Capítulo XXV - Parte II

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 “A verdade de um homem, é, em primeiro lugar, aquilo que ele esconde.”

(André Malraux)



Cheguei no horário em que o detetive estabeleceu. Ele fumava aquele charuto fedorento e baforava uma fumaça espessa para cima.

- Sente- se. - disse fazendo boa parte da fumaceira vir na minha direção.

Me joguei na cadeira diante da mesa dele, e esperei que ele começasse logo com aquilo. Sabia que ele não poderia me fazer ficar ali mais do que o necessário, e rezei, para que o necessário fosse bastante breve.

O homem me olhava com seus olhos escuros, e me examinava. Seu semblante oscilava entre desconfiado e maldoso. Talvez estivesse pensando que eu estava em apuros, ou que estava encrencada. Nas duas situações, ele não poderia me ajudar.

- Como te disse, reabrimos o caso de sua amiga. Sabe por quê? - o detetive pôs seus cotovelos sobre a mesa e o esboço de um sorriso transpassou seus lábios, que ainda seguravam o charuto fedido.

- Não faço ideia. - respondi secamente, e nem tentei disfarçar.

O que tinha acontecido no dia anterior era uma amostra clara que havia alguém que estava tentando me tirar do caminho, e a minha dedução era apenas uma: Se estava incomodando, é porque estava no caminho certo. Eu só não sabia no caminho certo para o que, entretanto, estava disposta a descobrir.

- Nós recebemos uma denúncia anônima, e ficamos sabendo que essas mortes estão diretamente ligadas a vocês. - apontou um dedo grosso na minha direção – O que sabe sobre a morte de sua mãe e de sua amiga?

Quem estava armando para mim, queria me tirar de cena, queria me fazer parecer culpada ou cúmplice. Não tinha dúvidas daquilo.

- O mesmo, ou menos que o senhor, com certeza. - disse friamente.

A indagação estava óbvia no rosto dele. Fiquei imparcial. Deixei que meu rosto se transformasse em uma máscara de pedra, desprovida de qualquer emoção.

- Sei que não foi você, mas talvez você tivesse motivo para colaborar com quem fez isso – ergueu a sobrancelha -, ou, talvez tenha contratado algum assassino para sujar as mãos por você.

Contei até dez antes de abrir a boca para dar qualquer resposta a ele. Não queria passar uma noite naquela cadeia fedegosa por desacato.

- Senhor, não tenho nenhum envolvimento com a morte da minha mãe e nem da minha amiga. - levantei da cadeira e senti o suor escorrer pela minha coluna – E da próxima vez que quiser me fazer uma acusação, faça-o legalmente.

Antes de cruzar a porta, parei e olhei por cima do meu ombro, o detetive tragava o charuto com os olhos semicerrados contra mim.

- Conheço os meus direitos, detetive, então não haja como se eu fosse uma colegial burra. - bati a porta e sai daquele lugar o mais depressa que pude.

***



- O que ele queria? - Noah perguntou logo que passei pela porta de casa.

- Alguém ligou e fez uma denúncia anônima sobre eu estar envolvida com a morte da Gina e da minha mãe. - me joguei no sofá ao lado da Megan que estava cochilando, para variar.

- Isso porque eles não sabem daquele pinguim de ontem.

-Shhiu. - fiz sinal para que se calasse – Ele era mordomo, e não pinguim. E nunca mais comente nada disso, entendeu? - ele concordou – NADA aconteceu.

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