Capítulo 2

238 47 472
                                    

—  Conseguiu o que queria, não é mesmo, Mackey? 

Disse Melissa mais tarde, a fim de tirar satisfações.  

—  Até parece que você iria ficar confortável comigo, Doutora. – Respondeu rispidamente. 

—  Não percebe que faz uma má imagem minha? 

—  Como se já não tivesse. 

—  Não é muito diferente de mim. 

Mackey sentia o ódio subindo novamente, mas se controlou e baixou o tom de voz, porém falando com fúria. 

—  Você colocou minha família no meio desse assunto sem ao menos saber porra nenhuma sobre eles ou sobre o que aconteceu!  Sabe o que é sair em campo? Ir para uma missão e não saber se vai voltar? Por que o dia em que souber aí vai poder me julgar. 

—  E mesmo assim continua. Você gosta da adrenalina, agente. Não consegue ficar longe do perigo! 

—  Não entendeu direito, Doutora.... – Se aproximou mais da psicóloga encarando-a nos olhos – Eu sou o perigo. 

Continuou encarando até sua colega, Keyla, interferir e tomá-la pelo braço. 

—  Mackey, vamos. Já basta por hoje. 

— Vai se foder! - Disse Mackey para a psicóloga, antes de sair.

As duas saíram do prédio e foram em direção ao prédio de Mackey que não ficava muito distante dali. 

—  Está prejudicando a si mesma agindo dessa maneira, Mackey. 

—  Só disse o que estava preso na minha garganta há tempos, Keyla. Não importa que ela seja psicóloga. Ela não gosta de mim e a recíproca é verdadeira, sempre fiz questão de ser franca e você sabe disso. De qualquer forma vou precisar de acompanhamento, então que seja com alguém que me agrade. 

Continuaram caminhando em silêncio até chegarem ao destino. Keyla continuou seu caminho, enquanto Mackey entrou e subiu para seu apartamento. 

Como havia se mudado recentemente tudo cheirava à novo, o andar onde morava era tranquilo, apenas com mais dois vizinhos. Ao entrar no apartamento se deparava com a sala que possuía a parede esquerda inteiramente de vidro, o que proporcionava uma bela vista da cidade, na parede oposta à porta ficava a TV e alguns livros dispostos de frente para o sofá cinza, à direita uma pequena abertura levava à cozinha toda branca com um balcão e bancos, ao quarto pintado de um cinza escuro com o guarda-roupa e a cama de casal feitos de madeira maciça e envernizada e ao banheiro com ladrilhos azuis Royal e um pequeno box. Tudo aquilo parecia muito, mas saíra mais barato do que se imaginava. O antigo dono não pagara a hipoteca e o apartamento havia sido posto em leilão e arrematado por Mackey. 

Aquele dia ela resolveu que jantaria e deitaria mais cedo, afinal há dias não dormia direito. Chegou em casa, fechou as cortinas da sala e foi direto para o banheiro. Tomou um banho quente e demorado, saindo se enrolou no roupão branco e foi para a cozinha preparar o jantar, enquanto a comida não ficava pronta se serviu de uma taça de vinho e sentada em um banco se perdeu em seus pensamentos. 

Liz.... Estava sob sua supervisão e ainda sim a deixou sozinha, deveria saber que a garota não estava pronta ainda. Como tutora ela era ótima espiã. 

Se lembrou de como a menina se impressionara ao conseguir uma passagem aérea de última hora: 

"Você tem amigos bem influentes, nunca consegui nada tão rápido assim!" 

"Você ainda não viu nada". 

Outras lembranças também voltavam: 

"Você tem de se atentar mais, Liz! – Gritou – Cresça e para de se desesperar! Você não está em um filme onde tudo acaba bem, essa fantasia não existe, aqui o jogo é real, vidas vão depender de você, então saiba tomar boas decisões. Não é só quando você precisa puxar o gatilho, mas também quando não precisa". 

"Eu entendo". 

