Estou em uma sala cheia de espelhos, a única luz presente do lugar é da lua, que é possível por causa do teto de vidro, estou parado no meio da sala, olhando meu reflexo em cada espelho, mas parece que em cada um, meu reflexo é diferente, não sei explicar só parece diferente.De repente, um a um dos espelhos, começam a quebrar em milhares de pedaços, ouço uma risada vindo de algum lugar, mas não sei bem onde, o teto também se quebra e eu coloco meus braços em cima da cabeça e me abaixo em posição fetal, sinto cacos de vidros entrarem no meu corpo e sinto uma dor alucinante, abro os olhos e estou no chão ao lado da minha cama, tudo isso não passou de um pesadelo.
Me levanto devagar, apesar de ter tido apenas um pesadelo, a dor no meu corpo parece real, vou até o banheiro e lavo o rosto, me olho no espelho e o meu rosto está um desastre, escovo os dentes e tomo um banho, saio de casa e encontro o que parece ser um carma na minha vida.
— Bom dia. – Ítalo fala, ele está diferente hoje, muito bem vestido, com uma camisa social branca, com as mangas dobradas até os cotovelos, uma calça jeans preta e um tênis cinza, não é por nada não, mas até que ele está bonito assim.
Sigo meu caminho, claramente o ignorando, mas como uma pessoas insistente que ele é, vem atrás de mim. Ele não para de falar um segundo desde o momento em que nos encontramos, existe uma pessoa tão falante assim, ou é mas um pesadelo?
— Então foi aí que decidir me mudar pra ter um pouco de independência, mas minha tia me liga toda noite. – ele termina sua história mas eu não prestei atenção nem um pouco, paro em frente ao posto e ele fica sem entender.
— Eu fico por aqui. – falo e ando em direção a loja.
— Você vai comprar alguma coisa? – ele pergunta me acompanhando.
— Não, eu trabalho aqui. – falo e entro na loja, Tody está no balcão do caixa, ao me olhar faz cara de espanto.
— O que você faz aqui cara? Não precisava vim, mano. – Tody fala, mas eu nego com a cabeça. – Ah, iai meu chapa. – ele cumprimenta Ítalo.
— Você sabe que eu não aguentaria ficar em casa. – falo e ele acena concordando.
— Você também trabalha aqui Tody? – Ítalo pergunta.
— Digamos que sim, sou o dono. – Tody responde, sentir um tom de orgulho vindo dessa frase dele.
- Ah, legal. – Ítalo fala. – Vou dá uma olhada então. – ele sai pela loja, olhando as prateleiras.
Vou para o caixa, depois de quase meia hora Ítalo finalmente acaba as suas “comprinhas” e vai embora, na verdade, eu não tenho nada contra ele, ele até parece uma pessoa legal, mas é muito elétrico e eu não tenho energia o suficiente para acompanhá-lo, só de vê-lo todo feliz contando suas histórias me sinto cansado, digamos que sou um jovem, com estado de espírito de um idoso, talvez até um idoso tenha mas energia que eu pra viver.
O dia passou tão devagar, parecia que as horas estavam contra mim, uma verdadeira tortura, quando deu cinco da tarde não esperei Tody me liberar, fui embora direto pra casa abandonada, precisava de um cigarro urgente, ao chegar lá encontro Marcos como de costume, ele está sentado em uma poltrona de couro velha, acho que estava se sentindo um rei, coitado.
— Minha princesinha voltou, já estava com saudades. – ele fala com seu sarcasmo hipócrita.
— Me poupe das suas idiotices e me dá logo o que eu quero. – curto e grosso como sempre sou, entrego o dinheiro e ele me dá os maços de cigarros.
— Essa sua grosseria pode levar você a consequências desastrosas meu querido, fica ligado. – ele fala sério, mas depois começa a rir, provavelmente pela minha cara de medo.
Marcos é um dos maiores traficantes da cidade, ele comanda vários bairros e tem uma demanda muito grande, me lembro que quando me viciei, ele vinha aqui de vez em quando, mas depois que eu vinha periodicamente comprar drogas, ele mudou seu “QG”, como ele chama, pra cá.
