Capítulo XIII - Parte I

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Pensei o quanto desconfortável é ser trancado do lado de fora; E pensei o quanto é pior, ser trancado do lado de dentro.”

(Virginia Woolf)



Não abri os olhos.

Sentia o meu corpo pesado, dolorido, os olhos inchados e a garganta apertada. Estava em minha cama, podia sentir a colcha felpuda que eu dormia todos os dias. Sentia o travesseiro entre as pernas, tão macios e aconchegantes; Mas eu me perguntava “Como eu vim parar aqui?”.

- Olha o café. - ele disse com sua voz rouca e bem baixinha, pousando a bandeja no meu criado- mudo.

Obrigada. - respondi mantendo os olhos fechados.

- Vamos, levante- se. - insistiu.

Não querendo ser tomada como chata, fiz o que me pediu e sentei abrindo os olhos com certa dificuldade, afinal de contas eu havia chorado quase um oceano inteiro nos ombros dele, era embaraçoso.

- Você me trouxe para o quarto? - perguntei me sentindo tímida como uma carola na frente de um homem nu.

- Uhum. - foi o que respondeu.

Estava de roupão e por debaixo do roupão só de calcinha. Não acreditei que ele tivesse feito aquilo. Revirei os olhos e bufei.

Ótimo! - não havia jeito de ficar mais indigno.

- Não fique chateadinha comigo, eu respeitei você. - pareceu realmente ofendido – Sua amiga foi quem tirou sua roupa. Eu só te coloquei na cama e te cobri.

Ele já ia saindo do quarto quando eu o chamei.

- Jay... Me desculpe. Eu só não estou acostumada a c... - engoli com dificuldade – C- ceder, a contar o que eu estou sentindo. - Soltei uma lufada de ar – Só me desculpe, por favor. - pedi.

- Tudo bem, eu já estou acostumado a ser maltratado, se lembra?! - e saiu pela cortina roxa do meu quarto.

Olhei para o meu café da manhã, parecia apetitoso e dava para ver o quanto ele havia se esforçado para preparar aquilo. Meu coração se retraiu dentro do peito sendo esmagado com a culpa que pesava na minha consciência.

Eu o havia magoado, sabia disso, mas como eu diria a ele que precisava manter minha armadura, e que eu era frágil como uma porcelana?

Não podia fazer isso e estragar tudo o que eu já havia conseguido sobre o caso da minha mãe. Eu fiz uma promessa e iria cumpri- la.

- A qualquer custo. - disse.

- Deu para falar sozinha, é?! - Gina entrou rindo no meu quarto.

- Credo, que susto. - respondi verdadeiramente assustada. - E não, estava apenas pensando alto.

- Se eu desmaiar, será que ele me carrega no colo e de manhã me prepara um café desse, isso é tão lindo?! - disse se jogando de costas na minha cama.

- Provavelmente sim, ele é exibido e isso só ajudaria a encher aquele ego gigantesco dele.

- Ontem eu troquei suas roupas por esse roupão, achei que você fosse dormir melhor se estivesse mais à vontade. - Gina me olhava nos olhos com algum tipo de sentimento que eu não consegui identificar.

- Obrigada, amiga. - sorri, me sentindo estranha de repente.

Peguei um pedaço de melancia e comi. Estava doce e abriu meu apetite, quando percebi já havia devorado metade do que ele havia preparado. Gina me olhava com indagação, e eu parei de mastigar o biscoitinho amanteigado com gotas de chocolate. Sabia que alguma hora ela viria me encher de perguntas, mas eu ainda não estava pronta.

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