Capítulo II

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— Eu trabalho dia e noite pra sustentar você e aquele moleque e você não serve nem pra fazer uma porcaria de café da manhã!! – ouço meu pai gritar do andar de baixo, provavelmente da cozinha. Ótimo eles estão brigando novamente, sempre é assim quando ele está em casa.

— Eu fiz a porcaria do café sim, você que não sabe da valor ao que eu faço. – minha mãe grita de volta e pelo seu tom de voz já tinha bebido de novo.

— Não me faça rir Rosa, olhe para isso, os ovos queimados o café está amargo e o pão é de dias atrás. – meu fala eu então decido me levantar.

Tomo um banho e escovo meus dentes, quando desço, o meu pai não está mas em casa e minha mãe está debruçada na mesa da cozinha com sua inseparável garrafa de vodca na mão, a pego no colo e a levo para o quarto, e saio em seguida.

No caminho para o posto eu vou pensando em como tudo se tornou tão cinza, as brigas, as bebedeiras, meu vício, quando foi que tudo isso começou? Não me lembro mas e a cada dia que passa vai ficando pior.

— Que cara e essa? – Tody pergunta quando entro na loja.

— O de sempre. – respondo, ela sabe de todos os problemas que enfrento e está sempre do meu lado e não julga o que faço, acho que é por isso que somos amigos.

— Eles brigaram de novo? – ele pergunta e eu só confirmo com a cabeça. – Que barra em cara. – ele fala e se apoia na caixa registradora.

— É. Mas já estou acostumado, então relaxa. – falo e me encosto na cadeira inclinando para trás.

— Esse seu jeito tranquilo me tira do sério, sabia?! – Tody fala e eu sorrio.

— Não sou tranquilo. – falo e ele revira os olhos, para quem olha de fora parece que eu encaro tudo de uma forma tranquila, mas não sabe o que se passa na minha cabeça e o turbilhão de emoções e sentimentos embolados que me enlouquecem.

— Sei. – ele fala e sai, indo para uma sala que fica nos fundos da loja onde ele observa o movimento pelas câmeras de segurança.

E como sempre, o movimento da loja foi fraco, ninguém mas quer vim em uma lojinha de posto de gasolina, principalmente em um bairro tão duvidoso quanto esse, com um viciado como atendente. Com o movimento fraco, Tody resolve fechar a loja mas cedo, para a minha infelicidade.

— Me leva na casa abandonada? – pergunto para ele quando saímos da loja, ele suspira.

— Se eu não te levar, você vai encontrar outro jeito de ir mesmo. – ele fala. – Mas com uma condição. – ele vira e aponta o dedo pra mim.

— Qual? – pergunto e abaixo a mão dele.

— Você vai só comprar e volta comigo, não gosto daquele lugar. – ele fala e eu revisei os olhos. – É pegar ou largar. – ele adverte percebendo minha insatisfação.

— Beleza, agora vamos logo. – falo e entro no carro, Tody entra e saímos.

A casa abandonada, é o lugar onde compro os cigarros de maconha, é um casarão antigo e abandonado onde vivem vários usuários que saíram de casa por causa dos seus vícios, acho que esse é o maior medo de Tody, que eu vire um zumbi que nem aqueles caras.

— Você tem cinco minutos. – Tody fala ao parar o carro na frente da casa abandonada, eu aceno com a cabeça e saio do carro.

— Olha que está aqui, meu cliente favorito. – Marcos, o traficante que me vende os cigarros fala, seus olhos vermelhos revelam que ele já deve ter tragado pelo menos uns três cigarros de maconha.

— Não tenho tempo para o seu sarcasmo, me dá logo o de sempre. – falo e jogo o dinheiro pra ele, que confere e depois guarda no bolso.

— Sempre esquentadinho comigo, assim me magoa. – ele fala e me joga dois maços de cigarros, eu reviro os olhos e lhe dou as costas. – Já sei, deve ter vindo com aquele trouxa, por isso a pressa toda. – ele fala em alto tom para que eu possa ouvir.

Sem dá muita importância para as besteiras que Marcos fala, saio da casa e vejo Tody conversando com um garoto, ele me olha e acena, depois bate com os dedos no relógio pra dizer que eu demorei, lhe mostro o dedo do meio e ele rir.

— Quem é você? – pergunto quando chego perto dos dois, 0 garoto me olha e eu como de costume evito contato visual, mas ele continua a procurar meus olhos.

— Ele só tá meio perdido, parece que acabou de se mudar para cidade. – Tody fala.

— Não perguntei pra você o que ele estava fazendo ou se estava perdido, perguntei pra ele, quem ele é. – falo e Tody me dá um soco no braço.

— Me chamo Ítalo, é um prazer. – o garoto fala e estende a mão, mas eu apenas a olho e depois viro a cabeça para meu amigo.

— Já podemos ir? Você disse cinco minutos. – pergunto a Tody e ele passa as mãos no rosto.

— Cara, como você pode ser tão ignorante desse jeito. – Tody fala e se vira para o garoto ao meu lado. – Foi mal pela grosseria do meu amigo, você quer uma carona? – ele pergunta.

Ele é moreno, com cabelos castanhos e olhos verdes, um pouco mas alto que eu, deve ter uns 1,80 de altura, mas parece bem novo, talvez uns 18 anos, forte, com um corpo bem definido e com cara de turista rico, se não tomar cuidado vai se dá muito mal por aqui.

— Tudo bem, eu posso pegar um táxi. – o garoto fala eu solto um sorriso que o faz me encarar, então eu logo me contenho.

— Boa sorte. – falo e ele fica sem entender.

— Cara, é impossível você conseguir um táxi por aqui. – Tody fala.

— Porque? – Ítalo pergunta.

— Aqui é um bairro perigoso, táxi aqui não entra sem permissão. – falo e ele me olha notando os cigarros na minha mão, eu guardo.

Depois de muita insistência de Tody, o tal do Ítalo aceita a carona, as vezes esse jeito prestativo do Tody me tira do sério, pra que ser gentil com todo mundo o tempo todo?

— Então, onde você tá morando? – Tody pergunta ao cara sentado no banco de trás do carro.

— Na rua... Marechal Rondon. – ele fala ao retirar um pedaço de papel do bolso. Só pode ser brincadeira.

— Olha que maravilha, é pra lá que estamos indo. – Tody fala e eu suspiro.

— Sério?! – Ítalo pergunta surpreso.

— Sim, o Vitor mora nessa rua também e eu duas quadras depois. – Tody fala e eu o olho com cara de que ele falou coisas desnecessárias.

Depois de um tempo, Tody estaciona na frente da minha casa, mas do outro lado da rua, saio e quando ele já vai saindo com o carro novamente, Ítalo salta do banco de trás.

— Espera, eu fico aqui também. – ele fala com um sorriso no rosto.

— Tem certeza? – Tody pergunta e ele acena com a cabeça. – Beleza, não maltrata ele. – Tody fala apontando para mim e eu faço cara de ofendido.

— Então, tchau, foi um prazer te conhecer. – Ítalo fala e eu me limito a um aceno de cabeça, ele sai andando e entra em uma casa que estava pra alugar perto da minha.

Atravesso a rua indo em direção a minha casa, já está no finalzinho da tarde, tenho certeza que meu pai não volta hoje pra casa, por causa da briga de hoje de manhã e minha mãe deve está em algum canto da casa bêbada abraçada com a sua melhor amiga, a garrafa de vodca, mas ao abrir a porta me deparo com a pior cena que já vi.

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