Capítulo XXV - Parte I

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 “Morremos quando não há mais ninguém por quem tenhamos vontade de viver.”

(Henry de Montherlant)



Eles entraram na sala de espera como um furacão.

A recepcionista os olhou com apreensão, mas eu lhe fiz um sinal de positivo, para que ela soubesse que estava tudo bem, antes que ela chamasse os seguranças para os colocarem para fora.

Se eu tivesse recebido um telefonema com uma notícia que se assemelhava em gênero e grau a bomba de Hiroshima, também entraria naquela recepção as pressas e com o coração na mão, como supus que eles estavam.

- Como assim, você atropelou o Jon? - Megan quase gritou, e o fato de ter um quase meassustou.

- Onde ele está? Como ele está? - Noah apertou o meu braço.

A situação era complicada. O Jon estava vivo, realmente, em carne e osso e com aqueles olhos, e no entanto, ele havia surgido na frente do meu carro e os freios não seguraram o carro, não em tempo suficiente para não jogá-lo para cima do capô. Eles me culpariam, e talvez a Megan tentasse me matar durante a noite, e sinceramente não me importava, só queria vê-lo, só queria abraçá-lo, beijá-lo e saber como ele ainda estava vivo.

- Calma. Ele está fazendo uma bateria de exames. - puxei meu braço da mão do Noah. - Parece que não houve fraturas, só algumas escoriações, mas é de praxe fazer alguns testes e constatar que ele está bem, então vamos só esperar, ok?

Nenhum dos dois pareceu satisfeito com o que eu disse, porém, não tinham mais nenhuma opção além de aguardar junto comigo.

Quase duas horas depois, um homem caucasiano e de olhos pequenos apareceu. Seu jaleco branco ia até o seu joelho, e no bolso que ficava na direção do seu coração, ele carregava um crachá escrito: Dr. Hemly. Nos levantamos abruptamente, ansiosos por qualquer notícia sobre o Jon. O doutor pareceu perceber, pois fez um sinal para que nos sentássemos outra vez, todavia, ninguém lhe obedeceu.

- Por favor, nos diga como o Jon está. - Megan sendo educada era certamente um absurdo.

- O paciente deu entrada com um ferimento na testa e algumas lesões nos braços, nada demais. Todos os exames que fizemos, apenas comprovaram o que era notório. - o doutor sorriu, e foi apenas ele – O rapaz tem uma saúde de ferro, saudável como um alazão.

Não consegui entender por que daquele sorriso que o doutor deu ter me incomodado. Minha cabeça estava tão focada no Jon que provavelmente se chovesse dinheiro, eu abriria um guarda-chuva.

Para mim tudo o que ele falava se resumia em: JON.

- Mas... - ele olhou o prontuário que estava preso em uma prancheta de acrílico transparente.

Então, eu me dei conta. O que havia me incomodado no sorriso daquele homem, era o fato de seu lábio inferior estar tremendo, enquanto gotículas minúsculas de suor brotavam em sua testa.

Ele estava mentindo, ou omitindo algo.

Senti a ira crescer no meu peito da mesma forma como são formadas as avalanches. Agarrei o homem pela gola do jaleco e o sacudi. Mesmo sabendo que aquela ação traria consequências desastrosas, eu não poderia deixar que ele escondesse nada sobre o Jon.

- Diga de uma vez, ou vai ter que se entender com esse rapaz logo atrás de mim. - fiz um sinal na direção do Noah, e o rosto do doutor esbranquiçou.

- Ele foi transferido. - disse por fim.

- Aonde? E quem fez essa maldita transferência? - dei mais uns sacolejões no homem. - Fala. - gritei tão alto que minha garganta protestou em seguida.

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