“O mais terrível não é termos o nosso coração partido – pois corações foram feitos para serem partidos -, mas sim, transformar nosso coração em pedra.”
(Oscar Wilde)
A ida ao reformatório tinha saído às avessas do que eu havia imaginado. Quis levar o Jon para ter um pouco de conversa fiada com a pessoa que ele mais confiava – ao que eu supunha – e sai e lá com uma revelação estilo “Bomba de Hiroshima”. Fiquei perplexa demais, atônita demais, perdida demais, e a uma frase se repetia sem parar na minha mente: “- Se eu soubesse quem é esse cara, eu o mataria.”
Ao que se referia aos meus sentimentos por ele, eu juraria de pés juntos e estenderia minhas mãos sobre uma pira de fogo para dizer que ele seria incapaz de fazer o que tinha dito que faria, porém, meu lado racional buscou uma lembrança que dolorosamente me impregnou de dúvidas. No enterro da Gina, ele quase matou o motorista daquele táxi. Quase.
Não era o Jon. - Minha memória gritou.
Mas Jon, Jay e McVoy eram um só, então, de qualquer maneira aquela dúvida ficaria ali perturbando os meus pensamentos, envenenando a forma com a qual eu o olhava até que algum dia eu faria algo estúpido.
A Megan voltou para casa conosco, o que me deixou furiosa. Aquela garota era sinônimo de encrenca, e o pior é que eu não podia fazer nada a não ser ficar calada. Não podia simplesmente mandar que o Jon a expulsasse – apesar de morrer de vontade de fazê-lo -, aquela era a casa dele e eu não me indisporia com aquela garotinha – porque era o que ela era.
Mama nos recepcionou, mal sorri a mulher e passei rapidamente por ela, e me tranquei no meu quarto. Aquela revelação pavorosa me acertou como um raio, queimando minhas terminações nervosas, minhas veias, meus órgãos, me fritando por inteiro, de dentro para fora.
Me joguei na cama, e apesar da vontade demasiada de chorar, meus olhos estavam exageradamente abertos e focados na parede nua. O pranto entalado na garganta me sufocava, forçando a traqueia ao máximo, e as malditas lágrimas estavam presas em algum lugar, entretanto, não saiam, não vazavam, não me davam o alívio que eu tanto necessitava.
- Toc toc toc. - a voz dele era tranquila – Mina, me deixe entrar.
Ele havia guardado aquele segredo de mim. Escondido uma informação que poderia nos levar ao assassino da minha mãe, ou não.
Não respondi.
Senti os tremores subindo pelas minhas pernas, era um mal sinal. Minha respiração se transformou repentinamente de “chorosa” para “tendo um ataque”. Meu peito sacudia no mesmo ritmo da arritmia.
- Mina, por favor, ao menos me deixe explicar. - sua súplica me enterneceu, mas não me convenceu.
O desejo de me esconder cresceu em minhas vísceras até se transformar em um desespero puro e negro. Levantei da cama sentindo que o ar estava cada vez mais espesso. Caminhei aos tropeços até a porta.
- Porra! Guilhermina para com isso, não é coo se eu tivesse matado a sua mãe. - gritou do outro lado da porta.
Eu estava mal, muito mal. E sabia do que precisava para melhorar, mas não queria ser tão dependente daquilo, estava piorando, declinando. Estava viciada, o que tornava tudo ainda mais complicado, e se não fizesse nada logo regrediria.
Meu coração paralisou por um instante.
Não consegui falar nada. As palavras se perderam no céu da minha boca. As pernas vacilaram, entretanto me equilibrei na parede ao lado da porta. Jon socou-a algumas vezes e junto pronunciou alguns palavrões, todavia, para mim tudo era um grande bolo de palavras desconexas.
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Meu Segredo
Художественная прозаQuando Guilhermina resolveu que sua tese seria estudar a mente de jovens deliquentes, ela não imaginou que conheceria o herdeiro da família mais rica da cidade, e pior, que teria que lidar com algo muito mais intenso do que a mente de Jon Canavarro...