Capítulo XVI - Parte I

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 “Eu continuo me perguntando porque me preocupo quando ninguém mais se importa.”

(Charles Bukowski)





Estava maravilhada e também assustada.

- Como isso é possível? - me encostei na porta do meu quarto.

Peguei o celular e procurei por algum contato da faculdade. O celular chamou pela quinta vez quando uma voz miúda e mais aguda do que eu gostaria atendeu.

- Alô. - Christinna disse do outro lado da linha com a voz extremamente arrastada.

- Oi. Sou eu, Guilhermina, tudo bem? - era chato ter que fazer cena, mas eu não tinha uma opção.

- Ah, tá. O que quer? - Nossa! Quanta educação.

- Sei que você é uma das alunas preferidas do professor Choimg, então queria saber se tem o telefone dele. - precisava arrumar uma desculpa – É que estou com algumas dúvidas...

- Tudo bem. Anota aí.

Não gostava dessa coisa de estar sempre com meias verdades, omitindo e enganando as pessoas a minha volta, entretanto o fato de estar envolvida de tantas maneiras com alguém que tem múltiplas personalidades, me fazia reticente. Sabia o que aconteceria se eu revelasse este diagnóstico a qualquer pessoa.

- O que estou fazendo?! - digitei o número do professor Choimg e esperei. - enquanto ainda pensava se aquilo era o melhor a fazer -

Se descobrisse do distúrbio do Jon, não pensariam duas vezes antes de jogá- lo em uma clínica. Fariam centenas de testes, e sinceramente, não estava certa se concordava com todos os tipos de testes que eles proporiam.

- Alô. - Choimg disse.

- Professor, é a Guilhermina. Será que tem cinco minutos? É importante. - nem percebi que estava tão nervosa, até sentir a umidade que se formava entre minha mão e o celular.

- Do que se trata? - Choimg era um renomado psiquiatra, e tinha teses que ainda não haviam sido aceitas, por serem tão controversas. Era o homem certo.

- Hoje, vou te deixar a par do que tema acontecido e então você me diz se vai me ajudar, daí marcamos para outro dia.

Ele fez uma pausa, o que não era de se estranhar. Qualquer pessoa no lugar dele hesitaria ao receber uma ligação onde alguém lhe propõe algo suspeito e com poucas palavras. Não havia opções, Choimg só podia seguir para o desconhecido, ou retroceder para sua zona de conforto. Rezei para que fosse a primeira.

- Guilhermina, sou um psiquiatra que tenta ensinar a alguns truques para seus alunos. Saiba que sempre analiso meus alunos. - outra pausa – Você sempre se destacou, tem uma tenacidade, uma capacidade de se manter firme em uma ideia até compreende- la, até transcende- la. É uma qualidade muito boa, e é o seu pior defeito. Você não sabe quando parar.

Era um elogio?

- Então sabe que não vou desistir.

- Me encontre na segunda, após a aula. Vamos descobrir no que você se meteu. Boa noite!

- Boa noite!

Ao menos havia sido mais fácil do que imaginei. Conhecia as teses do Choimg, ele tinha umas ideias diferentes sobre a mente humana. Tinha certeza que ficaria interessado em qualquer caso que levasse até ele, só precisava instigar sua curiosidade.

Ainda tinha que sair com esse McVoy. Algo me dizia que ele era a peça chave para desvendar todos os segredos do Jon Canavarro. Tinha que ganhar a confiança dele, e sabia que não seria tão simples, o cara era uma bomba relógio, todo temperamental e agressivo.

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