Capítulo XXVII - Parte II

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 “A alma não tem segredo que o comportamento não revele.”

(Lao Tsé)



- É hora de ir para casa. - me disse ainda segurando o que restou de uma garrafa de cerveja.

- Quem é você? - apertei o colar na minha mão.

O desconhecido – o que não era muito novidade para mim – agachou e verificou a pulsação em seu pescoço. Ela estava viva ao que tudo indicava. Senti um alívio imediato por aquela constatação, e nem fazia ideia do motivo. Quando ele se levantou, meu olhar ainda pairava sobre a garota no chão. Guilhermina estava lá com uma poça redonda em volta de sua cabeça. Os olhos fechado tão delicadamente, faziam-na parecer que dormia. Por um instante, desejei tê-la ouvido e saído dali com ela. Ao menos, ela era linda.

- Isso não faz a menor diferença agora. - olhou outra vez para Guilhermina – Ela ficará bem, se você vier comigo agora.

- Como posso ter certeza que você não fará mal a nós dois? - o cara sorriu de um jeito que me fez querer socar seu rosto tantas vezes até deformá-la.

- Não pode.

Jogou uma mochila aos meus pés. Diante daquela situação, deduzi que devesse ficar com o que estivesse dentro. Tirei de lá: Um casaco preto com capuz, um par de tênis, uma calça de moletom escuro e óculos escuros que engoliria a metade do meu rosto.

Vesti a roupa depressa. Aquele lugar estava um verdadeiro caos, tudo revirado, e uma garota linda estava jogada no chão quase morta. Se qualquer um chegasse naquele instante ali, diria que havia sido um ato criminoso.

- Se já acabou, é hora de irmos.

Não queria deixá-la. Algo dentro de mim, implorava para que eu ficasse ao lado dela, que cuidasse daquela ferida e que lhe dominasse as dores. Tinha que ser racional. Aquele idiota poderia tê-la matado, e não o fez porque não quis, então, não tinha opção a não ser acreditar que tanto ela quanto eu, ficaríamos bem.

- Só mais um instante. - disse.

Abaixei perto dela. Sua respiração estava lenta, entretanto, o sangue já havia estancado. Toquei seu queixo duplo e deslizei meus dedos pela maçã do seu rosto. Ela tinha traços finos e delicados. Imaginei-a como uma princesa, mas eu não poderia ser um príncipe. Eu não era um.

- Você vai ficar bem. Prometo! - prendi o cordão de camafeu em seu pescoço e depositei um beijo em sua testa.

- Estou pronto.

- Antes tarde do que nunca. Vamos.

Descemos pela escada principal. Tinha muita gente transitando naquele horário da manhã. Ninguém pareceu notar que estávamos vestidos como dois assaltadores de banco, porém, isso era de certa forma bom.

Passamos pelo pátio principal quase correndo, cruzamos o estacionamento com um pequeno trote. Do lado de fora da faculdade, a dois quarteirões de distância, estava um carro todo preto e com vidros escuros. Quando nos aproximamos, o carro apitou e as portas se destravaram.

- Passe o cinto. Nós vamos correr.

Antes que eu pudesse replicar sobre a questão de onde iríamos, o carro rangeu baixinho e vi o seu pé afundar no acelerador. Nós saímos cantando pneu e a paisagem virou um borrão de cores na minha visão periférica.

- Qual é a pressa? - questionei prendendo o cinto.

- Ela não pode saber que fui eu, caso contrário não me ajudará conforme nosso acordo.

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