Foi trazida de volta à realidade pelo barulho do caldo da comida caindo no fogão. Levantou num salto, correndo para o fogão e desligando o fogo. 

—  Merda! – Esbravejou. 

Se apoiou na pia de inox ao lado e suspirou de cansaço, não físico, mas mental.
Jantou sem grande ânimo, arrumou a cozinha e escovou os dentes. Na hora de deitar vestiu uma calcinha que mais parecia um short e uma camiseta curta, mas confortável. Fechou os olhos e esperou o sono vir. 

Estava finalmente sentindo uma enorme paz, como se flutuasse de tão leve, no entanto tudo ficou escuro e ela estava naquele armazém novamente, na mesma posição. Ouviu o maldito barulho cortante e correu, correu mais do que poderia, sentiu algo pegajoso nas mãos e olhou-as percebendo que estavam ensanguentadas. Alguém gritou alto, um grito de desespero, de agonia, de dor.... Um grito de morte. 

Acordou sobressaltada e sentando-se na cama, o coração martelando no peito, a respiração era ofegante e o suor descia pelas têmporas e testa. Olhou para as mãos que estavam limpas, foi apenas um pesadelo, mais um maldito pesadelo. O relógio marcava 02h00min da manhã, pensou consigo mesma que boa parte da cidade, a maior parte da cidade na verdade, estava dormindo, mas ela não, e provavelmente não conseguiria dormir mais. Não deixaria isso acontecer, aquela noite iria dormir a qualquer custo. Levantou-se e foi para o banheiro, olhou no espelho e viu o rosto pálido, se abaixou, abriu o armário embaixo da pia e de um pequeno recipiente tirou dois comprimidos de calmante e virou diretamente na garganta, engoliu a seco e respirou fundo. Voltou para a cama e se entregou a um sono pesado e sem sonhos.

Abriu os olhos lentamente e notou que o dia já havia clareado, apesar do quarto estar escuro por causa da cortina. Olhou o relógio que marcava dez horas da manhã, foi ao banheiro e encarou o reflexo no espelho novamente. Os olhos cinzas e monótonos estavam inchados, prendeu o longo cabelo castanho em um coque e escovou os dentes lavando o rosto em seguida.

Se dirigiu à cozinha e preparou o café, tomou-o e foi se vestir. Como aquele dia provavelmente não teria nenhuma missão resolveu colocar algo mais confortável, vestiu uma calça e uma camiseta pretas, por cima uma camisa xadrez preta e vermelha que Khan havia esquecido no apartamento, no pé um coturno.

Pegou as chaves do carro e partiu. Chegando na agência foi direto para o setor médico, sabia que encontraria a Dra. Larissa lá, no entanto deu de cara com Khan – o dono da camisa.

— Acho que conheço essa camisa.

— Conhece, mas parece que não se importa já que esqueceu ela em casa.

— Pode ficar, afinal ela fica melhor em você. Principalmente quando só veste ela. – Disse arqueando uma sobrancelha que dava um ar de malícia naqueles olhos verdes – Aliás, quando vou te ver de novo desse jeito?

Ela riu e dando um curto beijo nos lábios dele respondeu:

— Vai demorar um pouco.

Ia saindo quando ele retrucou sarcástico:

— Toma cuidado, Mackey, está colocando em jogo nossa amizade.

Ela se virou e disse:

— Se seu conceito de amizade é esse, Khan, melhor começar a revê-lo.

Seguiu seu caminho e logo encontrou a psicóloga.

— Bom dia, Mackey! Augusto me contou sobre você.

— É, pelo que me disseram eu enlouqueci.

A psicóloga deu uma gargalhada e retrucou:

— Não enlouqueceu, Mackey! Qualquer ser humano está propenso a adoecer. Basta procurar ajuda.

— Tem razão, Doutora, mas fui eu quem criou esse inferno, agora cabe a mim enfrentá-lo.

Codinome ÁrtemisOnde histórias criam vida. Descubra agora