Alguns de seus subordinados já me disseram que ele gosta de mim pelo meu temperamento e que algum dia vai me fazer ser seu sucessor ou algo do tipo, apesar de ser um viciado, não tenho muita certeza que quero isso pro resto da vida, quem sabe um dia eu consiga largar, mas por enquanto, vamos deixar do jeito que estar.
Saio da casa abandonada ao som das risadas de Marcos e seus capangas, ando sem rumo pela cidade novamente fumando um cigarro atrás do outro, chego então a mesma praça de dias atrás, já é noite e há poucas pessoas, as luzes dos postes dá um ar de melancolia ao ambiente.
Me sento em um banco qualquer da praça e como da última vez, fico ali observando as pessoas, algumas felizes e outras fingindo serem, levanto minha cabeça e há muitas estrelas no céu, cada uma com um brilho diferente, isso me fez lembrar do meu sonho e dos espelhos.
— São lindas, não são? – ouço uma voz familiar, olho para o lado e confirmo minhas suspeitas, Ítalo.
— É. – falo, ele olha para o cigarro na minha mão e depois pra mim, ele pega o cigarro e apaga. – Tá ficando maluco?! – falo em alto tom chamando a atenção de algumas pessoas que estavam perto.
— Fumar faz mal pra saúde. – ele fala dando de ombros e olhando para frente, isso me pareceu familiar.
— Eu sei. – falo, tento acender outro cigarro mas ele o pega novamente. – Ah cara, para de ser chato, que porra. – falo já perdendo a paciência.
— Se você sabe que fumar faz mal pra saúde, por que continua a fazer o que te faz mal? – ele pergunta.
— Por que eu quero, tá legal. – falo e ele me olha, pela primeira vez o encaro, percebo que seus olhos tem um tom de verde meio azulado.
Ele me olha, com uma expressão que não dá pra saber o que está pensando, seu olhar parece me analisar, não só por fora, mas por dentro também, com apenas um olhar ele parece ser capaz de encontrar todos os meus monstros que estão trancados dentro de mim.
— Tio, tio, tio... – saímos do transe com alguém o chamando, olho para quem se trata e vejo a mesma garotinha que encontrei aqui dias atrás.
— Ah, oi Maria, o que houve? – Ítalo pergunta a garotinha, que hoje está usando um lindo vestido amarelo.
— A mamãe já está indo embora. – ela fala e se vira pra mim. – Oi de novo moço. – ela fala sorrindo pra mim.
— Ah, Olá. – falo meio sem graça, não esperava que ela me reconhece.
— Vocês se conhecem? – Ítalo pergunta com uma cara de bobo que faz Maria rir.
— Talvez. – ela fala e pisca pra mim, sorrio, Ítalo olha pra mim e eu levanto minhas mãos em sinal de rendição e nego com a cabeça, Maria cai na gargalhada.
— Então, ela é sua sobrinha? – pergunto mudando o foco da conversa.
— Sim. – ele fala e coloca a menininha no colo.
— Vamos Ítalo, já está quase na hora do jantar. – uma mulher aparece, ele parecia muito com Ítalo, só mudando a cor dos cabelos, os dela era loiros.
— Você quer jantar com a gente? – ele me pergunta, olho para Maria que juntas as mãozinhas e faz bico.
— Não, obrigada. – falo e a garotinha faz cara de triste, umas pena, mas não caio em chantagens emocionais, me levanto e olho cada um dos três rapidamente. – Tenham uma boa noite, tenho que ir. – falo e não espero resposta, me viro saiu andando.
Acho que já devem ter percebido, mas eu sou meio ante social, a única pessoa que consigo me comunicar com facilidade é o Tody, que por falar nele, tem enchido meu celular de mensagens, talvez o responda quando chegar em casa.
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Vícios (Romance gay) - CONCLUIDO.
RomanceVitor é um jovem viciado em maconha, que depois da morte da sua mãe, se verá em meio a muitos problemas, com a ajuda de seu melhor amigo Tody ele encontrará o amor da sua vida que o ajudará também a se livrar de seus vícios. Todos os direitos reserv...