi as escadas e ainda estava com aquela angústia e sensação estranha. Abri a porta do quarto e vi Thaís caída no chão, com muito sangue em volta dela.

- Thaís? Thaís acorda. - gritei ao chegar perto dela

Não houve resposta, notei que havia uma caixa de remédio ao lado dela, peguei e entendi o que estava acontecendo, ela estava tentando abortar, droga Thaís, olha o que você fez!

- LUCY, CORRE AQUI.

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