Abro os olhos devagar, a claridade incomoda muito, quando finalmente consigo focar a visão em alguma coisa, percebo que não estou no hospital e nem na minha casa.É um quarto com paredes cinzas, a cama é grande e macia, tem um criado mudo branco ao lado da cama com um abajur e um livro, um guarda roupa também branco enorme, uma mesa com um notebook no canto oposto da cama e uma porta que provavelmente é onde fica o banheiro.
Me sento na cama e olho cada detalhe do quarto, o carpete marrom, os pôsteres na parede de bandas, não estou na casa do Tody, o quarto dele não é assim, então onde estou?!
— Finalmente você acordou. – Ítalo fala na porta do quarto, então estou na casa desse cara.
— O que estou fazendo aqui? – pergunto e ele se senta ao meu lado na cama, eu me afasto.
— O Tody trouxe você para cá, parece que levar você daquele jeito pra casa dele, não seria uma boa ideia. – ele fala e eu entendo, os pais do Tody iam pegar pesado se ele me levasse para casa dele no estado em que eu estava.
— Eu tenho que ir. – me levanto da cama, mas minha barriga faz um barulho alto, fome.
— Espera, você não quer comer alguma coisa primeiro? – Ítalo pergunta com um sorriso no rosto, ele tá zombando de mim?
— Não, tá tudo bem. – falo e saio do quarto, ele vem atrás de mim. Ao chegar na sala ele me para segurando pelo meu braço.
— Eu já fiz o café, vem. – ele fala e me arrasta até a cozinha, me sento a mesa e ele também. – Vamos, coma, não deve está tão ruim assim. – ele fala e começa a comer.
Eu também começo a comer, já estava ali mesmo, tomo um pouco de café com torradas, quando a campainha toca, Ítalo se levanta para atender, ao voltar para a cozinha está acompanhado de Tody.
— Iae cara, como você tá? – Tody pergunta, faço sinal de desdém com a mão, o que ele esperava? – Saquei, bom só vim avisar que a sua mãe vai ser cremada, a cerimônia tá marcada para as duas da tarde. – ele fala.
— Cremada? – pergunto.
— Sim, pode me agradecer depois, mas eu não queria que ela fosse enterrada em um cemitério municipal. – Tody fala e vejo que tenho muita sorte de ter um amigo assim.
Não falo nada, termino meu café e vou embora, grosseiro da minha parte? Sim, mas eu meio que sou assim, então não há muita o que fazer, volto pra casa com Tody, ao entrar percebo que ainda está uma bagunça, só queria entender o que aconteceu aqui pra chegar a esse ponto.
— Preparado pra arrumar isso tudo? – Tody pergunta e eu o encaro.
— Você vai ajudar? – respondo com outra pergunta e ele faz cara de tédio.
— Claro seu idiota. – ele fala e tira seu casaco, o pendurando atrás da porta.
— Não comecem sem mim. – me viro e vejo Ítalo na porta, por que ele é tão insistente?
— O que faz aqui? – pergunto mas ele não responde e se dirige para a sala e começa a recolher os objetos espalhados.
Pelo menos a bagunça estava somente no primeiro andar, varremos, limpamos e concertamos o que podia ser concertado e jogamos no lixo o que não tinha mas jeito, ao terminar nós três estávamos exaustos, Tody estava deitado no sofá, Ítalo e eu no chão, olho para o relógio e vejo que já uma da tarde.
— Vou tomar um banho. – me levanto e subo para o quarto, tiro minha camisa e a bermuda, ficando só de cueca.
— Não sabia que você era tão forte. – Ítalo fala da porta do quarto.
— Que susto caralho. Como é? O que você disse? – pergunto e pego uma toalha para me enrolar, esse cara é estranho.
— Só tô dizendo que você é bonito. – ele fala se encostando no batente da porta e cruzando os braços.
— Tá e você veio até aqui só pra dizer isso? Se for pode ir embora agora. – falo
— Não, eu só queria dizer que não poderei ir com você na cerimônia, já tenho compromisso. – ele fala desfazendo o sorrisinho do rosto, agora parece chateado, só por não poder ir? Duvido muito.
— Tanto faz. – falo e vou tomar meu banho.
Tomo um banho demorado, aproveito e penso um pouco, será que foi um surto de raiva da minha mãe que a levou cometer suicídio ou alguém fez isso com ela? E por que meu pai ainda não apareceu, a essa altura dos fatos ele já deveria estar sabendo, nem que fosse avisado pela polícia, esse é outro ponto que não entendo, o delegado falou que recebeu uma denuncia anônima reclamando de barulhos vindos daqui de casa, mas que barulhos eram esses?
— Você demorou. Já ia entrar para ter certeza de que não tinha morrido lá dentro. – Tody fala quando saio do banheiro, ele está sentado na minha cama, com as costas apoiada na parede.
— E você, o que ainda faz aqui? – pergunto e ele rir, acho que pelo tempo de amizade, ele já deve ter se acostumando com minhas grosserias.
— Como sempre, tão carinhoso. – ele fala. – Tô com preguiça de ir em casa e depois voltar, então vou tomar banho aqui mesmo, assim podemos ir juntos. – ele se levanta, pega uma toalha no guarda roupa e entra no banheiro.
Pois é, ele é folgado. Me arrumo, coloco uma camisa com capuz preta, uma calça preta e um tênis da mesma cor, posso até gostar da cor preta, mas hoje não gosto dela tanto assim, separo uma roupa para Tody e desço para espera-lo na sala, depois de uns minutos ele desce, vestindo a roupa que deixei em cima da cama para ele, que era uma camisa cinza e uma calça preta.
— Vamos? – ele pergunta, me levanto e saímos.
Minutos depois chegamos em uma funerária e fomos guiados até uma sala onde eram realizada a cremação, fizemos ali a cerimônia e durante todo tempo que passamos ali, nenhum dos dois disse nada, chorei mas uma vez silenciosamente, contendo minhas emoções, era uma sensação devastadora, saber que uma pessoa que você tanto amava nunca mas terá por perto.
Depois que a cerimônia acabou, voltamos para casa, no caminho de volta também não conversamos, Tody parecia em outro mundo e eu também, na minha cabeça vários pensamentos ao mesmo tempo e a vontade de fumar era grande, até pedi para Tody me levar até a casa abandonada, mas ele se recusou.
Ao chegar em casa, subir direto para o quarto, Tody até quis ficar, mas disse a ele que precisa de um tempo sozinho, tinha que colocar as ideias em ordem, pra decidir o que faria daqui pra frente.
Tiro minha roupa, tomo um banho e visto apenas uma cueca, deito e fico encarando o teto do quarto por horas com os pensamentos a mil, sendo que a maioria deles eram lembranças de como minha mãe era antes de virar uma alcoólatra, com isso durmo e os pesadelos novamente me atormentam a noite toda.
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Vícios (Romance gay) - CONCLUIDO.
RomanceVitor é um jovem viciado em maconha, que depois da morte da sua mãe, se verá em meio a muitos problemas, com a ajuda de seu melhor amigo Tody ele encontrará o amor da sua vida que o ajudará também a se livrar de seus vícios. Todos os direitos reserv...