Capítulo 10

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Os dez minutos que passou dentro do carro serviram para o reconhecimento daquela área. A cidade não era de todo ruim, um clima de interior pairava no ar, claro, todos já haviam se recolhido, afinal já passava da meia noite.

Entrou numa hospedaria chamada "Instalações da Dona Camélia".

"Nome de gente velha!"

Ela não estava muito equivocada, uma senhora com seus 60 anos de idade a atendeu e fez o check in.

O lugar era antigo, mas bem conservado. A varanda ainda possuía aspectos do século passado, ou do século XIX quem sabe. O que deveria ser a sala, virou a recepção, o balcão era de uma madeira maciça e atrás ficava uma espécie de painel com algumas chaves penduradas. Do lado direito ficava a escada estreita que levava à um corredor também estreito e comprido com várias portas pintadas de verdes.

O quarto que ela se hospedara ficava no fim desse corredor, não era muito grande, possuía espaço apenas para uma cama de casal que ficava de frente para a porta, um guarda-roupa ao lado e uma espécie de penteadeira ao lado da porta. Tudo coberto por um lençol branco que logo foi retirado pela dona.

"Será possível que tudo nesse lugar é pequeno?"

Descobriu logo que uma das portas no corredor era o banheiro. Não pensou duas vezes em tomar um banho para logo deitar e poder dormir em paz, o que demorou um pouco já que o chuveiro não esquentava de maneira alguma. Por fim desistiu de esperar e tomou um banho gelado mesmo. Aquilo ajudou a relaxar um pouco, logo voltou para o quarto e se deitou na cama, se deixando levar por um sono que a fez descansar a mente que estava turbulenta até então.

Acordou no outro dia com uma crise de espirros que não cessava, aquela merda de substância do dia anterior devia ser a culpada daquilo, teria de dar um jeito urgente na situação.

Se levantou e dessa vez não sentiu a maldita dor no tornozelo, ao menos isso havia melhorado. Colocou uma roupa decente e abriu a porta para ir ao banheiro, mas o que encontrou foi uma fila de outros hóspedes que esperavam para usar o cômodo. Suspirou decepcionada, aquilo não podia ser real, tinha ido de um extremo ao outro em questão de um dia! Fechou a porta e resolveu esperar no quarto até que todos usassem o banheiro, embora ele fosse ficar uma baderna depois de todas aquelas pessoas. Se deitou na cama e ficou encarando o teto por alguns instantes, pouco depois começou a espirrar novamente. Se sentou na cama e esperou a crise passar.

"Mas que merda! Isso não vai parar não?"

Colocou a mão na frente do nariz e ao recuar encarou a palma com respingos vermelhos, sentindo algo escorrer do nariz pousou novamente a mão no local para verificar o que estava acontecendo. O sangramento havia se intensificado de forma que as gotas caíssem no chão. Mackey ficou por alguns segundos paralisada sem entender o que estava acontecendo, por fim se lembrando do que deveria fazer se ajeitou na cama de forma a ficar sentada ereta, se inclinou um pouco para frente e apertou o nariz com o polegar e o indicador, respirando apenas pela boca. Por instantes o sangue insistia em manchar sua mão e cair no chão, mas pouco depois cessou.

Com certeza isso devia ser culpa daquela porcaria estranha que cheirara, deveria entrar em contato com o cientista urgente. Limpou a mão e o chão onde as gotas caíram e pegou o telefone de comunicação para falar com o cientista. Questionou se os resultados da análise já estavam prontos e a resposta foi negativa. O cientista, no entanto, lhe recomendou um spray nasal para ajudar a parar o sangramento, e se caso aquilo persistisse ou outros sintomas aparecessem era para ela voltar imediatamente para alguns exames.

"Até parece que eu voltaria só por causa de um sangramento e uma dor de cabeça dos infernos".

Dor de cabeça essa que ela até então não havia reparado. Pegou a toalha, as roupas e as outras coisas e saiu novamente para o corredor. Ainda esperou mais duas pessoas usarem o banheiro até que chegasse sua vez. Como previra o lugar estava uma bagunça, o espelho embaçado pelo vapor do chuveiro, o que era surpreendente já que ele não esquentara na noite anterior, e a água estava respingada por todo lugar.

Achou que era melhor aproveitar que o chuveiro estava esquentando para tomar logo um banho, por incrível que pareça aquela cidade era fria, em pleno verão o lugar mantinha as temperaturas baixas, e Mackey só reparara isso depois de sair do quarto.

Será que teria levado roupas de frio?

Terminou o banho e escovou os dentes, voltou para o quarto e procurou uma blusa de frio na mala, por sorte achou uma de moletom preto com capuz, vestiu e desceu para procurar por um café da manhã. Por sorte não precisou sair, a senhora dona do estabelecimento já havia preparado tudo.

— A senhorita está bem? – Perguntou a senhora assim que Mackey terminou o café.

— Sim, obrigada.

— É porquê.... Seu olho.... Se meteu em confusão, menina?

Ela sem saber o que responder para a curiosa à sua frente, improvisou a desculpa mais esfarrapada que pode, afinal estava com pressa de voltar para ao quarto.

— Tive minhas desavenças com minha irmã. Se me dá licença....

Saiu do salão e voltou para o andar de cima no "conforto" de seu quarto. Aquilo não havia sido uma mentira total, afinal tinha desavenças com sua irmã mesmo, mas o olho roxo não era resultado da briga delas. Não dessa vez.

Passou a tranca na porta e pegou os livros de administração que havia comprado, sentou-se na cama e começou a ler um por um, era tedioso sim, mas o que poderia fazer? Era seu trabalho, se tinha um personagem para interpretar então que se aprofundasse nele o máximo possível. Quando o sono batia, ela se levantava, andava um pouco pelo quarto ou fazia algum exercício, praticava uma outra língua, escutava música, qualquer coisa que a despertasse. Será que ali tinha alguma bebida? Não! Definitivamente, não. O momento não era esse.

Codinome ÁrtemisOnde histórias criam vida. Descubra agora